Cidade perdida, no Mato Grosso, teria inspirado a criação de Indiana Jones

Há quase um século, o coronel britânico Percy Fawcett desaparecia em algum ponto isolado do Mato Grosso, em busca de um portal para a Cidade Z.

Acompanhado de seu filho Jack e do amigo Raleigh Rimell, Fawcett sumiu sem deixar pistas sobre a Cidade Abandonada, como esse suposto local na região da Serra do Roncador também era conhecido.

Diz a lenda, inclusive, que aquele destino a mais de 500 quilômetros de Cuiabá seria uma passagem secreta para uma civilização perdida.

foto: Wikimedia Commons

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Fawcett tinha certeza que o cobiçado local ficava no Brasil e partiu de Cuiabá para uma “das matas mais intratáveis da Amazônia”, nas palavras de David Grann, cuja biografia Z, a Cidade Perdida (Companhia das Letras) ganhou uma adaptação desastrosa para o cinema, em 2017.

Por séculos, a Amazônia foi tratada como uma terra hostil, de onde nenhuma expedição retornava para contar história. Ficavam por ali mesmo, engordando a lista de desaparecimentos intrigantes na maior floresta tropical do planeta.

Mas a expedição encabeçada por Fawcett não foi apenas mais uma delas, nem passou despercebida pelos olhos curiosos do mundo.

Fawcett (centro) na expedição no Rio Verde (foto: Editora Record/Divulgação)


Curiosidades sobre Fawcett no Mato Grosso

A insistência em encontrar o tal portal para a Cidade Z era baseada em suas experiências no antigo Ceilão, onde encontrou ruínas de um antigo templo com inscrições desconhecidas, e no Documento 512, uma carta com caracteres que davam pistas da localização de uma cidade perdida no Brasil.

Suas teorias ganhariam novos elementos quando o amigo Rider Haggard (autor de As minas do rei Salomão) o presenteou com uma estátua, supostamente, do Brasil. As peças começavam a se encaixar e Fawcett, cada vez mais, tinha certeza de que a estátua encontrada no Brasil era de Atlântida.

Porém, antes de sua viagem fatal, o britânico já havia realizado sete expedições em áreas não mapeadas na América do Sul, entre 1906 e 1924.

Para sua última viagem, chegou a solicitar apoio ao então presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, mas o militar Cândido Rondon recusou o pedido, já que o país não precisava de estrangeiros em suas expedições em território nacional.

Estátua em Barra do Garças, no Mato Grosso (foto: Eduardo Vessoni)

Após iniciar a viagem, Fawcett chegou a enviar cartas à esposa Nina que não traziam sua localização exata ou eram escritas com informações imprecisas. O explorador, que alguns estudiosos creem que buscava pedras preciosas e um título que lhe desse fama mundial, queria mesmo exclusividade em sua descoberta.

Com seu inconfundível chapéu Stetson e um gosto exagerado por aventuras, Fawcett ficaria conhecido como O Verdadeiro Indiana Jones. Mas nunca mais seria encontrado, nem aqui, nem em outras dimensões.

“Fawcett queria realizar a maior descoberta do século, mas protagonizou o maior mistério da exploração do século XX”, analisa o biógrafo David Grann, em seu livro.

Já para Hermes Leal, autor de O enigma do Coronel Fawcett – o verdadeiro Indiana Jones (ed. Geração), “Fawcett não foi um explorador científico, mas deixou um legado para a literatura e para as aventuras.”

Assim, nos anos seguintes ao seu desaparecimento, várias buscas foram organizadas para encontrar o paradeiro do trio, como a Expedição Dyott – da qual participou o filho mais novo do britânico, Brian Fawcett.

Orlando e a suposta ossada de Fawcett (foto: Wikimedia Commons)

Outras expedições famosas foram a financiada pelo empresário Assis Chateaubriand, que deu origem à série de reportagens Haverá uma Atlântida brasileira?, e a de Antonio Callado, em que o indigenista Orlando Villas Boas afirmava ter encontrada a suposta ossada de Fawcett.

Em abril de 1951, Orlando Villas Boas ouvira o relato de um Kalapalo sobre o assassinato dos três desaparecidos. Cuiuli, o informante, afirmava que o assassino Cavucuira, naquele momento já morto, jogara os dois jovens na Lagoa Verde e enterrara Fawcett perto dali.

Mas exames do Royal Anthropological Institute de Londres e um dentista que tratara o coronel, no Rio de Janeiro, desmentiram a descoberta e Villas Boas passaria quase duas décadas sem saber o que fazer com a ossada.

Assim como lembra Brian Fawcett no livro A Expedição Fawcett: jornada para a cidade perdida de Z (ed. Record), “as pessoas que encontram tesouros geralmente estão ansiosas em manter o fato em segredo”.

E, daquela vez, parece que Percy Fawcett conseguiu.

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