Por que a Panair deixou de voar?

Com rotas inéditas e serviço de excelência, a Panair do Brasil era a marca brasileira mais famosa no exterior.

A companhia aérea funcionou no país entre 1930 e 1965, com voos para destinos do Oriente Médio, Europa e América do Sul, cujas viagens eram um evento social com listas de passageiros publicadas até em jornais.

Mas daí chegou a ditadura militar e colocou, para sempre, a empresa no chão.

fotos: Jaime Accioly / Museu Histórico Nacional – Coleção Panair do Brasil

Em fevereiro de 1965, o presidente Castelo Branco suspendia as concessões da companhia, sob a alegação de endividamento e falta de segurança, em uma manobra que favorecia as aéreas concorrentes.

“Não se espatifou no chão, naturalmente, por enfermidade. Foi abatida enquanto alçava voo”, descreve o jornalista Daniel Leb Sasaki, autor do completo ‘Pouso Forçado’ (editora Record), livro que detalha as manobras por trás do fechamento da aérea.

Na época do seu fechamento, a Panair contava com uma frota de 24 aviões e voava para 14 países, em 4 continentes. Já com a aquisição da respeitada oficina mecânica Celma, em 1957, a aérea passaria a ter a maior estrutura aeronáutica de manutenção de motores em todo o país, uma espécie de autorizada na América Latina pelas fabricantes mundiais.

Cinco anos antes de fechar, a empresa já contabilizava quase 6 mil travessias do oceano Atlântico e o piloto Coriolano Tenan se orgulhava de suas mais de 26 mil horas de voo.

Assim como lembra Daniel Sasaki, a falência decretada pelo juiz Mário Rebello foi “um golpe sobre o golpe”, já que na época a empresa empregava cinco mil pessoas, contava com aeroportos próprios e tinha serviços de correio aéreo.

Por isso, o caso foi considerado arbitrário e sem nenhum amparo legal, e era visto como uma perseguição política aos sócios Celso da Rocha Miranda (foto) e Mário Wallace Simonsen, identificados com os governos de JK e João Goulart.

Em entrevista para o jornalista Eduardo Vessoni, o filho do então acionista Celso da Rocha Miranda, Rodolfo da Rocha Miranda, avalia o caso como uma “perseguição política a seus sócios majoritários”.

Anos mais tarde, o caso ficaria conhecido como “a 1ª perseguição da ditadura militar contra uma empresa”, além de causar também uma crise humanitária, já que o Norte do Brasil deixaria de contar com voos da Panair que, desde o início dos anos 30, operava hidroaviões na Amazônia para levar suprimentos a pontos isolados do país.

Em 2014, porém, a Comissão Nacional da Verdade confirmava a ilegalidade das ações contra uma empresa impedida de se defender diante das manobras lideradas pelo governo da época e da concorrência interessada nas rotas internacionais da Panair.


Senhora do destino

A Panair era sinônimo de serviço de excelência.

A empresa, por exemplo, inovou não só com a criação dos primeiros “bacuraus” da aviação comercial brasileira, como eram chamados os voos noturnos, mas também com as primeiras refeições quentes servidas nas alturas.

Seus escritórios na Europa eram uma espécie de elo afetivo de brasileiros fora do país, cujas agências internacionais da Panair eram “um autêntico pedaço da pátria”, com direito a café, guaraná e jornal brasileiros.

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Com mais de 40 destinos atendidos na Amazônia com seus hidroaviões Consolidated PBY-5 Catalina, a Panair ficou conhecida também como a “senhora do Norte”, para onde levava, voluntariamente, correio, remédios e profissionais da saúde, como médicos e dentistas, para o Alto Rio Negro.

“Eu acho que a Amazônia foi Brasil por muitos anos graças a Panair, o único ponto de integração da região amazônica”, lembra o comandante Oracy Acevedo de Abreu no documentário ‘Panair do Brasil’, de Marco Altberg.

A origem da Panair

Fundada em 1929 como Nyrba do Brasil S.A, a Panair do Brasil S.A. só surgiria em outubro de 1930, cujo primeiro voo de passageiros, lançado no ano seguinte, cobria a rota Belém-Santos.

Naquela época, a viagem incluía pernoites em três capitais e vinha com uma novidade: a presença de um “aeromoço” a bordo. No cardápio de voos dessa aérea que chegou a ser dona da maior malha de rotas domésticas do mundo tinha opções como o Egito, Líbano e o longo voo de 19 horas, entre o Rio de Janeiro e Nova York.

Em setembro de 1930, surgia a Panair do Brasil como resultado da junção entre a Pan American Airways, a Nyrba Inc. (New York, Rio e Buenos Aires) e a subsidiária Nyrba do Brasil.

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