Você sabia que o Brasil tem certidão de nascimento? Veja curiosidades

Por pouco, a certidão de nascimento do Brasil não foi por água abaixo, literalmente.

Depois do achamento do Brasil, em abril de 1500, cinco naus da esquadra do capitão Pedro Álvares Cabral, de um total de 11 embarcações, se perderam, durante a viagem em direção à Índia.

Não fosse o envio prévio do texto, pelo barco de mantenimentos, o rei Dom Manuel nunca teria lido o frescor das letras escritas por Pero Vaz de Caminha ao chegar à Terra de Vera Cruz.

A seguir, você conhece algumas curiosidades sobre a carta desse escrivão português.

Trecho da carta de Pero Vaz de Caminha (Reprodução)

Carta de Pero Vaz de Caminha

Escrito em 1º de maio de 1500, esse documento híbrido pode ser tomado não só como um importante registro histórico da chegada dos europeus no Novo Mundo, mas também como um documento literário.

Por isso, a carta é considerada tanto a certidão de nascimento da futura nação como também o primeiro relato de viagem que se tem notícia sobre o que viria a se chamar Brasil.

“A carta foi escrita como um diário, entre os dias 9 de março e primeiro de maio de 1500, último dia em que os navegantes permaneceram na Bahia”, contam os pesquisadores Maria de Fátima Nunes Madeira e Marcelo Módolo, autores da edição modernizada d’A carta de Pero Vaz de Caminha (Ateliê Editorial).

Assim como eles apontam, é bem possível que o Brasil seja o único local do mundo moderno portador de uma “escritura do próprio ato de nascimento”.

A partir desse relato, é possível compreender detalhes da época, como os costumes dos habitantes locais, seu comportamento pacífico, suas casas, vestuário, alimentação, utensílios, como arcos, setas e machados, e a inexistência de animais domésticos.

Falaram sem nunca se entenderem

Após partir de Belém, em Portugal, as naus passaram pelas Ilhas Canárias e por Cabo Verde, antes de toparem “alguns sinais de terra” e logo, à noitinha, um “grande monte mui alto e redondo”, a que o capitão chamou de Monte Pascoal.

No dia seguinte, 23 de abril de uma quinta-feira de 1500, a tripulação avistou os primeiros locais tintos de tintura vermelha que nem a água desfazia.

“Todos nus, sem nenhuma coisa que lhes cobrisse suas vergonhas.”

Pero Vaz de Caminha

Impossibilitados de travarem qualquer diálogo com palavras, trocaram presentes: uma carapuça de linho para os que habitavam aquelas terras e um sombreiro de penas de aves para os recém-chegados.

Ouro, prata e papagaios, segundo o diálogo em forma de mímica, parecia já haver no local. Mas os anfitriões só se espantariam com uma galinha trazida pelos europeus e sequer quiseram pôr a mão naquele bicho novo. O vinho oferecido pelos europeus também não agradou.

Para o padre Manuel da Nóbrega, de acordo com a professora Sheila Hue da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), em texto para o jornal O Globo, os indígenas “eram como papel em branco, onde se poderia escrever o que quisessem”.

Hue é responsável também por mais uma das obras que analisam o documento escrito por Caminha, a edição comentada “Carta de achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha (Editora da Unicamp).

Barra do Cahy, no sul da Bahia (foto: Divulgação)

Porto Seguro

Sabe aquela história de que o Brasil português começou em Porto Seguro? Bom, não foi exatamente assim.

Por décadas, a atual cidade do sul da Bahia levou a fama de ser a primeira praia do Brasil (aquela onde os portugueses tiveram o ‘achamento desta vossa terra nova’). Mas, desde 2017, a Barra do Cahy, no litoral de Prado, guarda o título de “1ª Praia do Brasil”.

De acordo com pesquisadores, a faixa de areia descrita na carta de Pero Vaz de Caminha, em 1500, no extremo sul da atual Bahia, teria sido o local exato onde a tripulação de Pedro Álvares Cabral fez a primeira parada estratégica por 40 horas antes de chegar em Porto Seguro.

CAHY
Rio Caí, em Prado (foto: Eduardo Vessoni)

SAIBA MAIS: “Barra do Cahy: a primeira praia do Brasil”

Atualmente, a praia abriga até uma réplica da cruz de madeira e um trecho da carta de Caminha, onde se lê: “Barra do Cahy, aqui nasceu o Brasil”.

Embora esses sejam os relatos mais antigos do achamento de nossas terras, Cabral não foi o primeiro a chegar aqui.

O navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón teria aportado por aqui, em janeiro daquele mesmo 1500, bem como Duarte Pacheco Pereira, que teria chegado ao litoral brasileiro, em 1498.

O primeiro amém

“Ouvida por todos com muito prazer e devoção”, a primeira missa no Brasil foI entoada por Frei Henrique Soares de Coimbra, em 26 de abril de 1500. Terminado o ritual religioso, os locais se levantaram e tocaram uma espécie de buzina feita com chifre animal.

Sobre a receptividade dos locais, que a cada dia que passava eram mais e mais curiosos a observarem aqueles homens diferentes, Caminha concluiu que os que aqui estavam eram “muito mais nossos amigos, que nós seus”.

Pintura de Victor Meirelles da primeira missa no Brasil (Domínio Público)

Para Hue, “desbravar” e “civilizar” significou, na prática, “invadir”. E o resto da história qualquer brasileiro sabe onde a história foi parar.

Para finalizar o registro, o escrivão ainda pediria ao rei de Portugal a liberação de seu genro Jorge de Osório, exilado em São Tomé, na época uma ilha do arquipélago de São Tomé e Príncipe usada como local de exílio.

“Deste Porto Seguro da vossa ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro de Maio de 1550”, finalizou Pero Vaz de Caminha.

A carta, porém, permaneceria desconhecida do público até o ano 1773, quando foi descoberta em Lisboa, na Torre do Tombo, e publicada pela primeira vez no Brasil somente em 1817.


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