Quando chegar o Dia das Mães, no próximo domingo, 12 de maio, ela já terá emitido quatro passaportes, percorrido 10 países e estado duas vezes bem perto do Campo Base do Everest.
Parece até a história de alguma viajante experiente, mas esse é o currículo viageiro de Kora Oliani Kausch, a filha de pouco mais de dois anos do casal de montanhistas Karina Oliani e Max Kausch.
No próximo domingo, às 20h30, essa “bebê aventureira” estreia o documentário de média-metragem Kora Mundo Afora, uma coprodução da Pitaya Filmes com o canal OFF e direção da própria mãe, que também é médica especializada em emergência e resgate em áreas remotas.
E a depender do que o Viagem em Pauta viu na pré-estreia num cinema de São Paulo, no último dia 8 de maio, Kora parece bem à vontade neste mundo imenso que acabam de lhe apresentar, seja numa trilha no Nepal, no solo vulcânico de uma ilha no Havaí ou acompanhando a descoberta da mãe no snowkite, no Canadá.
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Mas antes que você torça o nariz para quem levou a própria filha de seis meses para a Ásia, segue a explicação da própria mãe:
“O melhor lugar para a criança estar é com os pais. E, se a natureza deles for a montanha ou o mar, que a criança esteja na natureza com eles. A melhor coisa é estar perto do amor e do cuidado dos pais”, defende Karina, em entrevista exclusiva para o Viagem em Pauta.
Soa clichê dizer que crianças crescem rápido demais, mas no caso da Kora, caiçara nascida em Ilhabela e “fabricada no Pico da Neblina”, o tempo tem sido, digamos, bastante apressado.
Aos dois anos e dois meses de vida, ela já coleciona experiências como visitar beduínos no deserto de Omã, conviver entre sherpas do Nepal e estar duas vezes em Bonito (MS), uma das capitais nacionais do ecoturismo.
Sem falar nos -30 °C nas montanhas dos Himalaias e nos mais de 40 °C, em Omã.
“Essa menina foi feita para viajar com a gente. É meu chaveirinho”, conta Karina, em um dos depoimentos para o filme.
Assim como lembra a pediatra da bebê, Mabene Gadiolii, esses estímulos são um verdadeiro presente para ela. Ainda que a criança não vá se lembrar, irá carregar isso para toda a vida.
“É um filme emocionante que mostra o quanto a nossa filha vai ter uma noção diversificada de mundo e que cada povo tem a sua particularidade”, analisa a mãe.
Em Kora Mundo Afora, a família divide também com o público viagens para destinos como Fiji, Bahamas, Nepal, Canadá e Trancoso, na Bahia.
Um pé na trilha e dois olhos na bebê
Parece tudo uma vida sem roteiro. Mas, durante a entrevista para esta reportagem, Karina fez questão de deixar sempre claro que tem pedras a percorrer quando se viaja com criança pequena.
Na medida do possível, o casal procura aceitar trabalhos em que a filha possa estar com eles, nem que para isso os avós antecipem as próprias férias para dar uma mãozinha.
“O pai dela é muito presente e nos apoiamos muito um ao outro, mas temos também uma rede de apoio maravilhosa do nosso lado que nos ajuda nessas horas”, conta Karina sobre a participação dos avós de Kora e também do Max, escalador desde os 17 anos, com mais de 200 montanhas no currículo.
Mas, em se tratando de viagens com crianças, é preciso saber quais seus limites e estabelecer a hora de parar.
Em uma das duas vezes em que o casal levou a filha para o Nepal, a pequena foi demonstrando cansaço e Karina decidiu abortar o trekking de mais de 100 quilômetros de extensão, 600 metros antes do Campo Base do Everest.
“Como médica, eu me sinto mais segura para levá-la para esses lugares. Mas daquela vez eu reparei que a altitude estava pegando para ela”, conta a mãe. Nada mal se compararmos com turistas fantasiados de aventureiros que, muitas vezes, sequer conseguem carregar a própria água ou o bastão de caminhada.
Quanto à escolha dos destinos certos para crianças, Karina lembra que cada cultura exige dos visitantes comportamentos diferentes e os pais precisam respeitar essas diferenças.
Se em alguns países, como a Suécia e a Nova Zelândia, é normal ver crianças fazendo trilhas, em outros, amamentar um bebê em um restaurante pode chocar a população local.
“A Kora já dormiu três semanas em uma barraca, na cordilheira dos Andes. Para mim, é bem normal”, analisa Karina, que é a primeira brasileira a escalar a temida K2 e a primeira sul-americana a escalar as duas faces do Everest.
“Lugar de bebê é onde os pais quiserem. Nossa jornada foi cheia de desafios, mas mostra como é possível explorar o mundo em família, ao contrário do que muitos pensam.”
Karina Oliani
Sem falar nas vezes em que testou os limites físicos, caçando tornados nos EUA, fazendo tirolesa sobre um lago vulcânico, na Etiópia, ou participando da primeira equipe a escalar os 350 metros da cachoeira mais alta do Brasil, no Amazonas.
Difícil mesmo é encarar o preconceito, muitas vezes, acompanhado de duras doses de machismo.
“Foi bem louco porque para o pai dela, que é guia de montanha e também viaja muito, ninguém perguntou como seria a vida quando a Kora nascesse”, compara Karina, que chegou a ser criticada inclusive por colegas médicos, “como se eu estivesse levando minha filha para a forca”.
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Dia das Mães
Para quem tem o mundo lá fora como meta, celebrar datas não é o forte dessa família que, no aniversário recente de dois anos da filha, em março, improvisou o parabéns no avião mesmo, numa viagem de volta dos Estados Unidos.
“Mas depois os avós quiseram fazer uma festa no buffet. Então nós fomos e, de lá, seguimos para as Filipinas”, lembra a mãe.
Em 2024, porém, o Dia das Mães deve ser em casa mesmo, na frente da TV, quando o doc Kora Mundo Afora chega à grade do Canal OFF, às 20h30.
Para terminar a entrevista com Karina Oliani, eu até cogitei perguntar quando Kora ia conhecer a Disney. Mas, pensando melhor, achei que seria uma viagem de baixo impacto (físico).
SAIBA MAIS
Kora Mundo Afora estreia no Canal OFF, no próximo domingo, 12 de maio, às 20:30
pitayafilmes.com.br
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