Dia da Mulher: machismo marcou a carreira da primeira aviadora do Brasil


Empoderamento feminino não é novidade. Pelo menos, não para Thereza de Marzo.

Sem apoio da família e com um pai que acreditava que “lugar de mulher era dentro do lar”, essa paulistana é considerada a primeira brasileira a receber o diploma de piloto-aviador internacional.

Para isso, rifou uma vitrola, foi a pé até o Aeródromo Brasil e se matriculou nas aulas de voo, onde foi orientada por aviadores veteranos da 1ª Guerra Mundial, como os italianos Enrico e João Robba, e o alemão Fritz Roesler, seu principal incentivador.

Thereza de Marzo (foto: Instituto Embraer/Divulgação)

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De acordo com a FAB (Força Aérea Brasileira), Thereza evoluiu muito bem na pilotagem de seu próprio Caudron G-3, de 90 kW (120 hp).

Foi então com essa aeronave francesa comprada por oito contos de réis que, no dia 17 de março de 1922, a brasileira fez seu voo solo, aprovado com distinção pela banca examinadora formada por Luís Ferreira Guimarães, diretor do Aeroclube do Brasil, pelo instrutor Fritz Roesler, pelo piloto e instrutor João Robba, e pelos deputados Manuel Lacerda Franco e Amadeu Saraiva.

No mês seguinte, a aviadora receberia da Fédération Aeronautique Internacionale o brevê nº 76 de Piloto-Aviador, tornando-se assim a primeira aviadora brasileira.


Quatro anos mais tarde, Thereza se casaria com Roesler que, curiosamente, não permitiu que a esposa continuasse voando, alegando que já bastava um aviador na família. Com 329 horas e 54 minutos de voo em caderneta, a pioneira dos ares brasileiros encerrava a carreira quatro anos depois de iniciada.

Em solo, Thereza continuou trabalhando com o marido em empreendimentos da aviação, em projetos como a criação da Escola de Pilotagem e do Clube de Planadores, no Campo de Marte (SP), onde o engenheiro Roesler fabricou os primeiros planadores EAY-101 e os aviões “Paulistinha” EAY-201.

A outra 1ª aviadora brasileira

Thereza de Marzo, porém, não estava sozinha.

Anésia Pinheiro Machado, paulista de Itapetininga, divide com Thereza o título de 1ª aviadora brasileira, cujo brevê nº 77 foi recebido com diferença de apenas um dia, segundo o historiador Roberto Pereira.

Anésia Pinheiro Machado (foto: Instituto Embraer/Divulgação)

Instruída pelo mesmo Fritz Roesler, Anésia estreou na aviação em um voo de São Paulo para Santos, no litoral paulista. Mas aquilo foi pouco e, meses depois, ficaria conhecida como a primeira mulher a comandar um voo interestadual no Brasil.

A viagem entre São Paulo e o Rio de Janeiro foi feita em um monomotor Caudron G3 (“Bandeirante”) e durou quatro dias até o destino final. O desafio era voar apenas 1h30 por dia, já que era preciso fazer diversas paradas para reabastecimento e manutenção da aeronave.

E adivinha quem estava à sua espera na chegada ao Rio de Janeiro?

Além de autoridades, Anésia foi recebida por ninguém menos que Alberto Santos Dumont, quem lhe deu uma réplica de uma medalha de ouro recebida pela princesa Isabel, cuja peça a aviadora levou consigo como amuleto até o final da vida.


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Tudo que sobe, desce

Mais intrépida, Ada Rogato foi outra das pioneiras da aviação.

Nascida no bairro do Cambuci, na capital paulista, quatro anos depois do histórico voo do 14-bis, Ada é considerada a primeira brasileira a obter licença como paraquedista, incluindo a façanha do primeiro salto noturno de paraquedas, na Baía de Guanabara.

Ada foi também a primeira a pilotar um planador, cujo brevê C foi conquistado a bordo de um Grunau Baby, a terceira a obter brevê, após Thereza e Anésia, e a primeira pilota agrícola do Brasil.

Ada Rogato (foto: Divugação/KLM)

Sempre sozinha, a aviadora realizou mais de 200 voos de patrulhamento voluntário no litoral paulista e, em 1950, atravessou os Andes onze vezes. No ano seguinte, Ada quebraria outro recorde, voando mais de 51 mil quilômetros, num voo solitário até o Alasca que durou seis meses.

Mas não parou por aí, não.

A paulistana também foi pioneira ao cruzar, sozinha, a região amazônica em uma aeronave sem rádio, tendo como guia apenas uma bússola.

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* com informações do Museu Aeroespacial e da companhia aérea KLM

2 Comentários

  1. Deixem de falar besteira nos títulos para chamar a atenção das pessoas. Celebrem o fato de que elas alcançaram suas façanhas, apesar de viverem numa época em que não era comum as mulheres se dedicarem a tais atividades, e nem serem incentivadas a isto. Mas, essas dignas mulheres venceram as limitações impostas por alguns homens, mas não de todos, senão não teriam chegado aonde chegaram.
    Se a própria Thereza tivesse se queixado, o tema da matéria teria seu valor. A atitude do seu instrutor e posteriormente, marido, provavelmente se deu não por machismo, mas por precaução, já que a aviação, em seus primórdios não era segura para homens e mulheres. Celebrem o cuidado do homem que amava uma mulher e cuidava dela com zelo e não atribuam isto a machismo.

  2. Em complemento ao comentário anterior, ainda acrescento que não foi uma, mas três mulheres distintas que se destacaram na aviação brasileira. Todas elas foram homenageadas pelos homens e, possivelmente, foram denegridas por mulheres invejosas que não tiveram a mesma coragem e determinação que elas, embora a imprensa e nem ninguém tenha acesso a tais informações.
    Parem de atribuir tudo ao machismo. Homens e mulheres contribuíram, ao longo da história com seus atos de coragem e determinação.
    Será que dá para escreverem matérias sem atribuirmos aos estereótipos do machismo e feminismo a tudo de ruim que aconteceu na história?

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