“Viajar é sobretudo um modo de estar”
José Saramago (1922 – 2010)
Quando recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998, o escritor português José Saramago ganhou também o mundo.
Acompanhado da esposa Pilar del Río, o escritor português rodou os cinco continentes, participando de congressos e recebendo títulos acadêmicos.
Mas seu mundo repousava sereno n’A Casa, como é conhecida a residência do casal no município de Tías, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias.

Durante uma conferência em Tenerife, em maio de 1991, José e Pilar aproveitaram a viagem para visitar os cunhados María del Río e Javier Perez, que já moravam naquela ilha espanhola.
Apaixonados por aquele cenário de traços surreais, Pilar teria perguntado a Saramago com a intenção de fincar raízes por ali:
– Nosso futuro passa por Lanzarote, José?, perguntou a esposa.
Não só passava como também foi ali que o escritor deu vida a obras como “Ensaio sobre a cegueira” e “A viagem do Elefante”.
CONHEÇA A CASA DE SARAMAGO
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A Casa
O interfone branco da casa de José Saramago e Pilar del Río nunca funcionou muito bem, o que algumas dezenas de vezes obrigou o próprio Prêmio Nobel da Literatura a se dirigir à porta para saber quem insistia em tocar a campainha.
Não raro, o visitante desconhecido do lado de fora – um fã em busca de uma dedicatória ou alguém para trocar palavras – era convidado para entrar e tomar um típico café português na cozinha com vista para o mar de Puerto del Carmen, nas Ilhas Canárias.
Doze anos depois da morte de Saramago, em 2010, o clima hospitaleiro permanece inalterado naquela construção branca que se destaca na paisagem vulcânica dessa ilha espanhola, a 140 km da costa da África e a mil da Península Ibérica.

Em 2015, o Viagem em Pauta esteve nas Ilhas Canárias e visitou ‘A Casa’, como o local é conhecido, e foi recebido por Juanjo, filho de Pilar del Río, esposa de Saramago.
Está tudo lado lá, como se o escritor estivesse para chegar a qualquer momento, naquela casa que emprestou seus cômodos para abrigar um museu que até hoje serve como residência.
E a gente nunca sabe se está em uma casa que virou museu ou se é um museu com alma de casa.
O relógio da sala sempre marca 16h, horário em que o escritor conheceu sua esposa Pilar del Río; o computador onde escreveU clássicos da literatura segue sobre a mesa de madeira da biblioteca; e o café continua sendo preparado na cozinha para o visitante recém-chegado.
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Localizada no município de Tías, em Lanzarote, ‘A Casa’ foi a residência em que o casal dividiu espaço com os cunhados de Pilar, por 18 anos, e local onde Saramago escreveu obras como “Ensaio sobre a cegueira” e “A viagem do Elefante”.
Durante uma conferência em Tenerife, em maio de 1991, José e Pilar aproveitaram a viagem para visitar os cunhados María del Río e Javier Perez, que já moravam nessa ilha de 845 km² de extensão. Apaixonados por aquele cenário de traços surreais, Pilar teria perguntado a Saramago com a intenção de fincar raízes por ali:
– Nosso futuro passa por Lanzarote, José?
Não só o futuro, como também o presente e o passado.
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A visita guiada de uma hora pelos cômodos da casa, transformada em museu em 2011, é como uma experiência literária ao vivo, em que os textos escritos por Pilar para o áudio guia vão sussurrando detalhes das vidas profissional e pessoal de Saramago.
Assim como em sua obra, de textos marcados pela oralidade e pela pontuação nada convencional, a visita surpreende. Sobretudo quando o guia que abre a porta da casa é Juanjo, o filho de Pilar del Río que na época também trabalhava no museu.
E a cada ambiente que se visita, Saramago parece voltar a viver como uma viagem que sempre recomeça, assim como a vida, segundo texto do próprio escritor, na obra ‘Viagem a Portugal’.

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Biblioteca
Um dos espaços mais impactantes dessa ‘casa feita de livros’, como Saramago definia a residência, esse ambiente tem um acervo de 16 mil livros, além de objetos como o computador usado pelo escritor e um quadro do pintor checo Jiri Dokoupil, em que o casal é retratado em desenhos feitos com fumaça de vela.
Nessa espécie de exposição de livros, é possível ver obras com dedicatórias de escritores como Gabriel García Márquez e Eduardo Galeano, e uma estante só com títulos escritos por mulheres, um pedido feito pela própria Pilar, para quem “elas têm seu espaço, nas bibliotecas”.
A rotina do escritor no local era se sentar na mesa em frente, todas as manhãs, para ouvir música e retomar os escritos do dia anterior.

Sala
Local de descanso de Saramago, esse ambiente se destaca pelos diversos quadros pintados que retratam personagens dos livros do Prêmio Nobel, como as obras de Oscar Niemeyer e Carybé.
Essa sala possui vista para o jardim e o mar, que Saramago costumava chamar de “a melhor obra”. Era o lugar para estar, ter estado e seguir estando.
Escritório
O local onde Saramago escreveu “Ensaio sobre a cegueira” e os “Cadernos de Lanzarote” abriga dicionários, fotografias de familiares como as de seus avós e de sua única filha, coleções de tinteiros, canetas e corta-papéis, e uma cópia do Prêmio Nobel de Literatura.
Dado a Saramago, em 1998, o prêmio foi recebido no mesmo dia da comemoração dos 50 anos da Declaração dos Direitos Humanos e o original se encontra, atualmente, na Biblioteca Nacional de Portugal.

Quarto
Foi no quarto do casal que, no dia 18 de junho de 2010, José Saramago “deixou que a vida o fosse deixando ou se foi deixando ir da vida”, segundo descrição sobre esse cômodo da casa.
O local abriga livros, fotografias e gravuras adquiridas em um antiquário de Budapeste.
Galeria
Nem só com livros se faz a casa de Saramago e Pilar.
Objetos feitos com materiais da ilha como o tapete de pedra vulcânica que Saramago cuidava, pessoalmente, uma gravura de César Manrique e arte portuguesa do século 17 são algumas das peças expostas nessa sala.
Destaques para a coleção de cavalos, uma das paixões de Saramago, sobre um móvel Art Déco (que passou a receber elefantes, após o lançamento do livro “A viagem do Elefante”) e o relógio que, assim como todos os outros da casa, marca quatro da tarde.

Cozinha
Esse é o ambiente mais socializador de toda a residência, onde os guias preparam um típico café português para os visitantes, hábito mantido desde a época em que Saramago passava algumas horas do dia no local.
Com vista para o jardim e até hoje local de almoço da família, a cozinha já recebeu nomes como Bernardo Bertolucci, Carlos Fuentes, Eduardo Galeano, Marisa Paredes, Pedro Almodóvar, José Luis Rodríguez Zapatero e Sebastião Salgado, quem espalhou fotos de trabalhos no mundo e para quem Saramago escreveria o texto que havia sido pedido pelo fotógrafo brasileiro.
Uma das lembranças de Juanjo são as tardes de churrasco no jardim e as longas refeições na mesa da cozinha.
Jardim
Essa é a área externa que Saramago costumava se sentar para “sentir o vento, saber-se vivo, olhar o mar (…) pensar que o mundo pode ter remédio”.
Do local é possível avistar o Maciço de los Ajaches, área vulcânica de 7,5 km, no sul da ilha, e árvores plantadas como palmeiras, oliveiras portuguesas e andaluzas e uma romãzeira de Granada.
Hoje em dia, o interfone do lado de fora já não tem função (pelo menos enquanto o museu se encontra de portas abertas), mas a gente continua achando que José Saramago ainda vai atender à porta.

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SAIBA MAIS
A Casa
De segunda a sexta, das 10h às 13:30h; quinta, das 10 às 13:30h e das 16h às 17:30; fechado aos sábados e domingos.
ingresso: 8 €
acasajosesaramago.com
Faltou uma foto do mar que Saramago tanto admirava! Como eu gostaria de conhecer essa casa!!!!