Parque das Neblinas é viagem cênica, a 115 km de SP

Em Mogi das Cruzes, não basta ser vizinho, tem que participar.

Se até a década de 1950, essa floresta densa era de destruição desenfreada para produção de carvão, atualmente, o Parque das Neblinas é endereço de manejo sustentável, pesquisa científica e ecoturismo com participação da comunidade ao redor.

Do restaurante com produtos da Mata Atlântica aos monitores de atividades turísticas, o quadro de colaboradores do parque é formado por moradores desse município na Região Metropolitana de São Paulo, a 115 km da capital paulista.

E o que o turista tem a ver com isso?

Canoagem no Parque das Neblinas (foto: Eduardo Vessoni)

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No caso do Parque das Neblinas, é como ser recebido por um morador local que abre as portas para mostrar, com orgulho, o próprio quintal de casa e compartilhar com a gente aquilo que nem todo mundo consegue ver.

“A comunidade [do entorno] traz mais cuidado porque acaba protegendo. Quem pode proteger a Mata Atlântica é quem mora aqui”, analisa Priscila Rodrigues Cruz, guia de turismo que atua no parque.

E só quem conhece pode proteger essa reserva privada de Mata Atlântica com mais de 1.300 espécies já registradas da fauna e flora.

Rio Itatinga, no Parque das Neblinas (foto: Eduardo Vessoni)

“Você mantém as pessoas nos seus locais de origem e contribui para que elas tragam conhecimento da área”, diz Cleia Araújo, analista de sustentabilidade do Instituto Ecofuturo, ONG da Suzano, empresa de papel e celulose que faz a gestão do parque.

Segundo Cleia, atualmente, 85% das equipes (internas e parceiras) são da comunidade do entorno.

Para começar bem o dia, por exemplo, é possível contratar o café da manhã preparado pelo restaurante Gaia, cujo buffet tem opções com produtos da Mata Atlântica, como bolo de cambuci e suco de jberuçara com banana e mel.

O que fazer no Parque das Neblinas

Inaugurado em 2004, após um longo trabalho de manejo de eucaliptos, conservação de nascentes e criação de uma reserva ambiental, o parque tem se destacado pelas atividades de ecoturismo que acontecem nessa área de sete mil hectares.

Um dos destaques é a variedade de trilhas bem estruturadas que o visitante pode fazer, em rotas que vão de inocentes 360 metros a 11 km de extensão. As caminhadas, de dificuldades fácil e média, contam com opções de roteiros autoguiados e monitorados.

Durante a visita do Viagem em Pauta para esta reportagem, conhecemos a Trilha das Antas (1.950 metros), uma caminhada autoguiada e de baixa dificuldade, interligada por pontes suspensas que dão acesso a outras trilhas. É como ter a Mata Atlântica bem debaixo dos pés.

“É super estruturada com degraus, corrimãos e passarela suspensa, o principal atrativo da trilha”, explica a guia Priscila, quem garante que esse é o trecho com mais vestígios do animal que dá nome à trilha.

Trilha das Antas, no Parque das Neblinas (foto: Eduardo Vessoni)

Apesar dessa guia comparar a uma espécie de “mini arvorismo”, a atividade é de nível fácil e não exige nenhum tipo de equipamento de proteção nem treinamento.

Outra opção de trilha autoguiada é a da Cachoeira (990 metros de extensão), caminhada fácil até a piscina natural da Cachoeira do Sertão e que pode ser combinada com a Lava Pés, cujos 650 metros incluem travessia do Rio Itatinga.

Para os mais preparados, o parque conta também com dois roteiros monitorados, a Trilha do Mirante (11 km), cuja represa do Itatinga tem vista para o litoral, e a da Pedra Riscada (10 km), endereço de micro-orquídeas e de vestígios de uma antiga ponte da época da exploração de eucaliptos na região.


Nas águas das neblinas

O parque abriga 530 nascentes, mas basta um só rio para gente se convencer de que o Neblinas é uma das áreas verdes mais lindas de São Paulo.

É no Itatinga que acontece a cenográfica canoagem nas águas tranquilas desse rio que nasce dentro do Parque das Neblinas, corta a Serra do Mar e segue em direção a Bertioga, município no litoral paulista.

Mas não precisa ir tão longe.

Rio Itatinga (foto: Eduardo Vessoni)

No Parque das Neblinas, a canoagem é uma atividade de cerca de 1km que passa por áreas isoladas e pequenas corredeiras, muitas vezes chamadas de cachoeiras.

“O grande brilho do Rio Itatinga é essa calmaria dele, que vira esse espelho, e a água cristalina que você vê o fundo”, descreve o guia Mateus Frias Botelho, para quem a experiência é mais de contemplação do que adrenalina.

A bordo de caiaques infláveis, a gente até esquece que São Paulo fica logo ali, a pouco mais de 100 km de distância.

Por que Parque das Neblinas
Basta entrar na região de Taiaçupeba, o ‘Distrito Natureza” de Mogi das Cruzes, para o visitante entender o nome do parque.

É nesse bairro, passagem obrigatória para quem segue em direção ao Parque das Neblinas, que a floresta vai se escondendo em meio ao nevoeiro que se forma na serra, cujo fenômeno, que costuma ser mais intenso no início da manhã, é resultado da umidade e das baixas temperaturas dessa área protegida no topo da Serra do Mar.

Assim como explica a analista Cleia Araújo, o parque é uma zona de amortecimento que protege o Parque Estadual da Serra do Mar, o maior contínuo de Mata Atlântica do Brasil, do crescimento ameaçador da Grande São Paulo.

“O Parque das Neblinas faz essa barreira e, cada vez mais, está segurando essa camada de urbanização que vem crescendo sobre a Mata Atlântica”, completa.



Os vizinhos do Parque das Neblinas


Marília Emi Machado Murakami
chef de cozinha

“Minha história com o Parque das Neblinas começou em 2012, quando comecei a produzir geleias, cachaças e outras coisas com cambuci e [palmeira] juçara.

Em 2021, recebi o convite para trabalhar no parque, a princípio, para tomar conta de um café, e depois do restaurante Gaia.



Priscila Rodrigues Cruz
guia de turismo

“As primeiras buscas por monitores para trabalhar aqui foram feitas na comunidade, mas éramos todos crus.

Então, eles fizeram todo um preparo com vários cursos e foram pesquisando nossas afinidades e o potencial de cada um, agregando assim a comunidade dentro do parque.”



Mateus Frias Botelho
monitor de canoagem

“Conheci o parque em um passeio de escola, quando eu tinha seis anos. Tive a oportunidade de crescer aqui nesse meio, junto com um grupo de escoteiro.

Depois de alguns anos, tive o convite do EcoFuturo para ser monitor do parque e hoje sou monitor de canoagem também. São 20 anos de remo no Rio Itatinga.”

SAIBA MAIS

Parque das Neblinas

Onde: Rodovia SP 102, KM 85 – Rodovia Professor Francisco Ribeiro Nogueira – Zona Rural, Bertioga

Quando: De terça a domingo, das 8h30 às 17h

Quanto: A partir de R$ 45 (trilhas autoguiadas)

A visita e as atividades turísticas devem ser, obrigatoriamente, reservadas pelo telefone (11) 4724-0555 ou por e-mail parquedasneblinas@ecofuturo.org.br

www.ecofuturo.org.br
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foto: Divulgação

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* O Viagem em Pauta viajou com o apoio do Instituto Ecofuturo, da Jeep do Brasil e da GoPro

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