Rota turística dos contos de fadas completa 50 anos

O fim da história desses contos de fadas você já sabe: donzela que foge agarrada em tranças, mocinha que dorme um sono profundo e bichos que dão lição de moral.

Mas de onde vêm os contos de fadas mais famosos da literatura mundial?

A Alemanha é endereço da Rota Alemã dos Contos de Fadas, um roteiro com 600 km de extensão, que vai de Hanau, próximo a Frankfurt, a Bremen, no Mar do Norte, passando por mais de 60 cidades relacionadas com a vida e a obra dos Irmãos Grimm.

Endereço de castelos, palácios, povoados de arquitetura enxaimel e paisagens naturais, a rota celebra seu 50º aniversário, em 2025.

foto: Eduardo Vessoni

Rota Alemã dos Contos de Fadas

Mais do que imaginar enredos para histórias fantásticas, Jacob e Wilhelm Grimm se inspiraram em relatos orais, coletados em destinos serranos da Alemanha, como o estado de Hesse, para dar vida a histórias como as da Rapunzel, Bela Adormecida e Chapeuzinho Vermelho.

Há mais de 200 anos, os Grimm publicavam ‘Contos maravilhosos infantis e domésticos’ que de infantil e doméstico tinham muito pouco. Dá só uma lida no original de Chapeuzinho Vermelho e da Rapunzel para descobrir que a história, de longe, estava pensada para crianças.

Mais do que fábulas, eram histórias que fundiam fantasia e fatos cotidianos, carregadas de informações históricas sobre a rotina e os valores morais do século 19, com assuntos como as relações entre homens e mulheres ou servos e senhores, vida e morte riqueza e pobreza, o bem e o mal.

Original dos Irmãos Grimm, em Kassel (foto: Eduardo Vessoni)

A obra em dois volumes, lançada em 1812 tinha como referência a literatura francesa de Charles Perrault e os contos do poeta italiano Giambattista Basile, modelos literários presentes, aproximadamente, em 60 contos escritos pelos Grimm. E não foi só isso.

A obra é declarada ‘Memória do Mundo’ pela UNESCO, desde 2005, já foi traduzida para mais de 160 línguas e é a literatura alemã mais conhecida do mundo.

A viagem turística começa em Hanau, onde Jacob e Wilhelm nasceram, em 1785 e 1786, respectivamente, e ficaram com a família até 1791, quando o patriarca Philipp retornou à sua cidade natal, Steinau, para assumir o posto de juiz distrital.

Declarado ‘Cidade dos Irmãos Grimm’, em 2006, o destino foi bombardeado em 1945, tendo 85% da cidade destruída. Por isso, sobrou pouco da época dos Grimm.

Atualmente, a cidade abriga o marco zero da rota com uma estátua em bronze, de 1896, que homenageia seus filhos famosos, na Neustädt Marketplace, além de uma placa indicativa do terreno onde esteve a casa dos Grimm, na Paradeplatz.

Estátua dos Irmãos Grimm, em Hanau (foto: Eduardo Vessoni)

A 60 km dali, aproximadamente, fica Steinau, onde Jacob e Wilhelm passaram a infância, em um sobrado em estilo enxaimel que abriga o Museu dos Irmãos Grimm. Localizado na Brüder-Grimm-Straße, a rua principal da cidade, o museu  fica na Amtshaus, casa de 1512 que serviu de residência, durante a breve estadia da família Grimm.

O acervo guarda mais de 200 manuscritos, paredes forradas com exemplares das obras dos Grimm traduzidas em 140 idiomas e originais e versões internacionais de suas histórias.

Steinau abriga a Amtshaus, casa em estilo enxaimel em que os Grimm passaram parte da infância, entre 1791 e 1796. O local abriga o Museu dos Irmãos Grimm, com salas interativas e mais de 200 manuscritos (foto: Eduardo Vessoni)
Steinau (foto: Eduardo Vessoni)

Alsfeld é auto declarada a porta de entrada para a terra da Chapeuzinho Verrmelho. O destino é famoso pelas construções em estilo enxaimel e endereços como o edifício histórico da prefeitura, do século XVI, e a Casa dos Contos de Alsfeld.

A parada seguinte é em Marburg, onde as histórias começam a tomar corpo.

Foi ali que a dupla foi encorajada pelo professor Friedrich Carl von Savigny a colecionar os primeiros relatos que, mais tarde, se transformariam em contos de fadas, como as a histórias de Cinderela e do Pássaro de Ouro.

Foi também nessa cidade em que seus textos passaram a ser ilustrados por 450 trabalhos do artista Otto Ubbelohde, entre 1906 e 1908. Em Marburg, não só estudaram, entre 1802 e 1805, como também fizeram estudos aprofundados de temas como filologia, história, linguística, literatura e religião.

Achou pouco? Ali, se dedicaram também a estudos de línguas (alemão, espanhol, francês, grego clássico, inglês, latim, provençal, russo e sueco).

Marburg é a cidade onde os Grimm estudaram Direito abriga o Grimm Path, roteiro a pé que passa por 15 pontos com pinturas e esculturas relacionadas aos contos de fadas (foto: Eduardo Vessoni)
Marburg (foto: Eduardo Vessoni)

A rota turística dos Grimm continua em Kassel, destino que os abrigou por mais de 30 anos, considerado o período mais fértil das carreiras literária e acadêmica dos dois irmãos, como a criação da Gramática Alemã.

É ali que fica o Grimm Welt, onde estão os manuscritos originais, com anotações e tudo. Localizado a pouco menos de 150 km de Frankfurt, o local abriga a maior coleção de obras dos Grimm, em toda a Alemanha.

Enquanto trabalhavam em uma biblioteca de Kassel (Wilhelm como secretário, de 1814 a 1829, e Jacob como bibliotecário, entre 1816 e 1829) surgia, em 1819, o primeiro volume da obra.

Exilados em Kassel, devido a um protesto que encabeçaram contra a violação da Constituição conduzida pelo rei de Hannover, Ernst August I, Jacob e Wilhelm foram convidados pelo novo rei da Prússia, Frederico Guilherme IV,  para irem a Berlim e escreverem um dicionário diacrônico de alemão.

A dupla não chegou a ver a obra pronta, mas os dois foram os criadores do Grande Dicionário Alemão (Deutsches Wörterbuch, no original), um trabalho em 32 volumes sobre a história da língua alemã com 350 mil verbetes e mais de 25 mil fontes documentam a história da língua alemã entre os séculos 8 e 20.

A obra não concluída foi finalizada, em 1960, por 120 estudiosos da língua alemã.

Mas as histórias alemãs mais famosas, em todo o mundo, ainda são as de mocinhas que dormem um sono profundo e dos sapos que viram príncipes, entre tantas outras.

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