Como é a trilha mais longa do Nordeste

* situação das trilhas ataulizada em 30 de março de 2023

Para o condutor Rudson SIlva, fazer uma trilha significava apenas “caminhar no mato, chegar no topo mais alto e tirar uma foto”.

“Hoje, eu percebo que trilha é você saber que nunca está sozinho”, avisa Rudson.

A 165 km de João Pessoa, na Paraíba, o ‘Caminhos das Ararunas’ é daquelas experiências que sempre têm um atrativo para a gente ver naquele mundo pedra.

Trilha da Pedra do Forno, em Araruna (foto: Eduardo Vessoni)

Com cerca de 138 km de extensão, a trilha mais longa do Nordeste tem cânion com cachoeira, pinturas rupestres que se escondem em grutas e turismo de base comunitária em áreas rurais isoladas que recebem a gente como se fôssemos os únicos por ali.

É turismo de experiências, mas também de superação de limites e de conquistas.


Entre as dificuldades da trilha, Rudson aponta a seca no interior paraibano e a escassez de pontos de apoio.

Por outro lado, foi na mesma rota que esse condutor teve uma das suas “maiores experiências da vida”, quando presenciou uma chuva de meteoros, no Cânion da Serra Verde, em Araruna.

VEJA VÍDEO

Trilha mais longa do Nordeste

Embora não seja nenhuma novidade na região, o caminho surgiu com a ideia de conectar todas as rotas já existentes em Araruna para então fazer uma só.

A trilha mais longa do Nordeste pode ser feita por partes, como foi o caso do Viagem em Pauta, que fez os trechos 1, 3 e 4, ou de forma completa, que costuma levar seis dias.

Araruna, a 165 km de João Pessoa (foto: Eduardo Vessoni)

Assim como em outras trilhas de longa distância, os insistentes que completarem o trajeto são certificados pelo Fórum do Turismo do Curimataú, segundo Rudson, que já fez o caminho completo três vezes e vai “fazer a quarta vez, isso é uma certeza”.

“É uma experiência que eu indico para qualquer pessoa que quer ter isso como refúgio. Você vai ver o mundo das trilhas com outro olhar, o mundo para o interior”, descreve.

Apesar da extensão, o caminhante é sempre surpreendido por atrações que, de longe, lembram a Paraíba das praias lindas e das piscinas naturais, como os passeios de quadriciclo na Mata do Seró e a impactante pedreira grafitada por um artista local, no município vizinho de Santa Inês.

Sem falar nos 15 sítios arqueológicos com pinturas rupestres que datam de 10 a 12 mil anos, ao longo da travessia entre as cidades de Araruna e Cuité.

“A quantidade e o tipo de sítios mostram que Curimataú e Seridó estiveram ligadas com outras regiões importantes do ponto de vista arqueológico, como a Serra da Capivara, no Piauí, e a Pedra de Ingá, na Paraíba”, diz João Rosa, que já encontrou no Piauí um painel com antigas gravuras, iguais às encontradas em Ingá, a 100 km da capital paraibana.

Entre os trabalhos encontrados ao longo de um dos trechos que o Viagem em Pauta conheceu, esse arqueólogo destaca os da Tradição Agreste, por conta dos desenhos em forma de “bonecões muito grandes feitos com o próprio dedo”, uma das características dessa tradição de tons avermelhados mais vivos, como as encontradas em Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

VEJA FOTOS DA TRILHA MAIS LONGA DO NORDESTE

SAIBA MAIS: “Grafiteiro dá outros tons à pedreira na Paraíba”

Caminho das pedras

Embora seja autoguiada, essa trilha de longo percurso exige planejamento e atenção.

Para esta reportagem, o Viagem em Pauta percorreu, parcialmente, três trechos do ‘Caminhos das Ararunas’.

Em outubro de 2022, a reportagem encontrou sinalizações apagadas ou inexistentes em alguns trechos, sobretudo na região do Parque Estadual da Pedra da Boca, onde certas bifurcações podem confundir quem não conhece a rota.

Outro ponto negativo das trilhas é a total falta de placas informativas nos atrativos.

O condutor Rudson mostra sinalização oficial da trilha (foto: Eduardo Vessoni)

No meu caso, por exemplo, percorri a Trilha da Pedra do Forno (trecho 3) rumo a pequenas grutas com painéis ao ar livre com pinturas rupestres, possivelmente, da Tradição Agreste.

Mas só fiquei sabendo dos detalhes porque tive o privilégio de ser acompanhado por um arqueólogo que contextualizou o que se via. Caso contrário, para um caminhante sozinho, seria apenas um amontoado de manchas avermelhadas, naturalmente desgastadas, que leigos nem sempre têm condições de identificar, muito menos interpretar.

Procurado pela reportagem, o coordenador do ‘Caminhos das Ararunas’, Ricardo Câmara, informou que ainda estão aguardando autorização da Superintendência de Administração do Meio Ambiente para inclusão de melhor sinalização.


Segundo Câmara, placas informativas não estão autorizadas pela Sudema-PB porque “ainda está sendo feito o Plano de Manejo” da região que, quando concluído, irá estabelecer modelos, tamanhos e tipos de material a ser usado.

O coordenador da trilha recomendou também o uso do Wikiloc, aplicativo de mapas alimentados por usuários com GPS. Mas vale lembrar que, apesar do serviço funcionar off line, os usuários ainda seguem sem informações descritivas dos atrativos e dependem de outros caminhantes terem feito a mesma rota por trilhas oficiais.

Na dúvida, contrate um guia especializado em trilhas de longa distância e que conheça a região.


Dicas Viagem em Pauta

– Leve sua própria água, pois diversos trechos do caminho não contam com pontos de recarga.

– Em comparação com o restante da Paraíba, Araruna é uma região de clima mais ameno, porém o sol na caatinga é forte e pode castigar. Leve boné ou bandana para proteger o rosto, e camisetas dry fit com proteção UV.

– Em algumas comunidades, como a que fica perto do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, pequenos comércios servem refeições sob encomenda. Mas não conte com a sorte e leve lanche de trilha.

– O condutor Rudson Silva recomenda também o uso de luvas e calças em alguns trechos para proteção contra espinhos da vegetação, como macambira, xique-xique e mandacaru.

– Durante a travessia, a hospedagem pode ser feita em casas de moradores, campings com estrutura para receber turistas ou em “área raiz, onde você não possui nenhum tipo de estrutura”, lembra Rudson.


TRECHO A TRECHO

Trecho 1
extensão: 16,5 km
atrativos: cânion do Macapá; construções históricas do século XIX, tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba.

Trecho 2
extensão:
14 km
atrativos: formações rochosas do Rio Curimataú; pinturas rupestres; ofurôs naturais.

Trecho 3
extensão:
11,5 km
atrativos: Mata do Seró; cachoeiras (apenas nos períodos de chuva); marmitas (formações rochosas em diversos formatos).

Trecho 4
extensão:
13 km (percurso A) e 15 km (percurso B)
atrativos: Pedreira de Dona Inês; Comunidade Quilombola Cruz da Menina.

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Memorial Lajedo da Serra (foto: Eduardo Vessoni)

Trecho 5
extensão:
17 km
atrativos: Museu Rural do Ciclo do Algodão (Comunidade do Querido); mirantes naturais; prédios históricos do século XIX.

Trecho 6
extensão:
19 km
atrativos: Parque Estadual da Pedra da Boca; sítios arqueológicos (Santuário Nossa Senhora de Fátima).

Trecho 7
extensão:
14,5 km
atrativos: Pedra da Macambira; Cânion da Serra Verde; sítios arqueológicos.

Trecho 8
extensão:
17,7 km
atrativos: reservas florestais; comunidades rurais.

ONDE FICAR



Spazio da Pedra
Para orçamentos mais folgados, a dica é essa pousada com vista para a Pedra da Boca.

Tem 12 acomodações bem espaçosas para até quatro pessoas (seis suítes e seis chalés) e restaurante exclusivo para hóspedes. A partir de R$ 550. SAIBA MAIS

Nega Joana
Hotel-fazenda ideal para quem quer ficar próximo do setor urbano de Araruna.

Tem quartos compactos e boa estrutura de lazer como trilhas no bosque, área de pesca e passeios de charrete.

Diária para casal: R$ 280 (com café da manhã incluído). SAIBA MAIS


Céu da Boca
No mesmo terreno do Parque do Rinoceronte, tem chalés e apartamentos decorados com materiais naturais.

Tem também cozinha externa compartilhada para hóspedes, equipada com fogão, geladeira e utensílios domésticos.

A partir de R$ 100 por pessoa (sem café da manhã). SAIBA MAIS


Mas isso não é tudo

Recentemente, a área rural de Araruna, declarada ‘Capital Nordestina do Turismo de Aventura’, ganhou mais uma atração do gênero.

A 23 km do centro da cidade (ou 12 km por estrada de terra batida), o Parque do Rinoceronte é um complexo amigável para quem não tem nenhuma experiência com atividades de aventura.

Em uma área de cerca de dois mil m², o circuito começa com uma mini via ferrata e segue com rapel e escalada em pequenos paredões de granito. A experiência inclui ainda uma ponte de três cordas e até um inusitado surfe sobre aquele mundo pedra.

Ponte de três cordas, no Parque do Rinoceronte (foto: Eduardo Vessoni)

Para o alpinista industrial Julio Castelliano, idealizador do parque, o atrativo é como uma iniciação ao montanhismo, não só para crianças, mas também para adultos.

“É uma atividade para escaladores não profissionais, voltada para aqueles que querem um primeiro contato com a montanha e aprender sobre procedimentos de segurança”, descreve Julio.

SAIBA MAIS: “Paraíba ganha parque de aventura para iniciantes”

* O jornalista Eduardo Vessoni viajou a convite da PBTur e da ABEAR

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