Brasil ganha dois geoparques reconhecidos pela Unesco

Em meio à crise do meio ambiente e da preservação cultural, o Brasil acaba de receber uma boa notícia. Uma, não. Duas.

Nesta semana, a Unesco aprovou a nomeação de dois novos geoparques no Brasil, ampliando para 177 o número de locais que participam da Rede Global de Geoparques, em 46 países.

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Geoparques no Brasil

Um deles é o Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, famoso pelos cânions entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul.

A Serra Geral é uma impressionante sequência de montanhas esculpidas que deram origem a cânions profundos em destinos como Cambará do Sul (RS) e Jacinto Machado (SC).

A 205 km de Florianópolis e a 184 km de Porto Alegre, aproximadamente, a região é conhecida pelas trilhas nos cânions Itaimbezinho, no Parque Nacional dos Aparados da Serra, e no Fortaleza, o mais profundo e extenso deles, cujos paredões verticais no PN da Serra Geral chegam a 900 metros de altura e se estendem por 7,5 quilômetros.

Cânion Fortaleza (foto: Roni Bittencourt)

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“Após muito trabalho dos pesquisadores, este é um grande fato para o Brasil. Ficamos muito contentes porque é um tema que tende a crescer no turismo nacional, baseado na geodiversidade e no patrimônio geológico”, explica para o Viagem em Pauta Joana Sánchez, professora de geologia da Universidade Federal de Goiás e coordenadora da comissão de geoparques da Sociedade Brasileira de Geologia.

Geossítio Cânions dos Apertados, em Currais Novos (crédito: Getson Luís/Divulgação)

Já o Nordeste ganhou seu segundo geoparque reconhecido pela ONU, o Geoparque Global Seridó.

A 150 quilômetros de Natal, capital do Rio Grande do Norte, essa área de 2.800 km² é o registro de cerca de 600 milhões de anos da história da Terra, em atrativos como sítios arqueológicos, cânions e trilhas, em 21 geossítios (sítio geológico com formações de importante valor científico).

“Esse reconhecimento nos dará uma visibilidade internacional, atraindo visitantes para o território e afetando positivamente o turismo e o trabalho dos guias, condutores e hoteleiros”, comemora Janaína Luciana de Medeiros, diretora executiva do Consórcio Público Intermunicipal Geoparque Seridó.

Sítio Arqueológico Xiquexique I, em Carnaúba dos Dantas (crédito: EMPROTUR/Divulgação)

Assim como ela explica, o título é a concretização de um trabalho de organização e planejamento iniciado na região há 12 anos, em parceria com a comunidade dos seis municípios potiguares que formam o geoparque: Cerro Corá, Lagoa Nova, Currais Novos, Acari, Carnaúba dos Dantas e Parelhas.

“A gente ainda está aqui em êxtase com essa notícia. É um presente para o nosso povo, voltado para a valorização e para o sentimento de pertencimento.”

Janaína Luciana de Medeiros

Para o professor do Departamento de Geologia da UFRN, Marcos Nascimento, o título favorece um maior desenvolvimento territorial “por meio de práticas turísticas sustentáveis, associadas a conservação da natureza, bem como melhorias nas questões educacionais”.

Cânions dos Apertados, em Currais Novos, a pouco mais de 180 km de Natal (foto: Eduardo Vessoni(

Até então, o Brasil abrigava apenas um geoparque global, o Geopark Araripe, no sul do Ceará, uma área aproximada de 3.789 km², entre os municípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri.

Por ali, o destaque é a diversidade paleontológica, cujos registros vão de 150 a 90 milhões de anos.

O que fazer nos Cânions do Sul

Dona do maior conjunto de cânions da América do Sul, a região possibilita a visita dessas formações tanto por cima, como as tranquilas trilhas do Cotovelo e do Vértice (6 km e 1,5 km, respectivamente), como pelo seu interior, uma oportunidade única de caminhar por dentro dos cânions.

Trilha do Rio do Boi (foto: Eduardo Vessoni)

A mais impactante delas é a Trilha do Rio do Boi (12 km pelo interior do Itaimbezinho). Já no Fortaleza acontece a trilha do Tigre Preto, uma caminhada de 18 quilômetros por uma das áreas mais selvagens da região.

As trilhas têm acesso, respectivamente, por Praia Grande e Jacinto Machado, ambas cidades em Santa Catarina.

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O que fazer no Seridó

No interior do Rio Grande do Norte e longe daquele mar de águas convidativas, o turismo acontece na região do Seridó, em plena Caatinga nordestina.

Entre arbustos e árvores baixas, é possível fazer caminhadas curtas até atrativos como o Sítio Arqueológico Xiquexique, a 3,5 km de Carnaúba dos Dantas, e o geossítio Serra Verde, no município Cerro Corá, famoso por suas geoformas rochosas com mais de 530 milhões de anos e pinturas rupestres dentro de uma gruta.

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Geoparque Global

Desde 2015, esse selo dado pela Unesco reconhece os patrimônios geológicos de importância internacional, bem como suas diversidades biológica e cultural, combinando a conservação ao alcance público e o desenvolvimento sustentável.

As designações recentes na lista global da Unesco incluem ainda outros seis locais no mundo, como Luxemburgo (Geoparque Mëllerdall), Suécia (Platåbergens), Finlândia (Salpausselkä), Alemanha (Ries), Grécia (Cefalônia – Ithaca) e Romênia (Buzău Land).

De acordo com nota enviada pela ONU ao Viagem em Pauta, os oito novos geoparques juntos, algo em torno de 370.662 km², formam uma área equivalente ao tamanho do Japão.

A geóloga Joana Sánchez lembra que o Brasil conta com mais 36 projetos de criação de geoparques globais, como o da Chapada dos Guimarães.

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Geossítio Serra Verde, em Cerro Corá, no Rio Grande do Norte (foto: Eduardo Vessoni)

O que é um Geoparque?

Criado em 1990 com o objetivo de melhorar e conservar áreas de importância geológica na história da Terra, um geoparque abriga paisagens e formações geológicas que testemunham a evolução do planeta, determinando assim seu desenvolvimento sustentável.

De acordo com a equipe do Seridó, um geoparque é uma área geográfica única e unificada com locais e paisagens de significado geológico internacional, “gerenciados com um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável”.

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