A Índia que a escritora brasileira Cecília Meireles viu, nos anos 1950, não está tão distante da que se vê ali, hoje em dia.
Ruas cheias de gente, roupas coloridas, presente-passado (e futuro?). Mas o que lhe chamou a atenção mesmo foi a procissão Ratha Yatra, em Puri, no estado de Odisha.
Anualmente, essa cidade na costa leste da Índia, às margens da Baía de Bengala, se transforma em um grande centro de peregrinação, não só por conta do Templo de Jagannath, mas também pelo festival hindu Ratha Yatra, que em 2024 acontece no dia 7 de julho.
“É perigoso chegar-se à Índia como simples turista. Tudo aqui requer uma explicação prévia. Tudo aqui é simbólico, e nem sempre esse simbolismo atende às solicitações da estética ocidental”.
(Crônicas de Viagem)
A Índia dos deuses
O Ratha Yatra é considerado o maior e mais antigo desfile de carruagens (‘rath’, em língua hindi) do mundo, quando as ruas dessa cidade-templo são tomadas por milhares de peregrinos que acompanham, ao som de hinos e cânticos, o desfile de três imensos carros alegóricos, em homenagem a Jagannath, o ‘Senhor do Universo’, e seus irmãos Balabhadra e Subhadra.
Assim como a própria brasileira explica na coletânea Crônicas de Viagens (Global Editora), são carros imensos, de 15 metros de altura, aproximadamente, e rodas com cerca de dois metros de diâmetro.
Decoradas com flores, pinturas, estatuetas e gravuras em latão, as carruagens de madeira transportam três divindades que saem do Templo Jagnannath e fazem um percurso de três quilômetros de extensão pela Bada Danda (‘Grande Avenida’) até o Templo Gundicha, onde repousam por uma semana, antes de serem levados de volta.
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Ao longo da procissão, o Senhor Jagannath faz paradas em diferentes locais, como o Templo Mausi Maa, em homenagem à sua tia materna, para comer seu prato preferido: panquecas doces.
O festival, que costuma reunir pessoas de todas as religiões e castas, ao longo de nove dias, é o único na Índia em que as divindades são retiradas de seus templos de origem. Aliás, o Rath Yatra é o único dia do ano em que não hindus têm a oportunidade de ver as divindades do templo Jagannath Puri.
Outra curiosidade é que Jagnannath, no estado de Odisha, é o nome local dado a Krishna.
“Deuses seculares, milenares, eternos… Deuses que devem estar vendo tudo isto, muito melhor do que nós os vemos”, concluiu Cecília Meireles.
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