Sem dúvida, essa será a experiência mais marcante da sua viagem por Santarém, a principal porta de entrada para o distrito de Alter do Chão.
Sobretudo se você estiver disposto a encarar uma trilha de 15 km (ida e volta) para conhecer uma samaúma gigante com cerca de 900 anos, a Vovozona.
Belterra, município paraense a 65 km de Santarém, é endereço da Floresta Nacional do Tapajós, uma área com quase 530 mil hectares, entre cidades como Aveiro, Placas e Rurópolis.
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Considerada uma das mais visitadas do Norte e uma das mais pesquisadas da Amazônia, segundo o ICMBio, essa unidade de conservação se destaca pelas iniciativas de uso sustentável com envolvimento da comunidade local, como a produção de biojoias, couro ecológico e turismo de base comunitária. VEJA VÍDEO
A caminhada para ver a Vovozona é puxada e exige disposição. Mas essa gigante de cerca de 45 metros de altura não está sozinha.
Na Flona do Tapajós, a caminhada passa também por castanheiras, jatobás de mais de 30 metros e tauaris, árvore usada em rituais indígenas.
Em uma delas, uma timborana, o guia Ananias Castro se detém, puxa o facão preso à calça e começa a dar golpes na sapopema, como é chamada cada uma das grossas raízes ao redor do tronco, para demonstrar os antigos meios de comunicação na floresta.
O som se propaga pela mata e o silêncio do grupo só é rompido quando Ananias anuncia que a Curupira também produz o mesmo som.
“A Curupira tem andado por aqui, é isso?”, pergunto.
“Tem andado e, inclusive, ela pode estar no meio de nós e ninguém percebe porque ela é um espírito invisível”, avisa o tranquilo Ananias.
Como funciona
A caminhada só deve ser feita com acompanhamento de um guia cadastrado, que pode ser contatado na própria Comunidade Maguari (tel.: (93) 9 9198-3979 / 9 9145-0227), em Belterra, após registro dos visitantes na portaria de controle do ICMBio.
A entrada na Flona do Tapajós é grátis e o serviço de guia custa em média R$ 100 (grupo de até 5 pessoas). Na volta, é possível almoçar no local por R$ 25, cuja estrutura conta também com hospedagem em rede (R$ 25 com café da manhã).
Devido às dificuldades para se chegar à samaúma, guias de Santarém e Alter do Chão costumam oferecer uma trilha alternativa na comunidade Jamaraquá para ver um exemplar menor de samaúma. Mas nada se compara à gigante da comunidade Maguari.
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E tem bicho para ver?
Para decepção dos mais aventureiros, a Floresta Amazônica não é lugar fácil para observação de animais, exceto aves e raros macacos (sem falar numa cobra ou outra que a gente cruza no caminho).
Naquele mundo de plantas e árvores de copas gigantes, a bicharada se concentra mesmo nos pontos mais elevados (e escondidos) da floresta. Durante as caminhadas, é mais fácil encontrar a Curupira do que um felino.
Mas se você faz mesmo questão de ver a fauna amazônica, a dica é o ZooFIT, o zoológico das Faculdades Integradas do Tapajós que abriga animais provenientes de apreensões e faz um cuidadoso trabalho de reintrodução de animais selvagens na Amazônia. Em 2016, o zoológico e o Ibama devolveram 351 animais à Floresta Nacional do Tapajós, como jacarés, tartarugas e uma jaguatirica.
Com cerca de 54 espécies, o local tem animais como macacos e felinos que podem ser visitados com o acompanhamento de estudantes de biologia e medicina veterinária.
Como chegar
A comunidade Maguari, onde fica a samaúma gigante, pode ser acessada por terra, via BR-163, partir da cidade de Santarém; ou de barco, com saídas de Alter do Chão.
Quem não tem preparo físico ou disposição para caminhar pela quente e exigente floresta conta também com praias de rio para banhos, em comunidades como Coroca (tel.: (93) 9 9154-7432 ou (93) 9 9213-0177), onde é possível almoçar, conhecer a produção de artesanato com pigmentos naturais e ver uma criação de tartarugas amazônicas.
Localizada no rio Arapiuns, um braço do Tapajós, Coroca fica a 1h30 de lancha de Alter do Chão (R$ 200 por pessoa, mínimo 4 pessoas) ou a 4 horas de viagem, em barco de linha (R$ 30 por pessoa / ida) que sai do Mercado Municipal de Santarém.
Embora esteja mais perto de Santarém, a melhor opção é embarcar em Alter do Chão, de onde saem as lanchas rápidas da Atufa, no centrinho da vila.
* valores apurados em 2019
* Esta viagem foi feita com o apoio das secretarias de turismo do Pará e de Santarém.
* O Viagem em Pauta também agradece a Magda Pucci, diretora musical da banda Mawaca, pela cessão das músicas que fazem parte da trilha do vídeo de Santarém.O álbum "Rupestres Sonoros – O canto dos povos da floresta" é um homenagem aos povos indígenas brasileiros.
Sou natural de Santarém,moro em Manaus atualmente. Sempre tive extrema conexão com a floresta e rios, respeito acima de tudo. Já fiz alguns roteiros verdes de Santarém e conhecia Alter desde criança. Mas a Flona do Tapajós e Arapiuns eram o meu maior sonho. Manaus tem a Reserva Duque, mas a Flona tem o Tapajós como seu vigilante. E isso era encantador. Fiz a trilha do Jamaracuá duas vezes e a da Vovozona no Maguari também. Fiquei cerca de dez dias na Casa do Elton. As comunidades dessa região são muito pacatas e é um retiro espiritual de verdade! As duas possuem lindos igarapés cristalinos e caso a pessoa não deseje fazer as trilhas é possível tomar banho num deles sem precisar caminhar tanto. O serviço de almoço você pode pedir na Ponta do Maguari. Linda faixa de areia com estrutura de casinhas de palha. As rabetas e bajaras levam o almoço até lá. A melhor comida caseira e melhores peixes do Tapajós estão nessas comunidades da Flona e Arapiuns. Eu como e me hospedo e conheço Alter, mas nada se compara ao sabor e variedade da Flona. Nem a Casa do Saulo se compara. Os lancheiros que levam as pessoas até as comunidades cobram em torno de 180_200 por grupo de 7 ou 8 pessoas. Depende do tamanho da lancha. A saída é feita da orla de Alter. Mas se estiver em Santarém é só pegar o ônibus que sai de seg a sábado da parada ao lado do colégio Santa Clara. A saída é às 12:00. O retorno da comunidade é às 4:00 do dia seguinte. Custa 15 reais a passagem. É um ônibus de viagem e com espaço para malas. Eu tenho muita sensibilidade espiritual e estar numa Floresta Primária com Piquiazeiros gigantes, Sumaúmas que parecem uma pata de dinossauros, cipós, tarântula da Amazônia, cocô e pegadas da onça… Mirantes e acampamentos no meio da floresta e de frente para o Rio Tapajós… Lado a lado com a Curupira que dormem no pé da Sumaúma… Para alguém de origem ribeirinha e descendência indígena… Foi uma mistura de medo, aventura, amor, respeito e libertação. A vida e Deus me mostraram que a mesma terra onde habitam as sumaúmas é a terra onde eu existo. Você não é maior e nem menor… Somos irmãos. E isso é emocionante. A Floresta Primária tem um batuque interno, você sente a vibração e é claustrofóbica. Sentia todos os animais escondidos e o Capitão-do-Mato assobiando e me denunciando. Quanto mais eu ando na minha região… Menos a conheço. Sou eternamente apaixonada por ela.
Que belo depoimento, Yanda. Obrigado por compartilhar com o Viagem em Pauta.
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