Os erros da retomada do turismo no Brasil

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crise vai ser longa, o prejuízo já não cabe em planilhas e o setor turístico anda apressando o retorno às atividades.

Mas estimular alguém a sair de casa para fazer turismo, hoje, é brincar de roleta-russa e empurrar com a barriga o fim da pandemia. É irresponsável com quem acredita nessa história e é egoísta da parte de quem a promove.

Em meio a mais de 1,2 milhão de infectados e registro de mais de 55 mil mortes no Brasil, ainda tem gente que insiste na ideia de que viajar é a melhor opção para evitar a quebradeira do setor.

Enquanto destinos como Florianópolis se preparam para um novo fechamento, após registrar aumento de infectados pela Covid-19, outros organizam viagens para promoção do turismo.

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foto: JD Hancock/Flickr-Creative Commons)

Em uma das ações mais polêmicas dessa tentativa forçada de retomada, o bem-intencionado projeto Movimento Supera Turismo levou, recentemente, duas produtoras de conteúdo de turismo para… VIAJAR!!!

Assim como lembra a jornalista Carla Lencastre, no mesmo final de semana daquela viagem para Foz do Iguaçu, o destino registrava uma aumento de mais de 64% nos casos de infectados.

Após anunciar que a ideia era “ver com os próprios olhos” o “novo normal”, o projeto apagou posts e comentários relacionados à iniciativa, após uma onda de críticas nas redes sociais.

Em nota no Facebook, o Movimento Supera Turismo fez um “pedido de desculpas a todas as marcas e profissionais que acabaram, indevida e negativamente expostos, mesmo que com as melhores intenções”.

Ainda assim, os usuários não perdoaram a ação.

Uma das influenciadoras que participou da viagem (@pattyleonetoptravels) foi rápida em afirmar, em sua conta no Instagram, que o objetivo da viagem era avaliar “os protocolos que estão sendo feitos” pois “isso interessa ao mercado”.

“Querida, deixa que os protocolos, nós médicos, que estudamos pra isso, avaliaremos se são pertinentes ou não. Não é blogueiro nem influencer nem dono de empresa de turismo que avalia protocolo. Fica em casa, lindona!”, comentou um médico anestesista na conta da influenciadora.

Em outro comentário, uma seguidora defende a ação do movimento (“Temos vidas que dependem do pão de cada dia”) e completa afirmando que o “politicamente correto tá chato”.

Chato mesmo vai ser quando faltar ar… no pulmão.

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Com o apoio de empresas como agência, locadora de automóveis e companhia aérea, o movimento se propõe a “apoiar a retomada do turismo, orientar os viajantes sobre os cuidados em suas próximas viagens e ajudar a restabelecer a empregabilidade e a renda dos milhares de profissionais do turismo no Brasil”.

Em publicação mais recente, na última quarta-feira, o perfil do projeto publicou a mensagem “O Brasil tem potencial e vocação pelo turismo. Sonhe agora, viaje quando for seguro!”.

Meia volta volver

As previsões menos pessimistas falam em retomada entre o próximo mês de agosto e o fim de 2020, e uma normalização entre o primeiro semestre de 2021 ou apenas em 2022.

Enquanto a boiada passa com máscaras penduradas no queixo, valas se enchem de gente morta sem tempo para despedidas de amigos e parentes. A curva sobe, o Brasil se isola do resto do mundo e o turismo nacional parece não perder a mania que alguns têm de fazer turismo de forma improvisada.

imagem: Pixabay/Google Imagens

Nós, que vivemos exclusivamente de produzir conteúdo de turismo (assim como os sete milhões de brasileiros empregados no setor), já passamos a contar em segundos o dia da retomada.

Porém é inútil criar protocolo, incluir gel perfumadinho nos amenities, sanitizar ambientes (e satanizar o vírus), se o viajar ainda exige deslocamentos, requer aviões lotados e, em alguns casos, é feito com certa aglomeração.

Nem a Europa que fez a lição de casa direitinho ou a Ásia que traz no currículo uma vasta experiência para tempos de contaminação aérea estão seguros de que seja hora de abrir.

E, muitos dos que abriram, já tiveram que dar a meia volta e começar do zero, enquanto os números subiam outra vez.

Nesta semana, a Argentina e a estadunidense Texas voltaram atrás com a ideia de relaxamento da quarentena, após voltar a registrar aumento no número de casos de infectados pelo coronavírus.

Canasvieiras, uma das praias do litoral norte de Florianópolis (foto: Eduardo Vessoni)

Outros casos polêmicos

Na última segunda-feira (22 de junho), o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, anunciou medidas mais rígidas, como a obrigatoriedade do uso de máscaras, multa de R$ 1.250 no caso de descumprimento e fechamento do comércio nos próximos 14 dias, quando a prefeitura deverá avaliar o comportamento epidemiológico do município

A decisão foi tomada, após o Covidômedro, um hotsite criado para monitorar os casos de Covid-19 na cidade, registrar aumento de infectados e óbitos, e ter seu status mudado de “moderado” para “alto risco”.

Outro caso recente que também causou polêmica nas redes foi a reabertura do Beto Carrero World, parque temático em Penha, a 8 km do aeroporto de Navegantes, em Santa Catarina.

Após publicar a foto de uma de suas atrações, o parque foi criticado nas redes pelas imagens em que se viam pessoas sem máscaras e em pequenas aglomerações.

Em nota, o parque se defendeu afirmando que tudo dependia do ângulo em que as imagens eram vistas. “Pode parecer que a arquibancada está cheia, mas na verdade os shows estão funcionando com apenas 30% da lotação”, explicou a administração no perfil do parque nas redes.

O Beto Carrero World, que estava fechado desde o final de março, reabriu suas portas no último dia 11 de junho.

Apesar de todas os cuidados e da necessidade urgente de movimentar o setor turístico, novamente, nada disso passou ainda, não é hora de viajar e #FicaemCasa.

E quem não pôde se adaptar ao clichê do “se reinventar”, ainda guarda o gosto da última viagem feita há mais de quatro meses.

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O turismo sobe a Serra

Depois do vai e vem de medidas, a região da Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, voltou a ter bandeira laranja, quando há uma propagação média do vírus, acompanhada de alta capacidade do sistema de saúde. No último dia 15 de junho, a região havia sido classificada com bandeira vermelha (alto risco de contaminação).

Bondinhos aéreos de Canela, na Serra Gaúcha (foto: Eduardo Vessoni)

Após a reabertura em 9 de maio, o complexo Bondinhos Aéreos, em Canela, voltou a fechar em 16 de junho, após aumento de casos de coronavírus no estado. No entanto, o atrativo anunciou nesta semana que voltará a funcionar a partir deste final de semana, em horário reduzido.

Em publicação recente, a administração dos Bondinhos Aéreos divulgou que conta com Selo de Turismo Responsável e Seguro, lançado pelo Ministério do Turismo e validado pela Anvisa, “para assegurar a turistas que o local que estão visitando está cumprindo os requisitos de higiene e prevenção contra a Covid-19”.

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