‘Pai da aviação’, ‘Marechal do ar’, ‘Rei do Ar’ e ‘Brasileiro Voador’. Apelidos não faltaram para descrever Alberto Santos Dumont. Porém, esse brasileiro de Palmira, na Zona da Mata, em Minas Gerais, foi muito mais do que o pai da máquina de voar mais pesada que o ar.
De relógio de pulso a motor portátil para alpinistas; de hangar à criação do termo ‘aeroporto’ , tudo foram invenções desse mineiro fã da literatura de Júlio Verne.
Mas Dumont tinha também manias curiosas, como evitar o número 8, superstição adquirida depois de um acidente no dia 8 de agosto, e uma preocupação com seu peso, que não deveria ser superior a 50 kg.
Nas lâminas a seguir, você conhece essas e outras curiosidades sobre Santos Dumont, que neste 20 de julho completaria 150 anos.
CURIOSIDADES SOBRE SANTOS DUMONT
VEJA TAMBÉM: “As viagens de Santos Dumont, o brasileiro mais alto que as nuvens”
Primeiro automóvel no Brasil
Nem só com engenhocas voadoras se escreve a biografia de Santos Dumont.
Logo que chegou na França, em 1891, conheceu Armand e Eugène Peugeot, os pais do “veículo sem cavalo” francês. Por dois mil francos, o jovem brasileiro comprou um quadriciclo Peugeot tipo 3, “a maravilha do século XIX”, segundo anúncio da dupla instalada em Valentigney, na fronteira da Suíça.
Quando a família Dumont voltou para o Brasil, sete meses depois, Alberto trouxe junto seu Peugeot, que se tornaria o primeiro veículo a rodar em São Paulo.
Sobre a cabeça da Princesa Isabel
Numa das tentativas de alçar voos mais altos e tentar o cobiçado Prêmio Deutsch, em 1901, o brasileiro quase despencou com seu Nº 5 sobre o palacete da princesa, que morava próximo a Paris.
Ao tentar conquistar o cobiçado Prêmio Deutsch, no dia 13 de julho, Dumont foi surpreendido pela mudança dos ventos e por falhas no motor, e viu sua invenção perder força, em direção à casa da filha de Pedro II.
Como lembra o pesquisador Alcy Cheuiche, a futura amiga de Dumont ainda enviou uma bandeja com almoço e um bilhete querendo saber mais detalhes das invenções de seu conterrâneo.
Dumont supersticioso
Depois que o inventor conseguiu controlar seu primeiro balão, em 1898, foi praticamente um modelo novo por ano.
E, para cada um deles, um número.
Exceto o 8 que, desde que Dumont quase perdeu a vida no acidente com o Nº 5, no dia 8 de agosto de 1901, passou a ser evitado pelo inventor.
Chapéu apaga fogo
Dizem que o hábito de usar chapéu do tipo panamá foi adquirido depois que Santos Dumont conseguiu evitar uma tragédia, apagando o fogo no motor de um seus balões com seu icônico chapéu.
Nos dias seguintes ao acidente, o chapéu de abas amassadas viraria moda em Paris.
Quase imortal
Ao voltar definitivamente para o Brasil, em junho de 1931, Dumont foi informado, ainda a bordo do navio Lutétia, que havia sido eleito membro da Academia Brasileira de Letras, na cadeira nº 38 de Graça Aranha.
Já bastante debilitado, não pôde tomar posse e a vaga foi ocupada pelo escritor Celso Viera.
Patrono
Por ser brasileiro e precursor de uma das invenções mais extraordinárias da Humanidade, Santos Dumont é o patrono da Força Aérea Brasileira.
Devido ao sucesso do voo do 14-Bis, a FAB instituiu também o dia 23 de outubro como o Dia do Aviador.
Pelos pobres
Mais do que pelo desafio do que pelos 100 mil francos pagos no cobiçado Prêmio Deutsch, Santos Dumont tentaria algumas vezes voar em até 30 minutos, de Saint-Cloud a Torre Eiffel, a principal regra para a premiação.
No dia 19 de outubro de 1901, o brasileiro contornava a construção, a bordo de seu Nº 6, e vencia o desafio criado pelo “rei do petróleo” Henri Deutsch.
Porém, a pedido do generoso Dumont, o valor corrigido de 129 mil francos foi repartido entre seus próprios colaboradores (“mecânicos e operários”) e o restante “a mais de 3.950 pobres de Paris”.
Ônibus voador
Por suas dimensões as maiores entre todas as invenções de Dumont, o modelo Nº 10 ficou conhecido como “ônibus voador”.
Construído em 1903, o dirigível permitia levar até 12 pessoas a bordo.
Voe como uma garota
– “Não quero ser conduzida! Desejo voar só, dirigir livremente, como o senhor”.
É com essa impensável frase para a época que Aída da Costa seria treinada por ninguém menos que Santos Dumont e ficaria conhecida como a primeira mulher a voar em um balão dirigível.
Enquanto essa arrojada filha de um milionário cubano comandava no ar o Nº 9, em 1903, o brasileiro seguia a pupila por terra, entre o Parque de Neuilly e o Campo de Bagatelle.
VEJA TAMBÉM: “Conheça a 1ª mulher a voar sozinha no Oceano Atlântico”
Aviador em forma
Com apenas 1,52 metros de altura, Dumont se preocupava também em manter seu peso. E não era por questões estética ou de saúde.
Com a ajuda de dieta e práticas de esportes, como tênis, o brasileiro dizia manter-se abaixo dos 50 kg, pois “o aeronauta não podia ser muito pesado”.
Corpo de um lado…
Ao tirar a própria vida, em 23 de julho de 1932, no Guarujá (SP), Dumont só seria levado para um cemitério, cinco meses depois.
Isolada pela Revolução Constitucionalista de 32, São Paulo não era lugar seguro para sair por aí com o corpo de Alberto Santos Dumont. Por isso, a família decidiu embalsamar os restos mortais do inventor, levá-los para a Catedral da Sé para, somente em dezembro, ser enterrado no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.
… coração do outro
Ao realizar os procedimentos de embalsamento do corpo de Dumont, o médico Walter Haberfeld decidiu ficar com uma lembrancinha: o coração do aviador.
Mais de uma década depois, Walter ainda tentou devolvê-lo para a família, que recusou.
Atualmente, seu coração se encontra no Museu Aeroespacial do Rio de Janeiro, em uma esfera dourada sustentada por um ícaro de bronze.
VEJA TAMBÉM: “Sobreviventes dos Andes contam como foi acidente, 50 anos depois”
SAIBA MAIS
“O que eu vi, o que nós veremos”
(Santos Dumont)
Escrito durante sua temporada na ‘A Encantada’, essa autobiografia traça um perfil das invenções, incluindo detalhes técnicos, e faz previsões para a aviação, como a navegação aérea como meio de aproximação entre as Américas.
“Os Meus Balões”
(Santos Dumont)
Livro de memórias em que o aviador conta momentos de sua vida, do empreendedorismo do pai Henrique Dumont às suas invenções.
Na biblioteca do Senado é possível baixar a versão do livro em PDF.
“Alberto Santos Dumont: o pai da aviação”
(Fernando Hyppólyto da Costa)
Obra com grande variedade de registros fotográfico das invenções do aviador e detalhes técnicos de cada uma de suas máquinas produzidas ao longo de sua carreira.
“Santos Dumont: uma breve introdução”
(Alcy Cheuiche)
Com texto dinâmico e cheio de curiosidades, esse pesquisador gaúcho assina essa biografia resumida da vida do aviador, da história de seus pais ao seus últimos dias, no Guarujá.
LEIA TAMBÉM: “As baleias-jubarte são brasileiras: veja curiosidades”
A grande maioria de nós brasileiros ignora completamente o que foi feito pelo voo controlado do mais-pesado-que-o-ar antes do feito de Santos Dumont, com exceção, é claro, do controverso voo dos irmãos Wright. Por conta disso, colo aqui a sequência cronológica dos eventos mundialmente reconhecido.