A viagem da princesa no Espírito Santo


Quando universidades ainda não eram lugar para mulheres, Teresa da Baviera aprendeu com o mundo lá fora, visitando lugares improváveis, como a Rússia, o norte da África e destinos distantes da América do Sul.

Decidida a conhecer os trópicos para coletar plantas, animais e objetos etnográficos, essa prima distante de d. Pedro II se embrenhou também no Espírito Santo, entre o final de agosto e meados de setembro de 1888.

No Brasil, Teresa trocou os palácios de ouro pelos de barro, as paredes pelos tapumes de madeira e, onde deveria ter vidraças, viu a luz do dia invadir buracos.

Teresa em acampamento no Rio Doce (imagem: Domínio Público)

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Teresa da Baviera

Acompanhada de uma dama da corte – a Baronesa Francisca de Lerchenfeld -, do Barão Maximiliano Von Speidel e de um criado taxidermista, Teresa esteve em Cachoeiro de Itapemirim, Vitória, Santa Leopoldina, Santa Teresa, Linhares, Anchieta, Vila Velha, Guarapari e alguns povoados capixabas.

Ao longo de três semanas, com sua inseparável câmera fotográfica, a filha do príncipe Luitipold e da arquiduquesa austríaca Augusta Ferdinanda encarou caminhos perigosos, subiu trilhas íngremes e navegou em canoas de sucupira para ver um Brasil que nem os brasileiros ainda tinham ideia que existia, passando por aldeias dos Botocudos, grupo indígena às margens do Rio Doce.

Mais do que fazer turismo, a viajante autodidata veio fazer ciência, reunindo materiais etnográficos e espécies animais e de plantas, cujos diários estão reunidos no livro Viagem ao Espírito Santo – 1888, publicado cinco anos depois de sua passagem pelo Brasil.

foto: Domínio Público

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Porém, muitas vezes, a princesa fez seus relatos parecerem poesia, como quando pediu para o cavaleiro Frank buscar água do Rio Doce e ouviu o brandemburguês recusar o pedido.

“Ele alegou que poderia cair no rio, mas eu suponho que ele estava com medo de acabar sendo vítima de alguma vingança na escuridão da noite”, escreveu Teresa.

Em outro momento da viagem, em Linhares, a viajante também lembra o leitor da visão machista sobre mulheres viajantes da época, como no dia em que ela e sua dama foram chamadas de “engenheiros usando roupas de mulher”.

“Eles pensavam que era por demais ousado que mulheres fizessem uma viagem tão dificultosa apenas motivadas pelo interesse no país e nas pessoas. Mas isso pode ser explicado pelo costume das mulheres brasileiras de levarem uma vida sem grandes estímulos intelectuais, vivendo numa indolência oriental”, escreveu em seus apontamentos.

Assim como conta o pesquisador Lúcio Alcântara, apenas 18 “transgressoras pioneiras” pisaram no Brasil, entre os séculos XVIII e XIX.

“Tudo isso na época em que estava reservada à mulher um papel subalterno de coadjuvante do homem, restrito a tarefas domésticas cumpridas no ambiente familiar, vedado o acesso a certas atividades como a científica”, conta Alcântara.

O pesquisador lembra também que, apesar da contribuição em áreas como botânica, zoologia, etnologia e geografia, seus estudos têm sido pouco considerados “mesmo por especialistas”.

Nessa mesma viagem ao Brasil, em 1888, Teresa esteve também no Pará, Amazonas, Maranhão, Ceará, Pernambuco e Rio de Janeiro.

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