Família Schurmann e o isolamento a bordo de um veleiro, nas Malvinas

Há quase 40 anos, viver a bordo não é novidade para essa família de Santa Catarina. Mas dessa vez, a decisão não é uma escolha, é obrigação (e responsabilidade).

Em viagem pelas Ilhas Falklands/Malvinas, arquipélago no Atlântico Sul, próximo da Patagônia argentina, a família foi surpreendida pelo surto de coronavírus e parte da equipe de velejadores está isolada em um veleiro.

A bordo estão Vilfredo, o filho Wilhelm e a nora Érika. Os outros membros do clã, Heloísa e David Schurmann, estão isolados em São Paulo.

Em nota enviada para a imprensa, os três tripulantes informaram que, nos últimos 30 dias, tiveram contato com “pinguins, albatrozes e golfinhos”, além de dois fazendeiros de West Falklands.

Família Schurmann (foto: Reprodução)

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Como foi a viagem até as Malvinas

Em janeiro, parte da família partiu de Itajaí, em Santa Catarina, a bordo do veleiro Kat. Por dois dias, a tripulação teve que encarar ondas de até 10 metros de altura e foi surpreendida com avarias em duas velas e no enrolador da vela da proa.

Dali seguiram para a ilha a Geórgia do Sul, a 1.500 km de distância, uma navegação que durou cinco dias. “O plano original era voltar para o Brasil, há 3 semanas. Mas, diante da pandemia, decidimos ficar por aqui”, informou Vilfredo.

Segundo o pai velejador, a família pretende voltar, diretamente, para o Brasil no final de abril, se a situação se normalizar no país. Sem paradas, a viagem será uma longa travessia de 3.500 km.

O meio do mar é o lugar mais seguro

- Vilfredo Schurmann
Vilfredo Schurmann (foto: Divulgação)

Com idade que o coloca entre o grupo de risco durante uma pandemia como essa, Vilfredo diz que se sente seguro e que, constantemente, autoridades locais dão notícias através do rádio.

“Estamos num lugar muito isolado”, tranquiliza o patriarca.

Por ali, foram registrados dois casos, “que já estão fora de perigo”, mas a rotina de isolamento segue em terra, em Porto Stanley, maior cidade do arquipélago, como controle do número de pessoas em supermercado e uso de máscaras.

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Suprimentos

Experiente e prevenida, a tripulação saiu do Brasil com suprimentos para três meses. “No mar a gente não sabe o que poderá ocorrer”, lembra Vilfredo.

A bagagem seguiu com comida normal, além de alimentos liofilizados (processo de desidratação em que o produto é congelado sob vácuo), suficientes para mais dois meses, se for necessário.

Além de produtos como arroz, feijão e massas, a tripulação conta com mariscos locais, “alguns [mexilhões] de até 12 centímetros”, e peixes pescados em rios, como truta e robalo.

Veleiro Kat, nas Ilhas Malvinas (foto: Divulgação)

Com economia, os Schurmann poderiam passar mais seis meses com os 1.500 litros de diesel, e contam também com dessalinizador a bordo, aparelho capaz de transformar a água marinha em água potável, “com capacidade de produzir 200 litros de água por hora”.

De resto, a família (ou, pelo menos, parte dela) segue a vida no mesmo estilo que decidiu viver, há 36 anos: a bordo.

Surtos de doenças infecciosas vêm e vão. Mas o vício pelo mar fica para sempre.

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Os números dos Schurmann
Esta é a família de brasileiros a dar a volta ao mundo em um veleiro e, desde então, cruzou 4 oceanos, 7 continentes e já completou 3 voltas ao mundo.

1984 marca o início da primeira viagem a bordo de um veleiro, cujo planejamento levou 10 anos, cujo retorno só se daria dez anos depois.

Em 1997, a família partiu para a Magalhães Global Adventure, expedição que refez a primeira circum-navegação do mundo, sob orientação inicial do navegador Fernão de Magalhães.

A versão brasileira da volta ao mundo durou quase três anos e percorreu cerca de 60 mil quilômetros.

Nau Victoria em desenho feito pelo cartógrafo Abraham Ortelius (imagem: Domínio Público)

A mais recente volta ao mundo da família começou em 2014 e terminou em 10 de dezembro de 2016.

A bordo do novo Kat, considerado um dos veleiros mais modernos e sustentáveis já produzidos no Brasil, seguiu rumo à Expedição Oriente, uma viagem de 800 dias até a China.

Atualmente, Vilfredo trabalha em um livro sobre a expedição “U-513 – Em Busca do Lobo Solitário”, sobre a descoberta do primeiro submarino alemão naufragado na costa catarinense, durante a Segunda Guerra Mundial. As buscas levaram quase 10 anos e os trabalhos serão contados em um documentário, que está em pós-produção.

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SAIBA MAIS
Site oficial da Família Schurmann
www.schurmann.com.br

* com informações da assessoria de imprensa

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