Taipei, uma das maiores densidades populacionais do planeta, é daqueles destinos que só reforçam os clichês sobre grandes cidades na Ásia.
A capital de Taiwan vive sob prédios iluminados que flutuam sobre ruas apinhadas de gente que divide (o pouco) espaço com um trânsito intenso. Tudo soa monumental, tecnológico e futurista.
Se por ali parece faltar espaço, no centro dessa ilha menor do que a Paraíba, entre as Filipinas e a China continental, a sensação é a de ser o primeiro a passar por ali.
E foi essa Taiwan que eu vi.
Fui surpreendido com macaco na beira da estrada, acenei para senhoras de vilarejos isolados que pareciam nunca ter visto estrangeiros e cruzei caminhos estreitos sobre precipícios escondidos em nuvens densas.
Durante quatro dias, pedalei 158 km entre Yuanlin, na costa oeste da ilha, e o ponto mais alto do Parque Nacional Taroko, a montanha Wuling, a 3.275 metros de altitude, o local mais alto de toda Taiwan com acesso para automóveis.
Passei por estradas de alta velocidade, em meio a motos e caminhões alucinados, visitei templos e até cruzei um túnel de cânforas, ao longo de 4,5 km, paralelos à linha de trem.
Mas a experiência mais marcante foi circundar o Sun Moon Lake, endereço de uma das ciclovias mais cênicas do mundo.
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Bike em Taiwan
De acordo com a TBA (Taiwan Bicycle Association), só em 2021, essa nação insular de 23 milhões de habitantes exportou mais de 280 milhões de magrelas.
Sede de empresas líderes do setor ciclístico como a Giant, maior fabricante mundial de bicicletas em receita, Taiwan é um dos destinos do mundo mais amigáveis com ciclistas, resultado de uma parceria público-privada que integra o completo sistema de transporte público com a cultura do ciclismo.
Por ali, todos os trens estão preparados para transportar bicicletas (a qualquer hora do dia) e, há uma década, a população vê disparar o número de pontos de compartilhamento de bicicletas.
Para Vicky Yang, filha de King Lui, fundador da fabricante de bicicletas Giant, o resultado disso é “qualidade de vida, em uma cidade mais silenciosa e limpa para as próximas gerações”.
Como ela também lembrou durante entrevista para esta reportagem, a capital é a primeira cidade taiwanesa a ter ciclovias nas calçadas.
“Para nós é muito difícil promover o ciclismo em Taiwan, pois a cidade cresceu e já não temos mais espaços para bicicletas”, explica Vicky.
Mas minha viagem não era pelas ruas planas e bem sinalizadas de Taipei.
Paradoxalmente, a maior parte do meu roteiro foi por vias sem acostamentos ou ciclovias em que motos e bicicletas dividem o mesmo espaço, como a via que segue paralela à linha de trem, no setor rural de Changhua.
Além da geografia acidentada em áreas rurais da ilha, pedalar em Taiwan é encarar também o desafio de circular por terras com tão poucas referências ocidentais e uma população que nem sempre fala inglês.
Tentar comprar uma Coca-Cola na recepção de um hotelzão na beira do Lago Sol e Lua, em Nantou, é ver se esgotar todas as possibilidades de mímica e terminar, frustrado, na fila de uma loja de conveniência, do outro lado da calçada.
É como administrar não só a sua bicicleta, mas um país inteiro. E, você, forasteiro sobre duas rodas, que se adapte às regras locais.
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Cordilheira Central
Minha viagem de bike em Taiwan começou caótica em vias urbanas da movimentada Yuanlin, no Condado de Changhua, e seguiu pesada por estradas de alta velocidade.
Só diminuímos o ritmo no interior das montanhas da Cordilheira Central de Taiwan, uma sequência de curvas em ladeiras íngremes que rasgam o país de norte a sul com paisagens de tirar o fôlego (no sentido mais literal da expressão).
Pedalei por canais históricos de irrigação (daqueles com agricultores de chapéu cônico chinês); e por templos como o Wu Chang, que repousa até hoje ao lado dos destroços da construção original, destruída pelo terremoto de 1999, em Jiji.
Um dos pontos altos da travessia é o Sun Moon Lake, uma das atrações mais visitadas na ilha.
Essa área de 7,93 km² de águas claras é o maior lago de Taiwan e abriga uma das 10 ciclovias mais bonitas do mundo, segundo a CNN Travel.
São 30 km circundando o Lago Sol e Lua, em meio a áreas frescas de florestas e com possibilidade de paradas em templos como o Wen Wu, e visitas a vilas indígenas do povo Thao.
Para ciclistas treinados, talvez o saldo final de quase 160 km soe insignificante. Mas para este jornalista acostumado a passeios sem compromisso no Minhocão, em São Paulo, fica a experiência de um dos maiores desafios da vida.
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Muito legal essa viagem. A rota está disponível em algum lugar?