As viagens de Santos Dumont, o brasileiro mais alto que as nuvens

‘Pai da aviação’, ‘Marechal do Ar’, ‘Brasileiro Voador’ e ‘Rei do Ar’. Títulos não faltaram na vida de Alberto Santos Dumont. Nem viagens.

“Vai para Paris, o lugar mais perigoso para um rapaz”, recomendou o pai Henrique Dumont, no mesmo dia em que emancipou o filho Alberto, em um cartório de São Paulo, quando o futuro aviador tinha 18 anos.


Porém, as primeiras referências viriam de ninguém menos que Júlio Verne, “grande visionário” e “vidente da locomoção aérea e submarina”, nas palavras do próprio Dumont.

Inventar um jeito de fazer gente voar era só uma questão de tempo (e de andanças mundo afora).

Confira destinos por onde passou Santos Dumont

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Palmira
(Minas Gerais)

Sexto filho do casal Henrique e Francisca, Alberto Santos Dumont nasceu nessa cidade da Zona da Mata, a pouco mais de 200 km de Belo Horizonte.

Dias depois de sua trágica morte, em julho de 1932, o município passaria a se chamar Santos Dumont.

Atualmente, a atração mais famosa é o Museu do Cabangu, a 16 km do centro, que funciona na mesma casa onde Dumont nasceu no dia 20 de julho de 1873. Entre documentos e objetos pessoais, o acervo se destaca pela réplica em tamanho natural do avião Demoiselle, feito a partir de orientações deixadas pelo aviador.

Museu do Cabangu (foto: Prefeitura de Santos Dumont)

Fazenda Arindeuva
(Ribeirão Preto)
Após tentativas frustradas nas áreas de mineração e corte de madeira, além de tentar a lavoura em Valença, no Rio de Janeiro, o pai Henrique carregou a família para o interior de São Paulo, “em busca de conforto e segurança”.

Em 1879, como relatou mais tarde o próprio aviador em seu livro “O que eu vi, o que nós veremos”, Ribeirão Preto “se achava a três dias de viagem a cavalo da ponta dos trilhos da Mogiana”.

Sede da Fazenda Arindeuva, em Ribeirão Preto (foto: Creative Commons)

Foi ali na Arindeuva, a “primeira fazenda de café tecnicamente organizada” do Brasil, que o pequeno Dumont, aos seis anos, sonhou com máquinas, guiou locomóveis e dirigiu locomotivas Baldwin.

“Todas estas máquinas (…) foram os brinquedos da minha meninice”, descreveu no seu livro de memórias “Os meus balões”. Naquela época, o patriarca já tinha tido uma bem sucedida carreira na engenharia “de um dos trechos mais difíceis da ferrovia Dom Pedro II”, outra inspiração para o filho ilustre.


Europa
Ao longo da vida, Dumont esteve no continente em diversas ocasiões.

Tudo começou com um acidente de charrete que o pai teve, em 1891, cuja derrapagem numa curva fechada o lançaria longe e causaria alterações neurológicas. A medicina avançada na Europa e as águas termais de Lamalou-les-Bains seriam os motivos para a família cruzar o Atlântico.

Assim como lembra Dumont, uma vez em Paris, o jovem deveria procurar especialistas em áreas como Física, Química, Mecânica e Eletricidade, e não se esquecer que “o futuro do mundo está na mecânica”.

Acidente em Mônaco (imagem: Reprodução)

Em Mônaco, em 1902, caiu em uma baía com o seu Nº 6, sendo resgatado do mar por uma lancha a vapor; anos mais tarde, chegou a se internar para se tratar de problemas de saúde, em Gilon, na Suíça.

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Petrópolis
(Rio de Janeiro)

Após rodar o mundo, Dumont se instalou nessa cidade serrana, onde foi construída “A Encantada”, sua residência de verão no Morro do Encanto.

Atualmente, o local abriga o Museu Casa de Santos Dumont, espaço com objetos pessoais, mobiliário e invenções como o famoso chuveiro de água quente desenvolvido pelo aviador e a escada com degraus em forma de raquete, que só se pode ser acessada com o pé direito.

Cenário escolhido para escrever seu segundo livro, “O que eu vi, o que nós veremos”, a casa curiosamente não tinha cozinha e as refeições vinham do Palace Hotel, onde hoje fica o prédio da Universidade Católica de Petrópolis.

Museu Casa de Santos Dumont, em Petrópolis (foto: Creative Commons)

Washington
(EUA)
Em 1915, Dumont participou do 2º Congresso Científico Pan-americano, onde deu uma palestra sobre a importância da aeronáutica para estreitar as relações entre os países americanos e a importância da aviação para o transporte de passageiros e de carga.

Chile
No ano seguinte, o brasileiro representou o Aeroclube da América no Congresso Pan-Americano de Aeronáutica, em Santiago do Chile, onde conheceu o campo de aviação do exército chileno.

“Aceitei esta honra e parti disposto a tudo encontrar no Chile: tinha conhecido em Paris a sociedade chilena e a sabia a mais amável do mundo; tinha ouvido falar nas belezas naturais do Chile, ia pois vê-las”, escreveu em seu livro “O que eu vi, o que nós veremos”.

Dumont foi convidado também para sobrevoar as cordilheiras dos Andes, em direção a Valparaíso, e visitou também a vizinha Argentina, onde se encontrou com o Eduardo Bradley, precursor da aviação argentina que cruzou os Andes em um balão.

Dumont e o argentino Eduardo Bradley (foto: Domínio Público)

Cataratas do Iguaçu
A condição de parque nacional só viria anos depois, quando Dumont já tinha ido voar em outros mundos, mas é dele a ideia de proteger o maior conjunto de quedas d’água do mundo.

Na mesma viagem andina, em 1916, o brasileiro cruzou a fronteira e acabou conhecendo também as Cataratas do Iguaçu, onde chegou a cavalo, após uma travessia de seis horas. Mas, ao descobrir que as quedas tinham sido doadas para um particular, decidiu viajar até Curitiba para falar com o então governador do Paraná, Afonso Camargo.

Durante seis dias, Dumont cavalgou até Guarapuava para então pegar um carro para Ponta Grossa e logo um trem para Curitiba, onde se reuniu com o governador para pedir a criação de um parque que protegesse aquelas quedas e possibilitasse a visita pública. No Paraná, o aviador visitou também Morretes e Paranaguá.

O pedido ilustre seria atendido em julho do mesmo ano, quando a área foi desapropriada, porém o parque nacional só seria criado em 1939.

Desde 2012, o dia 8 de maio, o mesmo em que Dumont esteve com Afonso Camargo, é considerado Dia Nacional do Turismo. Atualmente, Santos Dumont é considerado o padrinho do Parque Nacional do Iguaçu.

foto: Visit Iguassu/Reprodução

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Guarujá
(São Paulo)

Nessa cidade do litoral paulista, Dumont não só se refugiava para descansar como também fez seu último voo, violento e sem volta.

No mesmo dia em viu a cidade de Santos ser bombardeada, durante a Revolução de 32, o aviador tirou a própria vida, aos 59 anos, enforcando-se no Grand Hotel La Plage, onde hoje fica o Shopping La Plage, na Praia de Pitangueiras.

Após restauração em Santos, o carro fúnebre que transportou seu corpo, em 1932, voltou ao Guarujá, no ano passado.

Na época, o cortejo no Chevrolet Ramona preto de 1929 passou pela Avenida Puglisi, cruzou de balsa para Santos e seguiu para São Paulo, antes de se dirigir ao Rio de Janeiro, onde foi sepultado no cemitério São João Batista.

foto: Prefeitura de Guarujá



“Os países distantes se encontrarão, apesar das barreiras de montanhas, rios e florestas.”
(Santos Dumont – “O que eu vi, o que nós veremos”)



SAIBA MAIS

“O que eu vi, o que nós veremos”
(Santos Dumont)

Escrito durante sua temporada na ‘A Encantada’, essa autobiografia traça um perfil das invenções, incluindo detalhes técnicos, e faz previsões para a aviação, como a navegação aérea como meio de aproximação entre as Américas.


Os Meus Balões”
(Santos Dumont)

Livro de memórias em que o aviador momentos de sua vida, do empreendedorismo do pai Henrique Dumont às suas invenções.

Na biblioteca do Senado é possível baixar a versão do livro em PDF.


“Alberto Santos Dumont: o pai da aviação”
(Fernando Hyppólyto da Costa)

Obra com grande variedade de registros fotográfico das invenções do aviador e detalhes técnicos de cada uma de suas máquinas produzidas ao longo de sua carreira.



“Santos Dumont: uma breve introdução”
(Alcy Cheuiche)

Com texto dinâmico e cheio de curiosidades, esse pesquisador gaúcho assina essa biografia resumida da vida do aviador, da história de seus pais ao seus últimos dias, no Guarujá.




“Santos Dumont: o homem voa!”
(Henrique Lins de Barros)

Nessa breve biografia, o pesquisador e doutor em biofísica conduz o leitor por um texto rico em detalhes históricos, guiado pelos acontecimentos mais importantes da carreira do aviador.

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