Tal qual Fordlândia, no vizinho Pará, um pedaço da história da Amazônia segue abandonada e sendo tratada com desprezo.
Na margem direita do Rio Negro, a 30 quilômetros de Manaus (AM), a Vila de Paricatuba continua atraindo turistas que por, conta própria, visitam as ruínas do que foi um antigo leprosário, no município de Iranduba.
A construção, erguida no final do século XIX para hospedar imigrantes italianos, durante o Ciclo da Borracha, já foi também casa de detenção, Liceu de Artes e Ofícios e hospital para portadores de hanseníase.
De acordo com o Instituto Durango Duarte, o Leprosário Belisário Penna tinha capacidade para trezentos enfermos e funcionou como área de isolamento, entre 1931 e o início da década de 1960, quando os pacientes foram transferidos para a Colônia Antônio Aleixo, em Manaus.
Mas nem a Lei nº 4.260, de 2015, que declarou o local como Patrimônio Histórico Cultural Imaterial do Estado do Amazonas, conseguiu garantir um melhor uso para o local, atualmente, tomado pela floresta que cobra o que lhe foi tirado.
Com alto potencial para o turismo histórico e de experiência, daqueles que outros países tão bem conseguiram transformar em produto turístico, a Vila de Paricatuba parece longe de voltar ser o que um dia foi um imponente exemplar arquitetônico, com pisos de pinho de riga, paredes com azulejos portugueses e janelas coloniais.
De acordo com relatos encontrados nas redes sociais, turistas contam sobre a dificuldade não só para chegar ao local, mas também de encontrar pessoas que possam guiar visitantes.
E o que o visitante vê hoje, além de ruínas, parece fruto das alucinações causadas pelo paricá, que emprestou seu nome para a vila, em referência ao rapé feito com sua casca e usado em rituais xamânicos.
Ruínas multiuso
Em algumas épocas do ano, a Vila de Paricatuba ganha uma demão de esperança e abriga eventos que têm as ruínas como cenário.
Em 2022, o projeto Natal nos Municípios iluminou as Ruínas de Paricatuba para receber apresentações musicais e teatrais para a comunidade local.
“É um local emblemático e por isso resolvemos fazer o evento aqui, contemplando as pessoas de Iranduba e também da Vila [de Paricatuba], pois elas merecem ver uma apresentação como essa”, declarou, na época, Davi Nunes, maestro e diretor do Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro.
No ano anterior, o local foi inspiração para o espetáculo Bolero – Nas Ruínas de Paricatuba, criado pelo Corpo de Dança do Amazonas (CDA) com o objetivo de ocupar espaços públicos com a dança. Concebido para as ruínas de Paricatuba, a apresentação acabou virando uma live transmitida no palco do Teatro Amazonas, devido às restrições da pandemia de covid.
Fordlândia: outra vila fantasma
Localizada no município de Aveiro, no Pará, Fordlândia foi um dos maiores fracassos da história da montadora Ford, no Brasil.
O proprietário Henry Ford, que em 1927 investiu pesado na criação de uma cidade operária no estado, pôde até ter domado máquinas e homens com seu bem sucedido sistema de produção industrial. Mas na maior floresta tropical do mundo, o buraco da seringueira é bem mais embaixo.
Altas temperaturas, doenças tropicais e solo inadequado foram as primeiras barreiras na intenção de produzir o próprio látex para suas fábricas nos Estados Unidos.
Neste texto publicado no Viagem em Pauta, você conhece os 5 erros da Ford na Amazônia.
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