Guarulhos é a alma de ‘Mamonas Assassinas: o Filme’

Assim como avisa a voz em off, logo na abertura de ‘Mamonas Assassinas: o Filme’, parece que foi ontem que aqueles cinco jovens “passaram para o lado de lá”. Em uma época sem smartphones nem redes sociais, o quinteto foi da fama meteórica à comoção nacional, em menos de um ano.

Em março de 1996, a carreira dessa banda irreverente foi interrompida por um trágico acidente aéreo na Cantareira, quando os músicos voltavam de um show em Brasília.

Mas quase três décadas depois, a banda, que até hoje tem milhares de ouvintes em plataformas de streaming de música, vai ganhar uma nova versão da sua história. No próximo dia 28 de dezembro, ‘Mamonas Assassinas: o Filme’, com direção de Edson Spinello, estreia em mais de 800 salas de cinema do Brasil.

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foto: Divulgação

No último dia 13 de dezembro, o Viagem em Pauta esteve na coletiva de imprensa que aconteceu em São Paulo com a presença de Spinello, da produtora Walkiria Barbosa e de parte do elenco, que contou, entre outros assuntos, curiosidades e particularidades dos bastidores.

Mas isso não é tudo.

Em breve, deve sair um audio movie com as canções cantadas no longa, intercaladas com diálogos do filme e, assim como também adiantou a produtora, uma versão estendida em forma de série será lançada, em 2025, com outras histórias que não entraram no longa.

foto: Eduardo Vessoni


Curiosidades de ‘Mamonas Assassinas: o Filme’

O filme foi todo rodado em Guarulhos, pois “não fazia sentido tirar eles de lá”, como lembra Walkiria, que chegou a morar na cidade da banda, na Grande São Paulo, durante os quatro meses de produção.

“A cidade me abraçou e ali eu descobri que ela é muito especial, onde 2/3 é uma APA (Área de Proteção Ambiental)”, disse, em relação ao Núcleo Cabuçu do Parque Estadual Cantareira.

E a mesma Cantareira que levou aqueles meninos, precocemente, agora os traz de volta, em forma de cinebiografia.

“Guarulhos ama os Mamonas e, aonde eu ia, era sempre abordada por alguém que tinha algum vínculo com algum dos músicos”, lembra Walkiria, que também assina a direção de arte do longa.

Um dos endereços de Guarulhos que aparece no longa é o Ginásio Poliesportivo Paschoal Thomeo, o Thomeuzão, onde a então banda Utopia ouviu de um funcionário que aquele era lugar para grandes bandas.

Anos mais tarde, em janeiro de 1996, os Mamonas se apresentariam no local para 18 mil pessoas e com abertura da banda… Utopia. O show ficou conhecido pelo desabafo em que Dinho senta na beira do palco e faz um discurso sobre não desistir de seus sonhos.

Cena de ‘Mamonas Assassinas: o Filme’ (foto: Divulgação)

Assim como contou Spinello, durante a coletiva, o apoio dos familiares dos músicos também foi fundamental durante todo o processo de produção, desde o roteiro até as gravações.

“Sempre tinha alguém da família para abraçar os atores e trazer informações pessoais. Numa cinebiografia precisa ter esse apoio”, definiu o diretor.

Um dos casos mais emblemáticos foi o encontro do ator e cantor Ruy Brissac com a mãe do vocalista do Mamonas, que ficou impressionada com a semelhança entre o ator e o filho. Foi desse encontro, por exemplo, que Ruy incorporou no seu texto a expressão “mãinha”, como Dinho, que nasceu em Irecê, na Bahia, costumava chamar Dona Célia.

Ruy Brissac (foto: Eduardo Vessoni)

Outra curiosidade se refere ao guitarrista Bento, que era de Itaquaquecetuba e no filme é interpretado por seu sobrinho Beto Hinoto, cujas diversas tatuagens no corpo exigiam do ator chegar ao set duas horas antes para longas sessões de maquiagem.

Com mais de 70 cenários, ‘Mamonas Assassinas: o Filme’ tem um figurino com cerca de mil peças, entre produzidas para o longa e originais doadas pelos familiares dos músicos, como a jaqueta do baixista Samuel que o ator Adriano Tunes usa na famosa cena de despedida no aeroporto.

Divulgação

A produtora Walkiria também fez questão de avisar que todas as canções da banda cantadas no filme foram gravadas pelo elenco, posteriormente, mixadas pelo premiado engenheiro de som Gabriel Pinheiro, vencedor de dois Grammy Latino por trabalhos de mixagem com Edu Lobo e Chico Buarque.

Os integrantes da formação original dos Mamonas são interpretados por Ruy Brissac (Dinho) e Adriano Tunes (Samuel), que já tinham participado do ‘Musical Mamonas’, em 2016, com direção de José Possi Neto, além de Beto Hinoto (Bento), Rhener Freitas (Sérgio) e Robson Lima (Júlio Rasec).

“Nossa preocupação era encontrar as pessoas certas para aqueles papéis. E foi mágico quando filmamos o primeiro show, onde a equipe e os figurantes ficaram muito emocionados, tivemos certeza de que os Mamonas estavam ali com a gente”, descreve Walkiria.


E a Brasília amarela?

Fãs de carteirinha do Mamonas Assassinas não devem se decepcionar com as diversas referências aos integrantes da banda.

Cheio de hits da banda, o longa tem figurinos originais e elenco que convence, com destaques para a impressionante semelhança de Ruy Brissac com o vocalista Dinho (coração de mãe não se engana) e a preparação corporal de Beto Hinoto, que interpreta o tio Bento.

Mas quem vem de outras gerações, anteriores ou posteriores à banda, pode perder o fio da meada, em um roteiro que parece mais preocupado em focar nos conflitos pessoais, como relacionamentos amorosos e dramas familiares.

Sobra vida pessoal, mas faltam Mamonas.

Apesar de começar cinco anos antes da criação do quinteto, o roteiro do filme é uma colagem de acontecimentos biográficos que se arrasta no início com a história da banda Utopia e dispara numa velocidade que, por pouco, deixa de abordar a fase final da carreira, como o excesso de shows e o acidente na Cantareira.

Ok, o filme não é uma análise social sobre a massificação cultural, muito menos um documentário investigativo sobre o acidente aéreo que matou os integrantes da banda, mas não dá para deixar de fora o fato de que a fatalidade na Cantareira contribuiu para um interesse ainda maior sobre os Mamonas.

E deixar isso apenas nas imagens em miniatura nos créditos finais é diminuir a monumentalidade do quinteto.

foto: Divulgação

Como não poderia ser diferente numa cinebiografia sobre músicos que foram do rock progressivo ao deboche, o filme foge da montagem tradicional e traz ao público uma edição clipada que, em alguns momentos, faz o público ter a sensação de estar em um show gravado.

Sobra música, mas falta uma abordagem à altura daquele fenômeno musical superexposto na mídia da época.

Fãs e brasileiros nostálgicos devem se divertir ao assistir ao ‘Mamonas Assassinas: o Filme’, mas não esperem nada mais do que uma história morna sobre uma das bandas mais populares do Brasil até hoje.

E, ao final da sessão, saí com a sensação de que aprendi mais sobre Guarulhos do que sobre os Mamonas Assassinas.


VEJA CURIOSIDADES DO ‘MAMONAS ASSASSINAS: O FILME’

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