Anualmente, o Clube de Exploradores (‘The Explorers Club’, em inglês) elege 50 pessoas que contribuíram para a promoção da ciência e da exploração, mas que ainda precisam ser reconhecidas pelo resto do planeta.
E, em 2024, o Brasil é penta.
Neste ano, o EC50, como a nomeação é conhecida, listou cinco brasileiros que, mais do que viajantes exploradores, têm mudado o mundo, em áreas como geologia, disseminação de sementes, design naturalista, sustentabilidade e ictiologia.
“É realmente fantástico. Estou muito feliz, especialmente por ser a única mulher brasileira cientista na lista. É um grande reconhecimento para mim e para as agências de fomento que sempre me apoiaram”, descreve a geóloga Fernanda Avelar Santos, em depoimento por e-mail enviado ao Viagem em Pauta.
Fernanda pesquisa a detecção de poluentes em áreas marinhas, especificamente, rochas de plástico, como as que encontrou na remota Ilha da Trindade, em 2019.
“O EC50 reconhece pessoas que estão realizando um trabalho notável para promover a ciência e a exploração, mas permanecem fora dos holofotes”, analisa.
VEJA TAMBÉM: “Nellie Bly: a lunática que deu a volta ao mundo”
Fundado em 1904, em Nova York, o clube é um grupo multidisciplinar que reconhece pesquisas e explorações científicas ao redor do mundo, em áreas nada convencionais da exploração moderna, como arqueologia espacial e oceanografia polar.
Desde 1914, o Clube de Exploradores reconhece os maiores exploradores do mundo com as mais altas honrarias do mundo da exploração, cuja lista inclui feras como Candido Rondon, o único brasileiro na categoria, nomeado em 1919 (Medalha do Clube) e em 1925 (Membro Honorário), e figuras como Robert Falcon Scott, Ernest Shackleton, Roald Amundsen, Neil Armstrong e até o ex-presidente dos EUA, Theodore Roosevelt.
VEJA WEB STORY
LEIA TAMBÉM: “Perrengues do presidente dos EUA no Brasil fazem 110 anos”
Porém, o EC faz questão de deixar claro que não se trata apenas de um reconhecimento de um trabalho científico em si, mas da “abordagem do explorador à resolução de problemas, à ciência de campo e à sua visão do futuro”.
“Este programa prospera, não como um monumento à glória individual, mas como um farol para o poder que temos quando estamos juntos”, declarou Richard Wiese, Presidente Emérito do clube.
Na edição do ano passado, a paulistana Karina Oliani estava entre os nomeados pelo clube.
Primeira sul-americana a escalar as duas faces do Everest e a primeira brasileira a subir a temida K2, ela é médica especializada em emergência e resgate em áreas remotas, e acredita que o título foi “um dos maiores reconhecimentos que alguém da aventura e da medicina em áreas remotas pode receber”.
Em entrevista para o jornalista Eduardo Vessoni, na época da nomeação, Oliani contou que, além de ter inspirado pessoas, o candidato precisa enviar uma série de documentos (uns 50, na sua conta) que comprovem suas conquistas e sua formação científica.
Entre as ações encabeçadas por ela, estão a fundação da pioneira Associação Brasileira de Medicina de Áreas Remotas e Esportes de Aventura (Abmar) e a criação com Andrei Polessi do Instituto Dharma, projeto de 2016 que leva medicina para áreas remotas do Brasil.
Brasileiros que entraram no Clube de Exploradores em 2024
Fernanda Avelar Santos
cientista marinha e geóloga
Única brasileira da lista de 2024, essa especialista em ilhas oceânicas e ambientes marinhos foi responsável por um dos estudos científicos mais comentados, no ano passado.
Em 2023, durante seu doutorado na UFPR, Fernanda, cuja maior inspiração é Charles Darwin, descobriu a presença de rochas compostas por plástico, na Ilha da Trindade, a mais de mil quilômetros de Vitória, no Espírito Santo.
Como ela mesma explica, a descoberta foi feita durante uma expedição de mais de 60 dias, quando encontrou rochas formadas por plástico derretido, em uma área de praia de 12 m².
Ângelo Rabelo
diretor do Instituto Homem Pantaneiro
Desde a década de 1980, Rabelo se dedica a programas de proteção à cultura e à vida selvagem, no Pantanal.
“Minha principal motivação é trabalhar em busca de resultados práticos para a conservação. A esperança garante o futuro”, declarou o presidente do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), organização sem fins lucrativos que atua na conservação e preservação do bioma e da cultura locais.
Luigi Cani
paraquedista e dublê
Com mais de 14 mil saltos de paraquedas, o Homem Pássaro é conhecido do grande público pelas participações em programas de atividades de aventura na TV.
Porém, sua entrada no Clube de Exploradores se deve ao projeto em que lançou 100 milhões de sementes, em uma área devastada de quase 260 km², na Amazônia, uma operação que exigiu quatro toneladas de equipamentos.
“Agora que tenho 52 anos e não tenho mais a mesma fome de perigo, quero que meus projetos tenham sentido e ajudem as pessoas e o planeta”, define Cani que, durante a operação, precisou prender a respiração por mais de dois minutos, quase quebrou o pulso e alguns dedos, mas diz que “valeu a pena”.
Lvcas Fiat
Conservacionista e Designer Naturalista
No trabalho de Fiat, design e ciência se encontram para abordar temas como a conservação.
Desde 2017, esse artista vem descobrindo espécies raras e novas de louva-a-deus, na Mata Atlântica, cujos resultados são exposições multimídia que unem fotografia, arte, narrativa e comunicação.
“À medida que aumentam as ameaças aos ecossistemas do nosso mundo, sinto a necessidade de evocar emoção, estética e imaginação para ajudar a dar voz às florestas tropicais e à vida selvagem”, declarou Fiat ao site do Clube de Exploradores.
Para ele, um dos desafios é proteger aquilo que não se conhece, como os diversos animais ainda desconhecidos em florestas tropicais.
“A ciência pode projetar números, adotar nomenclaturas e identificar hot spots da biodiversidade, mas muitas vezes deixa as pessoas normais fora da conversa”, analisa Fiat.
Luiz Rocha
ictiologista
Esse paraibano de João Pessoa, especialista em peixes, tem no currículo mais de seis mil horas de mergulho e estudos sobre a evolução e a conservação de peixes de recifes de coral.
É codiretor da Hope For Reefs, iniciativa da Academia de Ciências da Califórnia, e seu principal trabalho é o arriscado mergulho em recifes de corais profundos, em áreas que vão de 60 a 150 metros de profundidade.
“Quando falamos de oceano, quanto mais fundo se vai, mais interessante se torna a exploração”, descreve Rocha.
O evento de entrega dos títulos acontece em Nova York, no dia 20 de abril, durante o ECAD (Explorers Club Annual Dinner), jantar anual do Clube de Exploradores com um cardápio digno de um grande aventureiro (de estômago valente e com orçamento folgado).
Com ingressos a partir de US$ 950 (R$ 4.745, aproximadamente), o jantar é conhecido pelo inusitado cardápio servido no coquetel de abertura “com aperitivos mundialmente famosos para testar sua coragem”.
Em outras palavras, prepare-se para comer canapés de larvas, baratas e escorpiões, “uma fonte de alimento deliciosa e ecologicamente correta”, de acordo com a descrição do próprio clube. Lá no site do Viagem em Pauta (viagemempauta.com.br), você conhece mais detalhes do evento.
LEIA TAMBÉM: “Você pagaria R$ 5 mil num jantar com larvas, baratas e escorpiões?”
Seja o primeiro a comentar