Antes de mais nada, Ariano Suassuna é muito mais do que protagonista de vídeos de aulas-espetáculos que viralizam na internet sem muito esforço.
Esse escritor de João Pessoa é também o criador de uma iniciativa no Recife que levava à população arte erudita com manifestações culturais populares do Nordeste.
Em outras palavras, é Suassuna em forma de arte plástica, música e prosa (entre as tantas habilidades do autor da peça ‘Auto da Compadecida’).
Pra entender o Movimento Armorial, o Centro Cultural Banco do Brasil (SP), abre nesta quarta-feira (20 de julho) a exposição “Movimento Armorial 50 anos”.
No ano em que o escritor completaria 95 anos, cerca de 140 obras estarão expostas em diversos formatos, assinadas por artistas importantes para o Movimento, como Gilvan Samico e Aluísio Braga, muitas delas retiradas do Recife pela primeira vez.
“Ele [Ariano Suassuna] propunha uma volta às raízes brasileiras, com profundo respeito à diversidade, às tradições de negros, índios e brancos, mas apresentando tudo de forma mágica, lúdica e plena de um humor que faz pensar”, define a curadora Denise Mattar, em nota enviada ao Viagem em Pauta.
De São Paulo, “Movimento Armorial 50 anos” segue para o CCBB Brasília, no dia 13 de outubro.
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Como é a exposição
Das xilogravuras ao colorido das festas populares, dos cantos aos cordéis, tudo promete ser uma experiência única.
Por isso, a viagem começa no quarto andar, onde o visitante conhece a cronologia ilustrada de Suassuna com vídeos, bem como livros e manuscritos.
Logo depois, é possível ver os figurinos (originais e cópias) criados por Francisco Brennand para o filme ‘A Compadecida’, longa de 1969 dirigido por George Jonas.
Baseado na peça ‘Auto da Compadecida’, o filme com Antonio Fagundes e Regina Duarte também terá cenas exibidas na exposição.
Além disso, o espaço traz também fotos das filmagens feitas em Brejo da Madre de Deus, no Planalto da Borborema, em Pernambuco.
Estão expostos ainda os trabalhos da Orquestra e do Quinteto Armorial, e do artista Gilvan Samico.
Logo depois, o 2º andar tem iluminogravuras de Suassuna, tapeçarias da esposa Zélia e pinturas do filho Manuel Dantas Suassuna.
A iluminogravura de Ariano Suassuna
A partir da mescla das palavras “iluminura” e “gravura”, esse neologismo foi criado por Suassuna, que também era artista plástico.
As ilumiaras (outro neologismo do paraibano) são locais de arte implementados quando ele foi Secretário da Cultura de Pernambuco e estão expostas em painéis fotográficos.
A iluminura era ilustração para livros copiados a mão, adaptada por Suassuna com nanquim preto sobre papel, cuja matriz dava origem a cópias impressas.
A partir daí, cada uma delas era colorida, manualmente, com tintas guache, óleo e aquarela.
“Quando ele desenvolve o ‘Auto da Compadecida’, o Jesus é um Jesus negro. E, naquele momento, ele desenvolve o conceito de ‘ilumiara'”, diz a curadora Denise Mattar.
De acordo com Manuel, é uma palavra criada “para locais sagrados para ele”, como os painéis de pedra da ” Ilumiara Zumbi”, homenagem a Zumbi dos Palmares e sua própria casa, a “Ilumiara Coroada”.
Porém, a exposição tem ainda produções a partir de peças como ‘A Pedra do Reino’ e o ‘Lunário Perpétuo’.
Já o subsolo abriga xilogravuras assinadas por artistas como J.Borges, e também a Cidade de Cordel, ambiente instagramável criado por Pablo Borges, especialmente, para a exposição.
Suassuna para conversar e ouvir
E em agosto e setembro, o visitante poderá participar do evento “Conversas sobre a Arte Armorial”.
Por exemplo, a “Aula Espetaculosa – do Mendigo ao Pintor” será conduzida pelo filho do escritor, que aborda os caminhos na arte a partir de uma primeira influência armorial do seu pai.
Esse ciclo de encontros abordará a criação Armorial em áreas como literatura, teatro, música, dança e artes visuais.
“A riqueza inesgotável da cultura popular, fonte maior da arte armorial, com seus elementos ibéricos, indígenas e africanos, induziu a criação de uma poética aberta, que nos liga tanto à tradição da cultura mediterrânica quanto às tradições da arte popular de países do terceiro mundo”, explica Carlos Newton Júnior, professor e curador convidado.
Aliás, a programação tem também duas horas de músicas que podem ser ouvidas durante a visita.
A playlist no Spotify abre com a faixa ‘Toada e desafio’, tema do filme ‘Central do Brasil’, de Walter Salles Jr., e músicas de Antônio Nóbrega e do Quinteto Armorial, entre outras.
Quem faz a exposição
A exposição aborda diversos aspectos da carreira de Suassuna.
Por isso, conta com Guilherme Isnard (expografia e arquitetura), Manuel Dantas Suassuna (consultoria), Ricardo Gouveia de Melo e Ana Lucas (identidade visual), e Regina Rosa de Godoy (projeto e coordenação geral).
“Levar esta exposição para São Paulo, cidade que sempre recebeu e acolheu milhares de nordestinos, é levar um pouco da terra, do sotaque, da alegria, da esperança e da brasilidade do nordeste”, diz Regina Godoy, filha e neta de nordestinos.
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