5 frases realistas do Mário de Andrade

Dizem que ninguém no Brasil escreveu tantas cartas como o poeta Mário de Andrade.

Ao longo de seus breves (e intensos) 52 anos de vida, o pai de ‘Macunaíma’ enviou escritos para toda gente da nossa literatura, de Manuel Bandeira a Tarsila do Amaral, de Anita Malfatti a Sérgio Buarque de Holanda.

Em forma de bilhete rápido, telegrama e até carta bomba, Mário escreveu comprido para todo mundo sobre tudo o que tinha no mundo.

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Mário de Andrade (foto: Domínio Público)

Feito para criar clássicos, Mário tinha um fraco pelos textos epistolares, que valiam mais do que os amigos que fumavam e empesteavam o quarto do “enferminho”. Embora fizesse das suas cartas, literatura, esse escrevinhador compulsivo temia tê-las publicadas.

E basta.

“Quem algum dia publicar (…) cartas escritas por mim, seja em que intenção for, é fdp, infame, canalha e covarde”, confessou para Murilo Miranda, quase no final da vida.

Se a casa na Barra Funda era seu refúgio, as cartas de Mário eram ele inteiro de Andrade.

foto: Reprodução

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Ler as cartas reunidas em um sem-fim de publicações sobre seu “gigantismo epistolar” é como ter o poeta (con)versando com seus destinatários em uma mesa de bar (ou, em alguns casos, ouvir atrás da porta conversas íntimas de nomes que a gente achava que só existia nos livros).

É língua oral impressa no papel, é Mário exposto e nu nessa espécie de fichário de si mesmo.

Relendo seus escritos, quase um século depois, a gente termina sempre com a sensação de que suas cartas acabaram de ser escritas, tão frescas como a tinta da Manuela, a máquina de escrever com nome em homenagem ao amigo Bandeira.

E foi fuçando nessas cartas, ao longo desses anos de viagens com o Mário, que selecionei as frases a seguir.

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O homem é incapaz de ser humano”


Mário fez esse realista jogo de palavras em uma de suas crônicas no Diário Nacional, onde assinou mais de 700 colaborações, entre dezembro de 1928 e março de 1929.

Considerado seu período mais criativo como cronista, entre “artiguetes”, ensaios e Mários de Andrade , o escritor encheu de Brasil as páginas desse jornal paulista.


É mil vezes melhor ser útil do que célebre”

Essa frase foi escrita em uma das cartas sinceronas para a aluna e discípula Oneyda Alvarenga.

Entre os temas abordados no texto, Mário critica a tendência dos artistas se sentirem “gênios, Rafaéis e Beethovens”, mas que não passam de operários da construção da vida social.


foto: Creative Commons


Eu gosto muito mais dos meus amigos quando eles estão longe de mim”

Farto de viagens (que aliás nem foram tantas), Mário preferia ficar no mundo seguro de sua casa, no consolo dos livros, debruçado sobre a máquina de escrever para quem o poeta contava o que via lá fora.

Segundo ele mesmo, Mário se sentia mais deserto numa sala cheia de pessoas do que “provando o gosto sáfaro da solidão”.


Pra mim, viver é gastar a vida, e não conservar a vida”

Saúde era uma das fragilidades de Mário, como a úlcera que descreveu em uma carta para o mineiro Drummond de Andrade.

Nela, Mário conta o conflito com os três médicos que cuidavam de sua saúde com o “princípio antimário” de conservação da vida.

“Eu quero me gastar e não conservar a vida”, concluiu, acendendo um cigarro.

foto: Wikimedia Commons


Minha imediateza tem a elasticidade duma semana inteira”

Mário passou a vida não só juntando contos de réis para dar mais “largueza” à vida, mas também os próprios fragmentos que carregava dentro de si.

Por isso, nem sempre dava conta de fazer tudo que aquele homem 300-350 tinha para fazer e acabava se atrasando no responder de cartas, como a que escreveu para o potiguar Câmara Cascudo.

“A vida meio que parou”, concluiu.

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