Acidente aéreo nos Andes completa 50 anos

Reprodução/Roy Harley

A viagem no turboélice bimotor Fairchild, entre Montevidéu e Santiago, seria de três horas. Mas os passageiros sobreviventes só voltariam para casa mais de dois meses depois.

Museo Andes 1972

Após decolar da capital uruguaia com 40 passageiros e 5 tripulantes, o jato da Força Aérea do Uruguai perdeu velocidade e se chocou contra montanhas andinas, partindo-se em dois.

Mauricio Guerra

A aeronave tinha sido fretada para levar jovens jogadores de rugby do Old Christianss Rugby Club do colégio Stella Maris, escola em Carrasco, bairro de classe média alta em Montevidéu.

sobreviventes dos Andes

Aos pés das serras de San Hilario, entre os vulcões Tinguiririca e Sosneado, a quase 4 mil metros de altitude, o F571 caiu no dia 13 de outubro de 1972, às 15h30, no Valle de las Lágrimas, no meio da imensidão andina.

Mauricio Guerra

Dos 45 passageiros, apenas 16 sobreviveram. Foram 72 dias sem banho nem troca de roupa, a espera de um resgate que nunca parecia chegar.

Nos dias seguintes, os sobreviventes dormiriam não só com esperança, mas também ao lado da morte.

Reprodução/Roy Harley

A pouca comida que tinham eram bolachas, chocolates e conservas. De sobremesa, pasta de dente.

Mauricio Guerra

Para sobreviverem, beberam gelo derretido feito em um funil improvisado numa chapa metálica. As poltronas retorcidas aqueciam os sobreviventes e uma porta do avião era a única proteção térmica.

Mauricio Guerra

As temperaturas externas chegavam a -30 °C e, dentro da fuselagem, os sobreviventes cochilavam ou dormiam abraçados, em intervalos curtos para evitar seu congelamento.

Mauricio Guerra

Dez dias depois, as buscas estavam suspensas e aqueles jovens cheios de vida tiveram que fazer de tudo para sair dali. Nem que para isso fosse preciso se alimentar da própria espécie.

No oitavo dia, já sem esperanças de resgate, começou-se a cogitar a ideia de se alimentarem dos passageiros mortos.

Os primeiros cortes nos corpos eram feitos com cacos de vidros na pele endurecida pelo gelo.

Nesse potente livro de relatos, o escritor uruguaio Pablo Vierci lembra que os corpos usados como alimentos não eram identificados, a fim de evitar se alimentarem de algum parente ou conhecido.

Em dezembro, depois de diversas tentativas, uma comitiva foi montada com três dos jovens com melhor preparo físico para tentarem, mais uma vez, encontrar ajuda.

Mauricio Guerra

Para percorrer 60 km, Roberto Canessa, Fernando Parrado e Antonio Vizinti levaram 10 dias. Nesta foto, Gustavo Zerbino (centro) refaz a travessia do Valle de Las Lágrimas, em 2022.

Arquivo Pessoal

No último dia, já sem Vizinti, que decidiu voltar, Canessa e Parrado encontraram Sergio Catalán, em Los Maitenes, em Colchagua. Mas o som da água do rio que os separava impediu que o tropeiro ouvisse o pedido de socorro.

Domínio Público

Sergio então amarrou um papel e um lápis em um barbante preso a uma pedra e lançou aquele pedaço de esperança em direção à outra margem do rio, onde Fernando escreveu:

Domínio Público

Fernando Parrado

Venho de um avião que caiu nas montanhas.  Sou uruguaio. Estamos caminhando há cerca de dez dias. Outros catorze permanecem no avião. Também estão feridos.  Não têm o que comer e não podem sair nem andar. Por favor, venha nos buscar".

O resgate de helicóptero começaria no dia 22 de dezembro, feito em dois dias diferentes por conta do mau humor dos Andes.

JP Laffont/Reprodução)

Atualmente, uma cruz de ferro repousa sobre os destroços do avião e os restos mortais dos passageiros, no Valle de Las Lágrimas, no Chile.

Mauricio Guerra

Localizado em Montevidéu,o Museo Andes 1972 é hoje uma emocionante homenagem com fotografias, objetos originais e painéis com detalhes do acidente nos Andes.

Museo Andes 1972

Esse espaço de 400 m² guarda também uma estátua dedicada ao tropeiro Sergio Catalán, que encontrou os sobreviventes e pediu ajuda.

Museo Andes 1972

Para o diretor do museu, Jörg Paul A. Thomsen, “não são apenas objetos e fotografias". É uma homenagem às famílias que perderam seus entes queridos, “que ainda estão vivos em nós”.

Museo Andes 1972

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Eduardo Vessoni

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