Parque Nacional de Sete Cidades: o Brasil do tempo da pedra


Aquelas cidades nos sertões do Piauí não falam nem se movem, mas fazem o visitante sair pensativo dali. Suas ruínas monumentais têm uma ou outra rua, seis ou oito casas e torres rochosas que parecem proteger aquele lugar encantado.

Quase 140 anos depois do jornalista cearense Jácome Avelino descrever assim aquelas cidades petrificadas, o turista de hoje não fica indiferente diante do que se vê no Parque Nacional de Sete Cidades.

A 200 quilômetros de Teresina, o primeiro parque nacional do Piauí guarda formações rochosas de 450 milhões de anos e um conjunto bem preservado de pinturas rupestres de idade (ainda) desconhecida.

E as melhores notícias são a entrada gratuita e o acesso fácil para quem não está acostumado com trilhas mais longas.

foto: Eduardo Vessoni

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Parque Nacional de Sete Cidades

Uns dizem que foi uma antiga cidade fenícia. Outros, que seria coisa de extraterrestres. O certo é que o Parque Nacional de Sete Cidades, nos municípios de Brasileira e Piracuruca, é daqueles brasis que todo mundo deveria conhecer.

Assim como explica a condutora Maria Janaína de Sousa, o nome do parque é por conta das formações rochosas “que lembram pessoas, animais, objetos e ruínas”, daí a divisão em sete cidades imaginárias, na verdade, sete afloramentos rochosos diferentes.

Em cada uma delas é possível chegar de carro até o início das trilhas curtas que dão acesso a formações que um dia foram o fundo do mar, como as pedras do Elefante e a da Tartaruga, ambas na Sexta Cidade, cujos polígonos lembram o casco de uma réptil.

“Mas depende da imaginação de cada um”, avisa Maria Janaína.

Isso porque nem chegamos nas pedras da Biblioteca (Segunda Cidade) e da Cabeça de Índio (Terceira Cidade). Sobrou até para Dom Pedro I, que também tem uma formação que, dizem, se parece ao perfil do primeiro imperador do Brasil.

foto: Eduardo Vessoni

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Outro destaque é o conjunto de pinturas rupestres que, assim como a Serra da Capivara, no sudeste do Piauí, também conta com passarelas para uma melhor visualização daquela arte de idade desconhecida.

Assim como avisa a condutora, são mais de 40 sítios catalogadas na área do parque, mas só 12 estão abertos à visitação.

“Infelizmente, por conta da falta de vestígios arqueológicos não temos datação para o Sete Cidades, mas vamos ter, em breve. Por conjectura, podemos dizer que [as pinturas rupestres] têm cinco ou oito mil anos, mas dizer exatamente quanto é chute”, explica a professora de arqueologia da Universidade Federal do Piauí, Conceição Lage, em entrevista para o jornalista Eduardo Vessoni.

foto: Eduardo Vessoni

Outra curiosidade que a professora aponta é a presença de ‘carimbos’ de mãos, algumas delas com seis dedos, que ela e outros pesquisadores da universidade têm tentado “levar para o lado da representação xamânica desses carimbos que são típicos desse estado alterado de consciência”.

“Muitos pesquisadores não aceitam essa teoria, mas não dá pra esconder, isso é bem marcante lá”, garante.

A professora só lamenta que uma área arqueológica tão importante seja tão pouco visitada e que, atualmente, não conte mais com a estrutura de antes, quando o local abrigava um hotel e a Casa do Pesquisador.

No entanto, conforme informou o Instituto Semeia, via nota enviada ao Viagem em Pauta, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), recentemente, abriu consulta pública para serviços no Parque Nacional de Sete Cidades.

De acordo com o instituto, a permissionária ficará responsável pelos serviços de hospedagem, comercialização de alimentos e de itens de conveniência e souvenir.

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Onde ficar

Parnaíba, segundo maior município do Piauí depois da capital Teresina, é a cidade com melhor infraestrutura para visitar o Parque Nacional de Sete Cidades.

É no centro histórico da cidade que fica o Casa de Santo Antônio, daqueles lugares que são a própria história.

Nesse hotel boutique em um casarão de 1911, nenhum quarto é igual a outro e cada uma das unidades tem uma história para contar.

Hotel Casa de Santo Antônio

“São suítes temáticas, diferentes uma das outras. Como era uma casa [residencial], a gente teve que aproveitar os espaços e transformá-los em suítes”, conta a gerente Fátima Matos.

São 22 quartos temáticos em áreas históricas dessa construção tombada pelo IPHAN, como as suítes coloniais do setor que um dia foi uma tecelagem, no porão da casa.

Já a antiga cozinha foi transformada na suíte Princesa Isabel, enquanto que a D. Pedro I ocupa a zona mais nobre do casarão, com móveis de época em uma área de 50 m² e pé direito de cinco metros de altura, aproximadamente.

O casarão é da época do lucrativo comércio de cera de carnaúba e da carne de charque, quando a elite local prosperou e construiu palacetes semelhantes à Casa de Santo Antônio.

foto: Divulgação

Um dos destaques do hotel é o cardápio de atividades extras para os hóspedes, como a visita que o Viagem em Pauta fez ao Sete Cidades, a 140 quilômetros dali.

Uma parada que vale ser feita, na mesma viagem para o parque nacional, é em Piracuruca, cidade que guarda remanescentes urbanos e arquitetônicos do século XVII e que tem seu conjunto histórico e paisagístico tombado pelo Iphan, desde 2012.

E como dizem lá na Casa de Santo Antônio, é “se aventurar na Natureza e repousar na História”.

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