Do sagrado ao profano: ciclista celebra 60 anos com pedal na Estrada Real

Quando a turismóloga Renata Tardin foi morar na Bahia, nos anos 90, seu único meio de transporte era a bicicleta. Aos 50, pedalou sozinha 870 quilômetros no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha.

E agora, no aniversário de 60 anos, não vai ser diferente.

No final de agosto, essa empresária de Porto Seguro vai pedalar 1.130 quilômetros na Estrada Real, a maior rota turística do Brasil, cujos mais de 1.600 quilômetros passam por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Renata Tardin, na Toscana, em 2012 (foto: Arquivo Pessoal)

Serão em média 37,7 km por dia, no Caminho dos Diamantes (de Diamantina a Ouro Preto) e cerca de 45,13 km diários, no Caminho Velho (de Ouro Preto a Paraty).

“Sou movida a desafios”, diz Renata, em entrevista para o Viagem em Pauta.

Não só a desafios, mas também a longos deslocamentos, ganho de altimetria e, como ninguém é de ferro, movida a uma cervejinha.


Na Estrada Real

A viagem de aniversário de Renata Tardin se chama “60 anos de bike na estrada – Do sagrado ao profano” porque a regra é começar o pedal sempre às 8:00, em frente da igreja matriz da cidade, e parar no primeiro boteco que encontrar na cidade do pernoite.

“À tarde, é só bater papo e ver cachoeiras”, planeja.

Outro desafio vai ser encarar as inevitáveis ladeiras da Estrada Real que, no caso do roteiro dela, terá 20 mil metros de altimetria acumulada, com variações para mais ou para menos, de acordo com o dia.

Arquivo Pessoal

“É uma superação diária. Meu objetivo é chegar sem cair e se tiver que descer e empurrar [a bike], não tem problema, não tenho que provar mais nada para ninguém”, esclarece a ciclista.

E assim deve ser nos cerca de 30 dias dessa cicloviagem, que vai ganhar companhia de amigos e familiares que vão se juntar em diferentes pontos do roteiro.

Para Renata, porém, essa viagem vai ser de descobertas, como o peso das suas bagagens. Quanto mais leve for, mais leve será sua trajetória. “Você começa a ver qual o valor e o que faz sentido para a sua vida”, analisa.

Renata em travessia no sul da Bahia (foto: Eduardo Vessoni)

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“Acabamos carregando muito mais do que precisamos. A maior parte do que a gente carrega são os nossos medos, o medo de sentir frio, de passar fome”, ensina a ciclista.

No entanto, dessa vez, Renata se permitiu, digamos assim, contar com um certo luxo e vai estar acompanhada de um carro de apoio para levar malas, ferramentas e uma bicicleta reserva.

“Vamos levar os medos, mas também as alegrias”, brinca.

Arquivo Pessoal

Como se preparar

Em primeiro lugar, Renata sugere respeitar o limite do corpo, fazendo um treino prévio e progressivo. Mas ela lembra também que um bom desempenho não depende apenas de atividades físicas, “é o que você come e o descanso que você dá para o seu corpo”.

Quem viaja com alforje deve considerar que o peso a ser carregado não pode ultrapassar 10% do peso do ciclista. Por isso, são recomendadas roupas de secagem rápida, como camisetas com tecido dry fit, e duas peças de cada (bermuda e calças para o frio), além de jaqueta corta-vento, tênis, sandália e ferramentas básicas para possíveis consertos da bike.

“Num percurso bem estruturado como esse, com cidades próximas, você pode comprar no local. Kit de primeiros socorros qualquer lugar tem”, recomenda a ciclista.

No Caminho de Santiago de Compostela, em 2014 (foto: Arquivo Pessoal)

Seu treino começou, há seis meses, quando passou a fazer musculação duas vezes por semana e acompanhamento com um médico especializado em longevidade saudável. Sem falar no treino funcional (3x/semana) e um pedal exclusivo em ladeiras (4x/semana).

Mas antes de montar na bicicleta, Renata avisa:

“Não adianta ter só o corpo preparado e não ter a mente também preparada. É você com você mesmo”, finaliza.

Agora, só nos resta aguardar a comemoração dos seus 70 anos.


SAIBA MAIS

Renata Tardin é responsável também por uma agência especializada em cicloviagens, em destinos como o Parque Nacional Pau Brasil, centro histórico da cidade, Santo André e Santa Cruz Cabrália, todos com saída de Porto Seguro, no litoral sul da Bahia.

O Viagem em Pauta já esteve com ela, durante a cenográfica travessia até Caraíva, uma viagem de quase 50 quilômetros, feita sobre duas rodas e combinada com uma trilha, no trecho final.

Os destaques do roteiro são as praias onde você e seu guia serão os únicos, piscinas naturais e falésias, e uma sequência de outros cenários que só podem ser vistos por quem chega a pé ou de bicicleta.

bahiaactive.com.br

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