Parque em Belém, sede da COP30, revela história oculta da Amazônia

Principal destino de lazer ao ar livre de moradores e visitantes de Belém, capital do Pará, o Parque Estadual do Utinga revela uma história da Amazônia que poucos sabiam até então.

Recentemente, foram descobertos por pesquisadores e exploradores urbanos vestígios de antigos trilhos ferroviários, soterrados por décadas pela vegetação, revelando assim mais um capítulo da modernização paraense, no início do século XX.

Segundo o Ideflor-Bio (Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará), a estrutura descoberta, a partir de uma pesquisa multidisciplinar que vai da arqueologia à psicologia, da arquitetura à história, é uma tecnologia francesa de trilhos móveis, leves e adaptáveis a terrenos instáveis.

foto: Ideflor-Bio/Reprodução

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Belém oculta

No Pará, a instalação daquele sistema de bitola ultra-estreita, conhecido como Decauville, esteve ligado ao Canal do Água Preta, obra do engenheiro Francisco Bolonha, que alimentava os reservatórios responsáveis pelo abastecimento da capital.

Embora tais caminhos de ferro já tenham sido mencionados, anteriormente, como no livro “A aventura de Pola Brückner”, publicado em Berlim em 1929 com relatos da alemã Pola Bauer-Adamara sobre viajar em um pequeno vagão pelos trilhos camuflados na mata, estudos ainda devem ser feitos para entender a utilidade dos trilhos à época.

Pola é considerada a primeira cineasta alemã a documentar a Amazônia.

“A fagulha veio quando li os relatos dela sobre trilhos no Utinga. Combinando esse material com meu conhecimento sobre o parque e mapas antigos, comecei a buscar vestígios. Foi um processo longo, de mais de um ano, até localizarmos os primeiros fragmentos e, depois, trechos inteiros em surpreendente estado de conservação”, explicou em nota o gestor ambiental Diego Barros.

Ainda de acordo com o instituto que administra o parque, “a primeira hipótese é de que eles [os trilhos] serviam ao transporte de materiais de construção e manutenção dessa estrutura vital para Belém”.

foto: Ideflor-Bio/Reprodução

Para o Ideflor-Bio, a descoberta foi marcada por três etapas importantes: um primeiro achado inconclusivo e um segundo fragmento com ferragens da empresa americana Byton, que fornecia equipamentos de abastecimento na época.

A terceira delas, a mais emblemática, se deu a partir de fotos históricas cedidas pela filha do engenheiro paraense Paulo Augusto Gadelha Alves, com as quais foi possível identificar a localização exata dos trilhos.

Para Barros, mais do que peças oxidadas, os trilhos são “marcas de um tempo em que a Amazônia experimentava inovações e enfrentava desafios logísticos inéditos, incorporando tecnologias globais em plena floresta tropical”.

Já o presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, acredita que essa é mais uma forma de entendermos a relação entre a cidade e a floresta.

“A descoberta desses trilhos mostra que o Parque é também um guardião da memória. Cabe a nós preservar esse legado para que as futuras gerações possam conhecer e se orgulhar da história que atravessa a Amazônia”, analisa, em nota.

foto: Jonas Santana/Reprodução

A Gerência da Região Administrativa de Belém (GRB) do Ideflor-Bio já avalia formas de preservação e sinalização dos achados, vislumbrando a criação de um circuito histórico dentro do Parque Estadual do Utinga.

A ideia é integrar ecoturismo, educação ambiental e valorização do passado, transformando a unidade de conservação em um espaço de múltiplas descobertas, como a natureza viva e a memória resgatada.

Criado para proteger os mananciais que abastecem a Região Metropolitana de Belém, o Parque Estadual do Utinga ocupa, atualmente, uma área de cerca de 1,3 mil hectares e conta com atividades como trilhas de fácil acesso até árvores gigantes, como samaumeiras e castanheiras, ciclovias e lagos que abastecem a cidade, como os Bolonha e Água Preta.

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