O dia em que Charles Darwin visitou o Brasil

Por quase cinco anos, Charles Darwin esteve em lugares que muita gente nem fazia ideia que existia no planeta. Mas foi no Brasil que o jovem cientista de 22 anos teve algumas das suas melhores impressões.

“Delícia, no entanto, é termo insuficiente para dar conta das emoções sentidas por um naturalista que, pela primeira vez, se viu a sós com a natureza no seio de uma floresta brasileira”, escreveu em seus diários.


Entre dezembro de 1831 e outubro de 1836, Darwin deu a volta ao mundo como um dos tripulantes da expedição a bordo do barco a velas Beagle.

Na Patagônia, se assombrou com a cordialidade dos gigantes da Terra do Fogo, os “patagões”; cruzou os Andes a cavalo; em Galápagos, no Equador, conquistou sua maior coleção de plantas e animais; e, antes de chegar à Nova Zelândia, se encantou com os nativos “sorridentes e alegres” do Taiti.

HMS Beagle no Estreito de Magalhães, na Patagônia (foto: Domínio Público)

LEIA TAMBÉM: “O legado de Fernão de Magalhães e a primeira volta ao mundo”

Brasil

Para começar uma viagem, é preciso ter planejamento, para depois, a própria viagem se “desplanejar”.

A viagem ao redor do planeta em que Darwin embarcou, sob comando de Robert FitzRoy, deveria durar apenas alguns meses, mas a tripulação só voltaria para a Inglaterra, quase cinco depois. Curiosamente, mais de três deles foram em explorações terrestres.

Foi naquela viagem revolucionária que o inglês coletou dados que, mais tarde, fundamentariam o Evolucionismo, a teoria que defende a ideia da modificação progressiva das espécies e suas adaptações ao ambiente.

Mas o Brasil, ah o Brasil!

Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Pernambuco, Brasil

O primeiro Brasil que Charles Darwin viu

Depois de uma breve passagem pelas Ilhas Canárias e Cabo Verde, a tripulação do Beagle chegou ao Brasil. Os primeiros pedaços de terras que viu, a distantes 1.100 km da costa, foram os arquipélagos de São Pedro e São Paulo.

Era tanta novidade para os animais encontrados, que muitos apresentavam alto grau de tolerância à presença humana, como as aves dos rochedos de São Paulo, “mansos e estúpidos (…) que eu poderia ter abatido quantos quisesse com meu martelo geológico”, confessou em seu diário.

Fernando de Noronha
Logo, a tripulação chegaria à rudez desse arquipélago de origem vulcânica, a 540 km da costa brasileira, onde Darwin se encantou com o Morro do Pico.

No pouco tempo que esteve ali, o que mais chamou a atenção foi o icônico Morro do Pico que Darwin, quase com precisão, estimou ter 310 metros de altura (o ponto mais alto de Noronha mede, na verdade, 323 metros).

VEJA TAMBÉM: “Fernando de Noronha, a Ilha Maldita”

Salvador
O jovem cientista achou a Bahia uma delícia e confessou um prazer tão profundo que “jamais se poderá sentir algo assim outra vez”.

Vagou por horas, foi surpreendido por uma tempestade tropical e se divertiu com o curioso diodon, um tipo de peixe-balão que infla o corpo para afastar predadores.

Rio de Janeiro
A convite de um inglês que tinha uma propriedade ao norte de Cabo Frio, Darwin e outras seis pessoas seguiram em caravana pela atual Região dos Lagos, onde nada se movia nos bosques, exceto “borboletas grandes e brilhantes que preguiçosamente esvoaçavam de um lado para outro”.

Darwin paralisou diante da imponência do Corcovado, “colossais massas redondas de rocha nua”, e achou a temperatura, mesmo no inverno, uma delícia.

“Não se pode nem mesmo dar um passo sem lamentar a perda de uma novidade qualquer”, escreveu sobre sua permanência em uma propriedade rural na Baía de Botafogo.

No entanto, há quase 200 anos, Darwin já reclamaria de alguns problemas que ainda parecem tão atuais em terras brasileiras. Achou sofrível o serviço numa venda em “Mandetiba”, na região de Saquarema, e criticou a situação de algumas estradas e pontes por onde passou.

“Não se pode ter certeza de nenhuma distância”, escreveu, ainda no Rio de Janeiro.

Charles Darwin (imagem: Creative Commons)

Antes da volta à Inglaterra, o Beagle passaria ainda pela Ilha Maurício, a leste da África, “um agradável cenário intermediário entre Galápagos e o Taiti”, mas sem o charme desse último, “nem a grandeza do Brasil”, na comparação de Darwin.

Após a famosa viagem do Beagle, o mapa-múndi deixaria de ser um vazio para se tornar uma imagem de figuras variadas, segundo os últimos parágrafos de seu diário.

E, no caso do jovem naturalista, isso mudaria o mundo inteiro.

CONFIRA WEB STORY

SAIBA MAIS

“Viagem de um naturalista ao redor do mundo” (volumes I e II)
por Charles Darwin
L&PM Editores
www.lpm.com.br

LEIA TAMBÉM: “Viagens épicas que valem a pena conhecer”

1 Comentário

  1. Nenhum comentário sobre o horror que Darwin sentiu com a brutalidade da escravidão portuguesa? Escreveu muito sobre isso. Ele jurou nunca mais por os pés no Brasil.

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*