Quem foi o 1º cientista a falar de mudanças climáticas

Bem que ele avisou, mas pelo visto ninguém deu bola.

“O pequeno boticário”, como Alexander Von Humboldt era chamado pela família, tinha gosto (e talento) para sujar os pés na terra. Para esse explorador alemão de Berlim, tudo está interligado, em uma Natureza que é um reflexo do todo.

Após expedição por florestas da Venezuela e vulcões no Equador, entre 1799 e 1804, Humboldt se tornaria “o primeiro cientista a falar das nocivas alterações climáticas causadas pelo homem”, assim como lembra Andrea Wulf, autora da biografia “A invenção da natureza: a vida e as descobertas de Alexander Von Humboldt” (ed. Crítica).

Seus questionamentos ambientais viriam à tona antes mesmo da Revolução Industrial concluir sua primeira fase e redesenhar o planeta. Enquanto o mundo se destruía em nome do desenvolvimento econômico, Humboldt “inventava” a Natureza em um mundo onde “o homem não é nada”.

imagem: Creative Commons

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“Tudo está estreitamente conectado”, lembraria Humboldt.

Em outras palavras, onde houver a mão do homem haverá mudança climática e alteração drástica na natureza. Em visita ao Valência, por exemplo, o naturalista ficaria sabendo que o nível das águas de um dos maiores lagos da Venezuela vinha baixando em velocidade acelerada.

Sem conexão com o mar e com uma visível escassez de árvores que controlassem a evaporação de suas águas, o lago era um terreno exposto ao clima, impossibilitado de reter seu próprio volume. Nas conclusões de Humboldt, o desvio para a irrigação agrícola e a derrubada das florestas ao redor eram os responsáveis pela vazão daquelas águas.

Alexander Von Humboldt (imagem editora Crítica)

Mais de dois séculos depois da tragédia anunciada, as comunidades dos arredores do Valência sofrem até hoje com sua contaminação e os constantes transbordamentos afetam cerca de 900 famílias locais.

Como se adiantasse o futuro dos desastres ambientais em 200 anos, Humboldt falava de desmatamento de florestas para gerar energia das máquinas a vapor, drenagem de áreas alagadas para criação de campos cultiváveis e poluição produzida em áreas industriais.

Para sua biógrafa, Humboldt se tornava o primeiro a relacionar a ação humana com a degradação da Natureza. Daí o título de “pai do movimento ambientalista”, 150 anos antes da política ambiental ser assunto mundial.

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imagem: Divulgação

Primeiro, mas não o único
Alexander Von Humboldt, porém, não foi o único a abordar o assunto. Seu admirador Charles Darwin questionava uma área tão extensa como a do Brasil ser tão mal aproveitada.

“A proporção de terras cultivadas é insignificante se tomarmos as extensões abandonadas ao estado de natureza selvagem”, escreveria durante passagem pelo Rio de Janeiro, em sua volta ao mundo a bordo do barco a velas Beagle.

Há quase 200 anos, Darwin rascunhava o futuro, espantando-se com desmatamentos, derretimento de geleiras e assuntos como o trato aos animais.

HMS Beagle no Estreito de Magalhães, na Patagônia (foto: Domínio Público)

Entre 1831 e 1836, o jovem com então 22 anos coletou dados que, posteriormente, fundamentariam o Evolucionismo, a teoria que defende a ideia da modificação progressiva das espécies e suas adaptações ao ambiente.

Sob comando de Robert Fitz Roy, Darwin passou pelo Brasil e pela Patagônia, antes de cruzar o Pacífico, em direção ao Taiti.

foto: St Helena Tourism

De regresso para casa, o cientista faria uma parada de quatro dias em Santa Helena, onde mal pôde ver uma árvore. Isolada no Atlântico Sul, a cinco dias de navio da Cidade do Cabo, na África do Sul, é uma das ilhas mais isoladas do mundo, cuja terra firme mais próxima fica a mais de mil quilômetros dali.

Desde que se tornaram Território Britânico Ultramarino, aquelas terras vulcânicas viram o verde ser substituído, pouco a pouco, por uma aridez desoladora, causada pela alta demanda de lenha para os primeiros colonos e introdução de cabras e porcos selvagens.

Nas palavras do próprio Darwin, era como um castelo negro que “se eleva abruptamente do oceano”.

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