Teatro Oficina ganha plataforma digital com figurinos de peças históricas

Ainda tenho fresca na memória a foto de jovens atores pendurados numa espécie de andaime, ao longo de uma passarela, estampada na capa da Ilustrada, em 1993, anunciando a reabertura do Teatro Oficina, no Bexiga, em São Paulo.

A montagem histórica de Ham-let que reinaugurava o novo edifício do teatro era o teatro que eu queria ver, mas não sabia (que existia!).

Mais de três décadas depois, o figurino dessa e de tantas outras montagens assinadas pelo diretor Zé Celso podem ser vistos pelo público, desde o último dia 22 de outubro, quando foi lançada a plataforma digital Casa de Acervo.Oficina.

Apesar de ter sido inaugurado em 2023, o local tem uma nova fase com o apoio do ProAC 38/2024 da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, ampliando o acesso público àquele vasto patrimônio.

foto: Eduardo Vessoni

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Dedicado à preservação de mais de 35 anos de história do Teatro Oficina, o espaço virtual disponibilizará mais de três mil itens históricos, como figurinos, adereços e objetos de cena produzidos ao longo de três décadas.

“Esse terreiro eletrônico celebra e zela milhares de figurinos”, descreveu a atriz Cristina Mutarelli, que abriu com Márcio Telles o evento de inauguração do projeto, em que o Viagem em Pauta esteve presente, na última quarta-feira, 22 de outubro.

Entre os destaques, estão itens de espetáculos emblemáticos como Hamlet (1993), Cacilda! (1998), Os Sertões (2000-2007), O Rei da Vela (2017), Roda Viva (2018), Esperando Godot (2022) e Mutação de Apoteose (2023/2024).

“É um trabalho completamente vivo, é a história da gente. É um acervo para usar, não é um museu”, descreveu o ator Marcelo Drummond.

Assim como lembra Elisete Jeremias, diretora de cena e diretora-geral da Casa de Acervo.Oficina, alguns figurinos criado há décadas entram em cenas de novas produções.

“É um patrimônio vivo em expansão constante”, descreve Jeremias.

foto: Eduardo Vessoni

No site (www.acervo.teatroficina.com), o público pode fazer a pesquisa de figurinos, usando filtros como Espetáculo, Quem Vestiu e Coleção.

A reportagem conversou com exclusividade com Sonia Ushiyama, que já assinou peças de quase 30 espetáculos do Teatro Oficina, para saber onde a figurinista bebia para produzir o figurino de uma companhia tão cheia de referências de outras linguagens.

“Você vai se embriagando porque é muita referência, muita informação. Por exemplo, se acontecia um evento político, durante a temporada de uma peça, o Zé mudava tudo, inseria uma cena inteira que ele escrevia de madrugada. Quando a gente acordava, tinha aquela bomba. O teatro do Zé era muito vivo”, descreve Ushiyama.

Sonia Ushiyama (foto: Eduardo Vessoni)

O novo projeto da casa, que a partir de novembro voltará com as visitas guiadas no local, não só preserva a produção têxtil, mas também faz a catalogação digital dos figurinos e adéqua as normas de segurança do espaço, que fica na rua Maria José, no Bexiga.

A Casa conta com um núcleo de sete artistas da CIA. Uzyna Uzona e com a contribuição de dez profissionais e estudantes das áreas de Moda, Biblioteconomia e Museologia.

Já a equipe de catalogação, espinha dorsal científica e prática do projeto, é formada por um grupo de participantes da oficina ministrada por Cláudia Nunes, que está fotografando e preenchendo todos os formulários necessários sobre cada peça para inclusão no acervo digital.

Figurinos de Cacilda 1998, usados por Beth Coelho (esq.) e Ligia Cortez (dir.) (foto: Divulgação)

Além dos três eixos de preservação física, outra vertente do projeto é a difusão da memória oral do Teatro Oficina.

Por meio de um canal do YouTube, serão veiculadas entrevistas com figurinistas, criadores e atores que atravessaram décadas colaborando com as produções da companhia.

“Esse acervo só existe nas condições em que está hoje porque tivemos o empenho e a dedicação de muitos artistas e profissionais de cena, como Otto Barros e a camareira Cida Melo, que há mais de 25 anos cuida de tudo”, diz Jeremias.

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