Endurance é encontrado na Antártica, após 107 anos

Naufragado em novembro de 1915, o navio Endurance, conhecido pela histórica (e frustrada) expedição comandada pelo irlandês Ernest Shackleton, entre 1914 e 1916, foi encontrado no último sábado, 5 de março, na Antártica.

Após mais de duas semanas de buscas, a complexa operação, um dos mais ambiciosos projetos de transmissão de dados na região, localizou o naufrágio intacto e na vertical, a 3.008 metros de profundidade, no mar de Weddell, no oceano antártico.

Um dos registros mais impactantes da descoberta é o nome do Endurance que pode ser visto, claramente, na popa abaixo da grinalda, corrimão em torno da área do convés, e sobre uma estrela de cinco pontas.

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foto: FMHT e National Geographic Caption

“De longe, este é o melhor naufrágio de madeira que eu já vi”, descreveu Mensun Bound, Diretor de Exploração da expedição Endurance22, que dedicou o achado a Frank Worsley, capitão da expedição original, cujos detalhados registros da época foram inestimáveis para encontrar o famoso navio comandado por Shackleton.

A busca do naufrágio mais desafiador da História foi organizada e financiada pela Falklands Maritime Heritage Trust (FMHT), que saiu da Cidade do Cabo, na África do Sul, no último dia 5 de fevereiro, em direção à Antártica.

Inicialmente programado para uma viagem de 35 dias, o projeto foi realizado a bordo do quebra-gelo SA Agulhas II, um potente navio polar de 134 metros, construído na Finlândia e capaz de forçar a passagem em blocos de gelo de até um metro de espessura.

Embora as pesquisas continuem, nada será tocado ou retirado desse Sítio Histórico e Monumento, de acordo com o Tratado da Antártica.

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SAIBA MAIS: “Expedição sai em busca do naufrágio ‘Endurance’ de Ernest Shackleton”

De acordo com John Shears, Líder de Expedição, a descoberta do Endurance é um marco na história polar e de um alcance sem precedentes, com transmissão ao vivo a bordo.

“Que novas gerações de todo o mundo se envolvam com o Endurance22 e se inspirem nas incríveis histórias da exploração polar”, declarou Shears, em nota divulgada no site do projeto.

Para garantir o desafio, foram usados Veículos Submarinos Autônomos (AUVs) construídos na Suécia, exclusivamente, para a missão de 2022.

Chamados de Sabertooths, esses robôs aquáticos são equipados com câmeras de alta definição e sonar de varredura lateral, capazes de enviar à superfície informações captadas a até quatro mil metros de profundidade, em tempo real.

Sabertooth (foto: SAAB/Divulgação)

A Expedição Transantártica Imperial
A bordo do Endurance, navio a vapor feito exclusivamente para travessias polares, Ernest Shackleton pretendia, pela primeira vez na história da humanidade, cruzar o continente de ponta a ponta, entre o mar de Weddell e o Polo Sul.

Aquela seria considerada a última grande viagem da Era dos Descobrimentos.

A viagem começou em Londres no 1º de agosto de 1914 e o último porto seguro da expedição foi na Geórgia do Sul, ilha britânica ultramarina, entre as Malvinas e Sandwich do Sul, no Atlântico.

Dali, a viagem foi sendo alterada por imensos blocos compactos de gelo de mais de 60 metros de altura que começaram a reduzir a velocidade do Endurance.

No dia 20 de janeiro do ano seguinte, o Endurance estava completamente impedido de seguir por conta da massa de gelo densa que deteve a embarcação.


Em plena Primeira Guerra Mundial, não se esperavam heróis que não fossem os que estivessem no combate. Mas no extremo sul do planeta, a apenas 160 km da Antártica, 28 homens lutavam pela vida.

Após abandonarem o navio, o grupo de 28 homens a bordo seguiu por terra e em improvisadas embarcações até conseguirem ajuda na Geórgia do Sul, onde parte da tripulação chegou ao Porto de Stromness, no dia 20 de maio de 1916, quase dois anos depois do Endurance deixar a Inglaterra.

As incríveis imagens de Frank Hurley na Antártica
A ordem de abandonar o navio ainda não tinha sido dada por Shackleton quando, no final de agosto de 1915, Hurley fazia as famosas e fantasmagóricas fotos noturnas do Endurance.

Para isso, espalhou cerca de 20 lâmpadas de flash por trás dos blocos de gelo, a uma temperatura externa de -32°. Segundo depoimento de Hurley em suas anotações, o fotógrafo sairia tropeçando na imensidão gelada com aqueles “clarões sucessivos”.

Assim que Shackleton se deu conta de que a luta contra o gelo estava perdida e ordenou que o navio fosse abandonado, Hurley, assim como toda a tripulação, começou a avaliar o que deveria ser descartado e o que seguiria na bagagem a ser levada nos trenós.

Vista noturna do Endurance, no Mar de Wedell (foto: Domínio Público)

No caso do fotógrafo, cerca de 400 negativos seriam deixados para trás. Com apenas 120 imagens, Hurley lamentava a “triste redução”, a fim de evitar peso nos deslocamentos seguintes.

No Acampamento Oceânico, uma das bases improvisadas sobre banquisas de gelo, o fotógrafo fez as últimas imagens com equipamento profissional, em novembro de 1915.

Com as condições adversas que viriam pela frente, o fotógrafo teria que se contentar com uma Kodak de bolso e apenas três rolos de filme.

SAIBA MAIS: “Veja as incríveis imagens de Frank Hurley na Antártica”

13 Comentários

  1. Uma das histórias mais fantásticas de superação, achado tão ou mais importante que o do Titanic, pelas circunstâncias envolvidas, equipe merece uma comenda internacional, incrível.

  2. Que espetáculo. Para mim, toda literatura relacionada a sheckleton é perfeita. Meu preferido é a Incrível viagem de sheckleton.
    A história desse grande líder ainda não chegou ao fim.

  3. Pessimamente escrito, uma vergonha. Como shackelton ia atravessar do mar de weddel ao polo sul no endurance? Ele não ia. Ele ia desembarcar e ir de trenó. Então o que aconteceu com o Endurance? E com shackelton?

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