Estrada da Morte, na Bolívia, é rota turística de biodiversidade

Primeiro, veio a fama mortal, devido ao alto número de acidentes de automóveis. Logo, a Estrada da Morte (oficialmente, Camino Yungas) se tornaria atrativo turístico entre mochileiros que desciam de bicicleta de La Paz até os Yungas, a pré-selva amazônica boliviana.

Mas desde que foi inaugurada a estrada Cotapata-Santa Bárbara, em 2007, diminuindo o tráfego local em 90%, a morte deu lugar à biodiversidade, naquelas vias estreitas, cheias de curvas sem campo de visão, às margens de precipícios.

Sem o trânsito intenso, contaminação do ar e poluição sonora, a vida silvestre voltou a reocupar seu espaço e a dar outra cara para a região.

foto: Eduardo Vessoni

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De acordo com o estudo “El Camino de la muerte o de la vida silvestre” (em português “O Caminho da morte ou da vida silvestre”), a instalação de 35 armadilhas fotográficas, em uma região de 12 quilômetros de extensão, registrou um total de 16 mamíferos de portes médio e grande, e 94 espécies de aves.

O estudo, assinado por pesquisadores da Wildlife Conservation Society, abrangeu parte do Parque Nacional Cotapata e registrou, “depois de 10 anos como uma estrada muito movimentada”, a presença de animais de difícil observação, como gato-do-mato, paca e o veado-mateiro-anão.

As mais de 14 mil fotografias permitiram identificar 10 espécies de aves e 14 de mamíferos, entre elas, o jacu-andino e o veado-mateiro-anão. Foram encontradas também fezes do urso-de-óculos e um grupo de macaco-prego.

foto: Eduardo Vessoni

Parque Nacional Cotapata
O parque ocupa parte dos municípios de Coroico e La Paz, e seu atrativo turístico mais famoso é a Ruta de la Muerte, uma trilha de 65 quilômetros de extensão, entre La Cumbre, a 11 quilômetros de La Paz, aos pés da montanha Huyaina Potosí, e o povoado de Yolosa.

A descida é feita em bicicletas que podem ser contratadas em La Paz, cujos serviços oferecem aluguel, guia e carro de apoio.

Outras opções de atividades turísticas são as trilhas pré-colombianas de até quatro dias de duração, como o Camino Precolombino El Choro, trekking de 71 quilômetros de extensão e até quatro dias de duração, entre Apacheta Chucura e Coroico.

Estrada da Morte

Único acesso entre La Paz e o norte da Bolívia, a estrada foi construída, na década de 1930, por prisioneiros paraguaios, durante a Guerra do Chaco.

Embora o título de Estrada da Morte tenha sido dado por conta do alto índice de acidentes de trânsito, algo em torno de 300 mortes anuais, diz a lenda que o nome mortal data da metade do século XIX, quando Zambo Salvito se refugiava numa caverna local, depois de cometer roubos e assassinatos.

Salvador Sea, seu nome de batismo, era considerado uma espécie de Robin Hood dos escravizados de origem africana e dos índios aymarás.

foto: Eduardo Vessoni

O caminho é famoso entre ciclistas de todos os níveis que descem de La Paz para Coroico, uma variação de 3.400 metros de altitude. Por isso, uma das características é a mudança de temperatura, entre o árido altiplano boliviano e a umidade dos Yungas, uma região de floresta tropical.

A partir de Cotapata, a 2.800 metros de altitude, por exemplo, é possível sentir a mudança brusca, onde o ciclista pedala em área de neblina, muitas vezes, com baixa nebulosidade.

O primeiro trecho da descida é por área ainda asfaltada, seguido de terreno irregular, já na Estrada da Morte, atualmente, usada apenas com fins turísticos e abastecimento de comunidades isoladas. O tempo de descida pode variar de acordo com o ritmo dos ciclistas, mas costuma durar quatro horas, incluindo as diversas paradas.

* As informações foram retiradas do artigo científico El “Camino de la muerte” o de la vida silvestre: Relevamientos de fauna en el Parque Nacional y ANMI Cotapata (La Paz, Bolivia), publicado na revista Ecología en Bolivia vol.57 nº 1, em abril de 2022.

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