Quem vê aquele baixinho de tiradas hilárias fazendo malabarismo (e graça) na cozinha do seu restaurante nem imagina o passado de privação e superação daquele cozinheiro do Tibete.
Ao lado da esposa brasileira Adriana, Ogyen Shak é o dono do primeiro restaurante de culinária tibetana no Brasil. Mas poderia não ter sido, não fosse sua insistência.
Aos 16 anos, fugindo da ocupação chinesa no Tibete, Ogyen cruzou a pé o Himalaia, uma viagem de cerca de dois meses que lhe custaria a perda de amigos e a amputação de alguns dedos do pé, devido à gangrena causada pelas baixas temperaturas durante a travessia.
Após uma longa internação de um ano, em um hospital para refugiados no Nepal, recomeçou a vida na Índia com arte sacra, pintando em templos de mestres como Dalai Lama e Dzongsar Kyentse Rinpoche.
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Em 2006, numa daquelas sincronias da vida, Ogyen Shak desembarcava no Brasil não só para coordenar trabalhos artísticos no templo budista tibetano Odsal Ling, em Cotia (SP), mas também para conhecer, três anos depois, sua futura esposa Adriana que, na época, fazia trabalho voluntário no Khadro Lin, templo em Três Coroas (RS).
Em funcionamento desde 2013, também em Três Coroas, o Espaço Tibet é a concretização de mundos diferentes: o dele e o dela, em um encontro entre a desconhecida culinária tibetana e os temperos brasileiros.
“Neste restaurante, eu quero dividir minha paixão pelo Tibete. E o Brasil é parte do meu crescimento”, explica o falante Ogyen, durante passagem do Viagem em Pauta por essa cidade gaúcha, a 100 km de Porto Alegre.
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Tibete no Brasil
O Espaço Tibet é o primeiro restaurante do Brasil com cozinha daquele território aos pés da Cordilheira do Himalaia.
Nesse espaço com cara de templo, com direito a imagens budistas na decoração e mantras de trilha sonora, são servidos pratos ainda desconhecidos do público brasileiro.
Comecei a viagem gastronômica com as tradicionais trouxinhas tibetanas, cozidas no vapor e flambadas na manteiga. O momo (a partir de R$29,90), uma espécie de guioza, pode vir recheado com carne, batatas ou legumes.
Entre uma história e outra, com relatos de Ogyen que vão sem dificuldade do drama à comédia, o casal me recebeu também com o racha (R$85,90), pratos com generosos pedaços de pernil de cordeiro ao molho de cravo, acompanhado de cenoura caramelada e arroz branco com castanhas. Tudo servido em tigelas de porcelana, dispostas à mesa para serem compartilhadas entre todos.
A sobremesa foi um Nohlok Tse (R$16,90), um purê de banana com uvas passas, castanha de caju e sorvete de creme.
“Eu passei fome, então eu como de tudo. Essa experiência amadurece a vida de qualquer pessoa”, justifica Ogyen, enquanto uma sequência interminável de pratos vai chegando à mesa.
Devido à dificuldade de encontrar ingredientes no Brasil, Ogyen conta com a ajuda do pai que costuma enviar temperos do Tibete, como a pimenta-de-sichuan.
A mistura das cozinhas oriental e brasileira segue em um cardápio enxuto com opções como carnes grelhadas, acompanhadas de pão tibetano com açafrão e ervas (Ti momo), queijo branco à moda do Tibete e arroz branco com castanhas.
Não deixe de provar também o po cha, chá tibetano de manteiga, preparado com leite, sal e chá preto.
Há anos atrás, Ogyen Shak perderia a liberdade, mas ganharia um novo país (e a gente, uma das experiências gastronômicas mais emocionantes em terras gaúchas).
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[stextbox id=’servico’]SAIBA MAIS
Espaço Tibet
Rua Alagoas, 361 – Bairro Águas Brancas (Três Coroas/RS)
Tel.: (51) 3546-5763
www.espacotibet.com.br[/stextbox]
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