Serra do Roncador: a terra do verdadeiro Indiana Jones

Parece até coisa de cinema. Cenários isolados, portais para outras dimensões, trilhas no interior de cânions e aeroporto para… extraterrestres.

A mais de 500 km de Cuiabá, no sudeste do Mato Grosso, a Serra do Roncador faz parte de uma extensa cadeia montanhosa, conhecida por suas cachoeiras escondidas e abertas para visita. Só em Barra de Garças, cidade-base para quem visita o destino, na divisa com Goiás, são mais de 100 (cenográficas) quedas d’água.

Tem uma com acesso por trás do véu d’água, outra no interior de um cânion com jatobás centenários e até uma que, além das araras, quase ninguém sabe onde fica (mas que vai fazer você rever seus conceitos de beleza natural).

Não é à toa que o destino já foi chamado de Portal para Atlântida e acesso para a Terra Oca, uma espécie de cidade intraterrena.

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O verdadeiro Indiana Jones
Em uma área de transição entre o Cerrado e a Amazônia, por décadas, a Serra do Roncador atraiu exploradores e esotéricos em busca de cidades escondidas.

O mais famoso deles foi Percy Harrison Fawcett, um coronel britânico que tinha certeza que a cobiçada ‘Cidade Z’ ficava no Brasil.

Em busca dessa civilização perdida, em 1925, Fawcett, seu filho Jack e um amigo partiram de Cuiabá para uma “das matas mais intratáveis da Amazônia”, nas palavras do biógrafo David Grann.

Sabe-se lá o que aconteceu naquele inferno verde – se encontraram um portal para outra dimensão ou se foram devorados por indígenas – mas o trio nunca mais voltou para contar história.

Percy Fawcett
Percy Fawcett (foto: Domínio Público)

Com um gosto exagerado por aventuras e com seu inconfundível chapéu Stetson, Fawcett ficaria conhecido como “O Verdadeiro Indiana Jones”. Diz a lenda que o coronel, uma mistura de Sherlock Holmes com o professor de arqueologia dos filmes de Steven Spielberg, teria inspirado a criação do personagem Indiana Jones.

“Fawcett queria realizar a maior descoberta do século, mas protagonizou o maior mistério da exploração do século XX”, escreve David Grann, autor da biografia “Z, a Cidade Perdida” (Companhia das Letras).

E se o Roncador ainda não conseguiu esclarecer certas dúvidas, o destino, pelo menos, trata de inspirar com um dos cenários turísticos mais isolados do Brasil.


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O QUE FAZER NA SERRA DO RONCADOR

Exceto por alguns atrativos mais urbanos, como o Parque Estadual da Serra Azul, a
a Serra do Roncador não é destino para viajantes independentes. Localizados em áreas de florestas fechadas e acesso apenas com carros 4×4, os atrativos são melhor aproveitados com o acompanhamento de agências de ecoturismo.

Bico da Serra
A imagem mais famosa do destino é esse atrativo no distrito Vale dos Sonhos, a pouco mais de 60 km de Barra do Garças.

Da própria BR-158, dá para ver essas formações esculpidas pelos mesmos ventos que deram nome à essa região roncadora. Com alguma dose de imaginação, é possível avistar rochas avermelhadas em forma de santa, indígena, guardião e até um Dedo de Deus.

Com mais de quatro mil quilômetros, entre o Pará e o Rio Grande do Sul, o trecho local dessa estrada foi aberto durante a Marcha para o Oeste, como ficou conhecido o projeto audacioso de conquista e povoamento do interior do Brasil, nos anos 40, liderado pelos Irmãos Villas Boas.

Bico da Serra (foto: Eduardo Vessoni)

Gruta da Estrela Azul
Na mesma saída para o Vale dos Sonhos, esse sítio arqueológico tem inscrições em alto-relevo.

Já o Arco de Pedra tem acesso por uma trilha de 300 metros até um mirante natural sobre um platô com vista para a Serra do Roncador, uma extensão da Chapada dos Guimarães.

Mirante no Arco de Pedra (foto: Eduardo Vessoni)

Assentamento Serra Verde
A 42 km de Barra do Garças, esse é um dos poucos atrativos locais que podem ser visitados com veículo próprio e sem o acompanhamento de guias.

Administrado por cerca de 100 famílias, o local é dividido em sítios que funcionam independentes, como o corredor de cachoeiras do Sítio Paraíso, entrecortado por buracos no solo que formam uma espécie de ofurô individual.

Mas é na vizinha Cachoeira Água Limpa, na propriedade de mesmo nome, que o visitante faz uma trilha fácil de menos de um quilômetro até um poço escondido que recebe as águas potentes dessa cachoeira.

Cachoeira Água Limpa (foto: Eduardo Vessoni)

Rota Franciscana
Sem dúvidas, é um dos cenários mais impressionantes da viagem, a 130 quilômetros de Barra do Garças.

Com acesso pela boca de uma gruta, a Cachoeira São Francisco tem entrada por trás do espelho d’água, mas sem acesso para banho, por estar em área pedregosa e de floresta densa.

Guias locais dizem que Fawcett teria passado por ali, em busca da Cidade Perdida.

Cachoeira São Francisco (foto: Eduardo Vessoni)

Complexo do Bateia
Essa espécie de parque de diversão para amantes de cachoeiras é uma sequência de quedas interligadas pelas águas do rio que desce serra abaixo, naturalmente, canalizadas por cânions estreitos que criam atrativos como o tobogã natural da Cachoeira do Escorrega, cujas águas formam uma piscina natural.

O destaque é a Cachoeira Bailarina, uma das mais altas do Roncador, uma queda de cerca de 90 metros que termina em um poço de águas rasas e fundo arenoso, rodeado por pedras que parecem cubos espalhados sob a base de um paredão rochoso.

Em um único dia e sem pressa, dá para visitar sete delas, como a acolhedora Caldeirão da Bruxa e o cenográfico Poço do Duende, a poucos metros da Bailarina.

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Cachoeira Bailarina (foto: Eduardo Vessoni)

Santuário das Araras
Abrigo de araras-vermelhas, esse é um dos cenários mais isolados e desconhecidos da Serra do Roncador.

A caminhada pelo interior de um vale passa por trechos escorregadios e floresta densa. Mas a recompensa é a cachoeira que se esfumaça, antes de chegar no impactante lago de águas cristalinas, aos pés de muralhas rochosas.

Santuário das Araras (foto: Eduardo Vessoni)

Aeroporto para extraterrestres
Conhecido internacionalmente como o primeiro espaço do mundo destinado a receber OVNIs, esse “aeroporto” fica dentro do Parque Estadual da Serra Azul e tem acesso por área urbana de Barra do Garças.

Feito para fotos turísticas em uma das temáticas que giram em torno do destino, o local é bem simples e abriga uma réplica de uma nave, placas de metal em forma de ET e outra com uma nave desenhada.

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QUANDO IR
Segundo guias locais, o destino tem seis meses de chuva (entre o verão e o outono brasileiros) e outros seis de seca (inverno e primavera).

No entanto, nos cinco dias que o Viagem em Pauta esteve no destino, em fevereiro, as chuvas foram isoladas e não comprometeram nenhum dos passeios programados.

foto: Divulgação

COMO CHEGAR
de carro

A 380 km de Goiânia e a pouco mais de 500 km de Cuiabá, a Serra do Roncador pode ser acessada com carro alugado ou em transfers oferecidos pelas agências locais, previamente, contratadas.

de ônibus
De Goiânia, a viagem dura entre 6h30 a 8h e é feita pela Viação Xavante. Em novembro de 2023, a passagem custava a partir de R$ 148,87.

de avião
O aeroporto mais próximo fica em Barra do Garças, cujos voos são operados, exclusivamente, pela Azul. A viagem de Cuiabá, em aeronaves Cessna Caravan, duram cerca de 1h50 e custam a partir de R$ 309.

QUEM LEVA
A Roncador Expedições (roncadorexpedicoes.com.br) é uma agência especializada em turismo off-road e tem roteiros com duração de 6 dias, incluindo transporte, guia, passeios, hospedagem e meia pensão. Pacotes, a partir de R$ 2.680.

2 Comentários

  1. Quando comecei a escrever O Visitante Noturno, pensei nesse lugar, apesar da história começar no DF, ela vai levar todos os mistérios para a serra do roncador, as cavernas e a lagoa encantada. Extraterrestres, cidade perdida e outro planeta carrega os mistérios de O Visitante Noturno.

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