Para o padre italiano Alberto de Agostini, o explorador do Fim do Mundo, o maciço de Paine era uma “fortaleza de torres” com “chifres monstruosos” voltados para o céu.
Agostini acreditava se tratar de um dos conjuntos arquitetônicos mais fantásticos “que a imaginação humana poderia conceber”.
Até hoje, a gente custa a acreditar no que vê. Mas, quando vê, logo entende por que essa é uma das caminhadas mais populares de todo o Chile, num dos cenários mais inóspitos do planeta.
“O Parque Nacional Torres del Paine é um lugar muito especial porque seu conjunto tem muitos atrativos que, enquanto muitos países têm separados, encontramos aqui num só lugar”, explica Basilio Reinike, chefe de guias do hotel Tierra Patagonia.
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Torres del Paine
Base Torres é uma trilha de 22 quilômetros (ida e volta) que deixa a gente aos pés desse maciço de granito moldado pelo gelo glacial, no Parque Nacional Torres del Paine, a 1h30 de Puerto Natales.
“É a caminhada mais conhecida e exigente do parque nacional, e faz parte também do Circuito W, o trekking mais famoso no Chile”, descreve Tomás Abbott.
Esse guia do hotel Tierra Patagonia costuma dividir a travessia em três partes.
Após uma caminhada plana de cerca de um quilômetro por uma antiga área de pastagem de gado, o visitante cruza o rio Ascencio e percorre cerca de quatro quilômetros em permanente ascensão até o Acampamento Chileno.
Localizado no interior de um vale, esse acampamento rústico de madeira é o único ponto de apoio ao longo de toda a trilha e é equipado com cafeteria, banheiros e abastecimento de água.
Já o trecho seguinte, “o mais fácil e agradável do caminho”, é uma impressionante travessia de dois quilômetros pelo interior de um bosque de lengas, árvore típica do extremo sul do Chile e da Argentina.
Dali para frente, caro caminhante, prepare-se para sentir na pele, literalmente, o que significa estar em terras tão isoladas do sul do continente. Tem sol, garoa, vento, templo nublado, sol outra vez, neve, céu claro e mais um pouquinho de sol.
Em questão de minutos, o conhecido mau humor do clima local sempre faz a gente lembrar que, na Patagônia, nada é igual ao que se viu na última curva.
A dificuldade desse último trecho até o mirante da Base Torres é a caminhada por terreno irregular de morenas, como são chamados os rastros glaciais deixados pelos materiais arrastados pelo deslocamento de geleiras.
“Esta é a parte mais difícil e dura cerca de uma hora. Não é muito longo, mas é bem íngreme. É na terceira parte da trilha que fazemos o trabalho duro, por isso devemos guardar nossas energias para esse trecho”, alerta o guia Tomás.
Falta energia, falta ar e faltam palavras para descrever a sensação de estar aos pés daquelas imensas torres que parecem flutuar nossas cabeças.
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DICAS VIAGEM EM PAUTA
Embora não seja técnica, a trilha até o Mirante Base Torres é puxada e exige boa condição física (e mental) para encarar o desafio de subir e descer durante os 11 quilômetros da ida e ganho de elevação de um quilômetro, aproximadamente.
A Base Torres é também um dos caminhos mais concorridos no parque nacional porque tem conexão direta em transporte público desde Puerto Natales, a 1h30 do início da trilha. Na medida do possível, evite feriados prolongados ou meses como janeiro, temporada de férias dos chilenos.
Segundo Tomás, nessa época, a trilha chega a ter cerca de 1.500 pessoas em filas que seguem até a Base Torres. Por isso, a melhor época para fazer a trilha é entre meados da primavera e início do outono.
Com duração que varia entre oito e dez horas, a trilha exige ser iniciada cedo, quando as temperaturas são mais baixas. Acostume-se também a sair vestido em camadas, cujas peças mais pesadas vão sendo dispensadas ao longo do dia.
Hidrate-se durante toda a caminhada, mesmo quando não estiver sentindo sede. A água é abundante ao longo de toda a trilha, que conta com pontos de recargas em diversos riachos que cruzam o caminho.
Leve alimento para toda a caminhada, inclusive para a volta, pois apenas no Acampamento Chileno existe possibilidade de comprar alago para comer. Ainda assim com preços mais elevados, já que todos os mantimentos são levados a cavalo de povoados próximos.
“Na primeira parte do caminho, as pessoas tendem a se apressar e a exigir demais [do corpo]. Quando chegam ao [acampamento] Chileno já não querem mais continuar”, descreve Tomás.
Por isso, caminhe com pé firme de inca, sempre no mesmo ritmo, e deixe a Patagônia fazer o resto. Assim como dizem por ali, “quem tem pressa, perde tempo”.
Embora bem sinalizada e sem obrigatoriedade de acompanhamento de um guia, a trilha pode ter trechos que confundem ou até mesmo particularidades que só quem conhece a região pode explicar. Considere fazer a trilha acompanhado de um guia.
Na mala, não deixe de incluir peças à prova d’água e corta-vento, segunda pele, botas, calças e luvas impermeáveis, gorro, óculos de sol (mesmo para os dias nublados), protetores (corporal e labial) e uma mochila de ataque para as trilhas.
Patagônia chilena
No sul do Chile tem hotel que leva a Patagônia para dentro do seu quarto. Dá até vontade de passar o dia inteiro vendo o cenário mutante se exibir do lado de fora.
Mas é claro que você vai querer ver o que tem além daqueles janelões de vidro que projetam Torres del Paine bem diante da cama.
Para fazer a trilha Base Torres, o Viagem em Pauta se hospedou no Tierra Patagonia, hotel boutique conhecido não só pelos quartos com vista para a Cordilheira Paine, mas também pelo sistema all inclusive de refeições, bebidas e atividades de aventura.
Sem falar na cozinha de autor, daquela que vai das carnes de fazendas vizinhas aos frutos do mar do Estreito de Magalhães, da carta de vinhos chilenos aos drinques do dia preparado pelo barman, e das histórias que os multidisciplinares guias do hotel vão contando enquanto a van risca estradinhas de terra.
Nem parece que um dos endereços mais isolados do Chile fica a apenas 25 km dali.
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