FORDLÂNDIA

5 erros da Ford na Amazônia

Com a crise mundial da indústria automobilística e a chegada da pandemia de coronavírus, a Ford anunciou em 2021 o fechamento das plantas de Taubaté (SP), Camaçari (BA) e Horizonte (CE).

Mas não é a primeira vez que essa empresa com sede no Michigan (EUA) abandona um projeto de negócios no Brasil.

HENRY FORD

O empresário revolucionou a indústria automobilística com sua inovadora produção industrial, em 1913, mas não conseguiu domar a floresta amazônica.

Para produzir o próprio látex para suas fábricas nos Estados Unidos, o empresário investiu milhares de dólares na criação da Fordlândia, cidade empresa no Pará.

A empresa esteve na Amazônia, entre 1927 e 1945. Primeiro em Fordlândia, em Aveiro; e logo, em Belterra.

Confira 5 erros da Ford na Amazônia

Em 1876, o botânico Henry Wickham contrabandeou 70 mil seringueiras, perto da futura Fordlândia, que seriam transformadas em mudas e abririam a concorrência do látex na Ásia.

1. Contrabando de sementes

O contrabando não só prejudicaria Fordlândia, 50 anos depois, mas também seria conhecido com um dos maiores casos de biopirataria do mundo amazônico.

Após cinco anos de investimentos, a empresa ainda não havia contratado ninguém que orientasse os estrangeiros na plantação de seringueiras na Amazônia.

2. Não contratou especialistas

Apenas em 1933, a cidade teria ajuda científica do botânico James Weir, que no ano seguinte sugeriria a transferência da empresa para mais de 100 km dali, em Belterra.

“Depois de seis anos e US$ 7 milhões, a Ford decididiu ouvir os conselhos de um especialista, mesmo que isso significasse começar de novo.”

Greg Grandin biógrafo

Um dos erros mais graves foi o pouco espaçamento deixado entre as árvores, desconsiderando que a matemática da linha de produção não serve na Amazônia.

3. Árvores não são carros

Próximas uma das outras, as seringueiras estavam fadadas a ataques de pragas ou insetos.

Greg Grandin biógrafo

Ford tratava máquinas como seres vivos; na Amazônia, esperava que seus homens tratassem seres vivos (as seringueiras) como máquinas."

Ford estabeleceu uma rotina que desconsiderava por completo a cultura local, como o uso de soja, hambúrguer e arroz integral nas refeições dos funcionários brasileiros.

4. Choque cultural

O lazer proposto pela Ford, sob Lei Seca, incluía ainda atividades como recitais de poesia e sessões de documentários sobre a África e o parque Yellowstone.

Em quase duas décadas e com um investimento na casa dos milhões de dólares, a Ford era responsável pelo fornecimento de menos de 1% da produção mundial de látex, “uma gota no balde”.

5. Insistência

Por outro lado, a cidade modelo em plena selva chegou a contar com hospital, escolas, eletricidade, água encanada, projetor de cinema e salão de baile.

Em 1945, a empresa venderia as terras de Fordlândia e Belterra ao governo brasileiro por um valor, infinitamente, mais baixo do que valiam.

Publicada no Brasil pela editora Rocco, esta é uma das biografias sobre Fordlândia mais conhecidas.

Fordlândia pesquisa e texto: Eduardo Vessoni fotos: Wikimedia Commons / Pixabay / The Henry Ford / Divulgação / Eduardo Vessoni