Capacete militar, máquina de costura da bisavó e até uma antiga janela da Santa Casa de Misericórdia. Nessa casa no extremo sul de São Paulo, a própria cidade é a inspiração.
A Casa da Girafa, em Parelheiros, é uma residência particular que levou sete anos para ficar pronta, onde cada pedaço dela tem uma história que leva a gente para outros tempos.
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Localizado no Parque do Terceiro Lago, na Represa de Guarapiranga, o empreendimento foi feito com madeiras, vidros, tijolos e tudo mais que o idealizador do projeto foi encontrando em São Paulo.
“É um projeto de bioconstrução, onde eu uso técnicas construtivas e vernaculares e materiais coletados nas ruas de São Paulo. Uma casa toda sustentável, onde procuro resgatar um pouco dessa memória aqui do local e esse olhar para o entorno”, explica o proprietário Luiz Cardoso.
Logo na entrada, a parede da sala chama a atenção.
Ali, assim como descreve esse artista plástico, foi usada a técnica de taipa de pilão, com barro retirado do lago no próprio terreno da casa, pintada com tintas orgânicas.
“Acho bem interessante esse processo da bioconstrução de pegar cor na natureza e trazer para dentro de casa”, diz Luiz.
E vale tudo na decoração dessa casa, levemente, inspirada no estilo germânico, uma referência aos primeiros moradores que chegaram à região, em 1827. De peças encontradas em caçambas de bairros nobres da cidade à máquina de costura da bisavó.
Entre os objetos, tem também um telefone de 1910, doado por uma amiga, capacete militar transformado em luminária e até uma tela de galinheiro que foi usada para substituir uma parede entre a escada e a lavanderia, criando assim uma área de maior circulação de ar.
Para Luiz, é justamente a variedade de peças que encanta quem entra na casa, aberta também para visita pública.
“As pessoas chegam aqui e se identificam com alguma coisa que viram lá no passado, na infância. É uma casa de avós. Acho que isso cria um certo fascínio”, analisa.
Mas o atrativo vai além do impacto visual.
Casa de bioconstrução
Esse tipo de construção é uma técnica sustentável que minimiza o impacto ambiental, como o uso de barro que deixa a casa, naturalmente, térmica e mais agradável para quem mora nela.
“É uma construção muito mais afetiva”, diz Luiz, quem acredita no potencial dos materiais descartados, apesar do preconceito e do desconhecimento da população.
“Dá para fazer tudo com qualquer material, só precisa apurar essa percepção. Você constrói uma memória.”
Luiz Cardoso – artista plástico
Já no quarto, Luiz reaproveitou uma janela em estilo gótico da Santa Casa, no bairro da Santa Cecilia, para fazer um painel na cabeceira da cama.
“Eu pirei na hora que vi”, conta Luiz sobre suas andanças pela cidade.
Mais do que observar ao redor, a construção é um olhar para cima, daí o nome Girafa.
“Quando você olha para a girafa, automaticamente, você olha para cima. A gente tem uma percepção de mundo tão horizontalizada e, quando a gente olha para cima, percebe que tem muito mais coisas que a gente não consegue imaginar”, diz.
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Como conta o idealizador para o Viagem em Pauta, a casa surgiu como alternativa para baratear a obra. Luiz lembra que se deu conta que seria uma mão de obra com alto custo, por ser extremamente especializada. Por isso, ele mesmo encabeçou todas as etapas do processo.
“Assumi todo o processo construtivo, da fundação ao telhado, do acabamento à decoração. Acabei minimizando o custo e a matéria-prima que fui pegando no entorno”, diz Luiz.
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