Conheça Juanita, a múmia em melhor estado de conservação dos Andes, no Peru

Das montanhas viemos, para lá voltaremos. Foi essa crença andina que ajudou na conservação de um dos corpos congelados mais importantes do mundo: Juanita, “a dama do gelo”.

Encontrada intacta, no sul do Peru, em 1995, a jovem andina teria 14 anos, aproximadamente, quando participou de um ritual de sacrifício humano que a oferecia ao Apu Ampato. E foram, justamente, as baixas temperaturas no topo desse vulcão sagrado, a 80 km de Arequipa, que preservaram os restos mortais dessa jovem que teria nascido entre os anos 1440 e 1450 d.C.

O corpo, em perfeito estado de preservação por mais de cinco séculos, foi encontrado a mais de 6.300 metros de altitude e a uma temperatura de 20° negativos, após a erupção do vulcão Sabancaya estremecer as estruturas das montanhas vizinhas.

foto: Eduardo Vessoni

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Atualmente, Juanita está exposta ao público em uma urna de vidro no Museo Santuarios Andinos, em Arequipa, a uma temperatura de -19ºC que garante a preservação de seu corpo.

Segundo a Universidad Católica de Santa María, onde o achado arqueológico se encontra, Juanita é considerada um dos 10 descobrimentos arqueológicos mais importantes do século passado. Tão importante que só pode ser vista de maio a dezembro, quando a múmia é retirada para um período de preservação. Em seu lugar ficam expostos os restos de outro corpo congelado, o da Sarita.

A múmia faz parte do projeto Santuarios de Altura del Sur Andino, dirigido pelos doutores Johan Reinhard, quem encontrou Juanita, e José Chávez Chávez. Desde 1980, encabeçam expedições nas montanhas do sul do Peru e da Argentina, cujos trabalhos resultaram no encontro de 18 corpos.


O que se sabe sobre Juanita
Exames em laboratórios de Baltimore, nos Estados Unidos, um complexo sistema computadorizado de tomografias e raio-X tridimensionais, indicaram que a bela Juanita media cerca de 1,40m e gozava de boa saúde, com ossos e arcadas fortes e saudáveis.

Exames no estômago mostraram também que, oito horas antes de sua morte, a jovem teria consumido chicha (bebida fermentada feita com milho) e vegetais, como folhas de coca.

Entre as conclusões mais precisas dos estudos, estão a de que Juanita era parente próxima de membros da tribo panamenha Gnobe e suas origens estão relacionadas com a Ásia, por conta da migração na América do Sul.

Sandálias encontradas com os restos mortais de Juanita e, pelo tamanho menor, acredita-se ser para uso na sua reencarnação (foto: Eduardo Vessoni)

De joelhos e adormecida, a Dama do Gelo foi golpeada na cabeça por uma macana da madeira (espécie de arma de guerra), o que lhe garantiria uma grande fissura no crânio e uma hemorragia interna.

Após um jejum de um dia, Juanita teria sido sacrificada para acalmar a fúria do apu (divindade) Ampato, o deus dos tremores. O sacrifício seria para pedir a Wiracocha o fim das atividades vulcânicas na região.

A escolha da jovem seria por conta de sua beleza e da boa saúde que gozava.


Mas Juanita tem muita mais para nos contar. Junto com ela foram encontrados utensílios como sandálias, túnicas de lãs de alpaca e brinquedos para a longa viagem ao mundo superior dos incas.

Assim como explica o próprio Museo Santuarios Andinos, os sacrifícios humanos eram uma forma de mostrar respeito e agradar seus deuses, entregando seus corpos como oferenda. Ainda segundo a universidade que mantém o local, a prática acontecia apenas em eventos importantes da vida do imperador inca, para acabar com alguma doença ou evitar flagelos naturais, como epidemias, terremotos e erupções vulcânicas.

As oito salas de exposições do museu trazem também ao público exemplares de oferendas e cerâmicas incas, estatuetas e tecidos de mais de 500 anos.

Bolsas (‘chuspas’) encontradas com Juanita (foto: Eduardo Vessoni)

SAIBA MAIS

Museo Santuarios Andinos

Calle La Merced, 110 (Arequipa/Peru)

De 3ª a sábado, das 9h às 18h/ domingos, das 9h às 14h

entrada: 25 soles (cerca de R$ 33,50)

www.ucsm.edu.pe


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