Cada país tem o turismo de massa que merece

Enquanto o Brasil tenta passar dos (estacionados) seis milhões de turistas estrangeiros por ano, os destinos que fizeram a lição de casa começam a jogar a toalha, diante da pressão do turismo de massa.

Por aqui, ao “gigante pela própria natureza” só lhe resta meter na cara um sorriso amarelo para celebrar os minguados 760 mil estrangeiros que desembarcam no Rio de Janeiro, por exemplo, no 1º semestre de 2024, segundo dados recentes da Polícia Federal, Ministério do Turismo e Embratur.

Ou seja, é menos de um milhão de turistas naquela que é conhecida como uma das mais belas cidades do planeta (e quem já esteve no Rio, depois de rodar o mundo, sabe que o título não é exagerado).

crowd of people gathering during golden hour
Osvaldo Coelho Jr. / Pexels.com

Só a Estátua da Liberdade, em Nova York, recebeu 3,7 milhões de visitantes, em 2023, de acordo com o NPS (National Park Service). Se compararmos então com a Torre Eiffel, os números (e a nossa vergonha) chegam a dobrar. Anualmente, essa estrutura metálica de gosto duvidoso atrai 7 milhões de turistas à capital francesa.

Ou seja, o “impávido colosso” perde lugar para dois monumentos (que nem são lá essas coisas).

Em nível nacional passamos ainda mais vergonha.

eiffel tower paris painting
Chait Goli / Pexels.com

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A França, o país mais visitado do mundo, recebeu mais de 100 milhões de visitantes, em 2023, de acordo com a OMT (Organização Mundial do Turismo), agência da ONU (Organização das Nações Unidas).

A lista segue com Espanha (85,2 milhões), Estados Unidos (66,5 mi), Itália ( 57,2 mi) e Turquia (55,2 mi).

Porém, no mundo do turismo, nem todo número é celebrado.

Turismo de massa

Se no Brasil faltam turistas estrangeiros, em certos destinos são em excesso.

Não é de hoje que moradores protestam na Catalunha. Na capital Barcelona, um dos destinos mais visitados na Espanha, o turismo de massa anda de mãos dadas com o turismofobia.

E dá-lhe jato d’água na cara da turistada, que mal tem tempo de ler as placas do tipo “Tourist Go Home”, num claro momento de “repúdio à turistificação” de destinos, como lembra o pesquisador espanhol Alan Guaglieri Domínguez.

Sobrou até para as bicicletas de aluguel e para o (até então) celebrado setor dos apartamentos alugados para temporadas curtas.

aerial view of city buildings
Nick Wehrli / Pexels.com

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Veneza, irritada com a subida dos aluguéis, é outro exemplo, assim como Praga, na República Tcheca; Amsterdã, que já proibiu a construção de novos hotéis; e Lisboa, que cancelou a emissão de novas licenças para plataformas como o Airbnb.

Como lembra Lisa Stüve, em artigo para a DW (Deutsche Welle), “a vida de alguns é palco para as experiências de outros”.

Para você, trabalhador das 9h às 18h com férias uma vez por ano, turismo é sinônimo de lazer e descanso. Mas não se trata de passeio, é economia girando, é política acontecendo e um eficiente termômetro que diz muito sobre a infraestrutura disponível para quem vem de fora.

Essa indústria poderosa deve ter, em 2024, um faturamento global na casa dos US$ 11 trilhões, de acordo com projeções do WTTC (Conselho Mundial de Viagens e Turismo).

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Andrea Piacquadio / Pexels.com

Por isso, em artigo publicado na Revista do Centro de Pesquisa e Formação do SESC, Domínguez diz que uma forma de entender a relação entre desenvolvimento turístico e seu impacto social é o “índice de irritabilidade” proposto por George Doxey, em 1975.

Para Doxey, um destino turístico evolui em quatro etapas: euforia (1), quando os locais celebram a chegada de turistas, seguida de apatia (2), incômodo (3) e antagonismo (4), de acordo com a chegada da enxurrada de turistas estrangeiros.

O Irridex, como o índice também é conhecido, é objeto de questionamentos e críticas (mas isso já é um problema que deixamos para os turismólogos resolverem).

Em amadoras e preguiçosas palavras, é como cuspir no próprio prato.

Com raríssimas exceções, todo destino deseja ter turistas para chamar de seu, e quando os tem se irrita com a perda de espaço, como o quem vem acontecendo na Europa, o maior emissor e receptor de turistas.

Enquanto isso, a nação sobre berço esplêndido patina na “euforia”, esperando as obras da Copa 2014 serem entregues.

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