“Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo…”
(“Dom Quixote” – Miguel de Cervantes)
Com essa introdução de Don Quijote de la Mancha, a Espanha ganharia o mundo da literatura com sua primeira novela da Idade Moderna e veria esse clássico de Miguel de Cervantes se transformar em uma das obras mais traduzidas, em todo o mundo.
Para seguir os passos desse cavaleiro que confundiu a realidade com a ficção, o Viagem em Pauta sugere um roteiro turístico pelos endereços relacionados a Dom Quixote, Dulcineia e moinhos gigantes.
Parte do roteiro a seguir foi visitado pelo editor deste site e traz dicas também do Turespaña. Para este roteiro por 13 vilarejos e cidades do interior, o órgão oficial de promoção turística da Espanha sugere uma viagem de carro, com sete dias de duração, aproximadamente.
Nos passos de Miguel de Cervantes
Madri
Principal porta de entrada de turistas estrangeiros na Espanha, a capital o país é endereço da Igreja e Convento das Trinitárias Descalças, na rua Lope de Vega, onde fica o monumento funerário em homenagem a Cervantes e sua esposa, que estariam enterrados no local.
Madri guarda também a taberna Casa Alberto, no edifício onde Cervantes escreveu a segunda parte de Dom Quixote; a Sociedade Cervantina, local de impressão da primeira edição de ‘Quixote’, em 1605; a Biblioteca Nacional, que guarda um exemplar da primeira edição da obra mais famosa do escritor; e a praça da Espanha, com estátuas dedicadas a seus personagens.
Alcalá de Henares
Esse destino a pouco mais de 30 quilômetros de Madri abriga um centro histórico declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e viu Cervantes nascer, supostamente, no dia 29 de setembro de 1547.
Os destaques da cidade são a Praça de Cervantes, onde fica o curioso Curral de Comédias, espaço cênico do ano 1602, e o Museo Casa Natal de Cervantes, que fica na réplica do imóvel onde o escritor nasceu, em data ainda desconhecida.
Esse solar do centro histórico, com um pátio interior com oito colunas de granito e pedra calcária, recria ambientes residenciais espanhóis dos séculos 16 e 17, e abriga uma coleção bibliográfica com as edições mais importantes de Cervantes, entre elas, os livros de Quixote em espanhol, uma publicação lisboeta de 1605 e a primeira edição espanhola ilustrada de 1674.
Esquivias – Toledo
No terceiro dia do roteiro, a dica é Esquivias, na província de Toledo, onde nasceu Catalina de Salazar y Palacios, esposa de Cervantes, com quem se casou, em 1584, e morou na conhecida “Casa de Cervantes”, atualmente, um museu.
E já que você está na região, não deixe de visitar Toledo, Patrimônio da Humanidade a 25 minutos de trem de Madri, conhecido como “Cidade das Três Culturas”, por abrigar construções católicas, mesquitas e sinagogas.
Consuegra – Alcázar de San Juan
A 60 quilômetros dali, a próxima parada é a cenográfica Consuegra, famosa por seus 12 moinhos de vento, considerados uns dos melhor conservados do país.
Alcázar de San Juan fica a 30 minutos de Consuegra e, dizem, que foi na Igreja de Santa María la Mayor que Cervantes teria sido batizado.
A cidade também tem moinhos de vento, além do Museu Casa do Fidalgo e do Centro de Interpretação Cervantino.
Campo de Criptana (Ciudad Real) – El Toboso (Toledo)
Reserve o quinto dia da viagem para conhecer Campo de Criptana, conhecida também como “Terra de Gigantes” porque, diz a lenda, foram esses que realmente inspiraram Cervantes em seus escritos sobre Dom Quixote.
El Toboso fica a cerca de 20 minutos de carro de Campo de Criptana e abriga o Museu Casa de Dulcineia, que teria sido a casa de Ana Martínez Zarco de Morales, em quem Cervantes se inspirou para a personagem de Dulcineia de El Toboso. Uma das teorias é que o nome Dulcinea seria a aglutinação das palavras dulce e Ana.
Já a Plaza Mayor guarda um monumento dedicado a Dulcineia e o Museu Cervantino tem edições em até 70 idiomas diferentes, muitas delas assinadas por personagens do mundo da política e a cultura.
Argamasilla de Alba (Ciudad Real) – Ossa de Montiel (Albacete) – Villanueva de los Infantes (Ciudad Real)
Enquanto Argamasilla de Alba guarda a Casa de Medrano, onde Cervantes teria iniciado as aventuras do Engenhoso Fidalgo, Villanueva de los Infantes seria o tal lugar de La Mancha, de cujo nome Cervantes não quis se lembrar.
Já os arredores de Ossa de Montiel guarda locais citados nas aventuras de Dom Quixote: a caverna de Montesinos e as ruínas do Castelo de Rochafrida.
Ciudad Real
Abriga o Museu do Quixote, com reproduções dos personagens da obra de Cervantes.
A meia hora dali fica Almagro, considerado um dos vilarejos mais encantadores de toda a Espanha, cuja Plaza Mayor abriga um Curral de Comédias do século XVII.
DICA VIAGEM EM PAUTA
Para começar esse roteiro já no clima cervantino, o trecho Madri-Alcalá de Henares pode ser feito a bordo do Tren de Cervantes (22 € – adultos), uma viagem de 35 minutos que começa na estação de Atocha, em Madri, e segue com apresentações de atores que homenageiam o clássico Dom Quixote.
Além da viagem de ida e volta sem paradas, o passeio conta também com um tour pelos monumentos da cidade, guiado pelos atores do trem.
Segundo o site da Renfe, empresa ferroviária espanhola, em 2024, as próximas saídas acontecem em outubro (12, 13, 19 e 26), novembro (9, 16, 23 e 30) e dezembro (7).
Dom Quixote de Miguel de Cervantes
Lançada em duas partes, El ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha (1605) e El ingenioso caballero don Quijote de la Mancha (1615), o clássico de Miguel de Cervantes chegou a ser descrito pelo escritor argentino Jorge Luís Borges como “parte da memória da humanidade”, ainda que se perdessem todos os seus exemplares publicados.
Mais de quatro séculos depois, o novelista e dramaturgo continua sendo um dos escritores espanhóis mais celebrados.
Porém, antes de se tornar o escritor espanhol mais traduzido do mundo, Cervantes foi soldado contra os turcos na batalha de Lepanto, combate naval entre católicos mediterrânicos e o Império Otomano, em 1571, que teria tirado os movimentos da mão esquerda de Cervantes.
Após a tentativa de se tornar escritor com o romance pastoril “La Galatea”, de 1585, se dirigiu à Andaluzia para trabalhar como cobrador de impostos. Mas, quase dez anos depois de se dedicar ao ofício, seria preso em Sevilha como suposto acusado de roubar parte dos tributos arrecadados para o financiamento das guerras em que a Espanha estava envolvida.
É ali na prisão que começa a ser escrita a obra máxima da literatura espanhola que colocaria Miguel de Cervantes no mesmo patamar de nomes como Dante Alighieri, William Shakespeare e Goethe.
Seu reconhecimento como escritor só aconteceria aos 58 anos, quando foi publicada a primeira parte da história de Dom Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Pança.
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