Entre os mais de mil concorrentes de 102 países, o fotógrafo brasiliense Márcio Cabral, 49 anos, é o único brasileiro na lista de vencedores do prêmio internacional Epson International Pano Awards 2023.
A foto noturna desse também geógrafo foi feita com uma câmera especial de astrofotografia na Chapada dos Veadeiros, Patrimônio Mundial pela UNESCO, no nordeste de Goiás, a 220 km de Brasília.
Seu registro em 360º, feito em junho do ano passado, tem como motivo principal uma das plantas símbolos do Cerrado, a “sempre-viva”, popularmente, conhecida como “chuveirinho”, iluminada em primeiro plano com uma lanterna projetada especialmente para espeleologia e com uma luz “mais macia”, a fim de compensar a escuridão do céu.
E como se já não sobrasse beleza natural naquela área protegida de 240 mil hectares, onde Márcio faz esse tipo de imagem, desde 2014, ele ainda finalizou a foto vencedora com uma exibida Via Láctea sobre a silhueta dos morros da região.
Assim como Márcio conta para o Viagem em Pauta, os desafios são muitos nesse tipo de trabalho, como os diversos cliques necessários para montar a imagem final e condições favoráveis, como ausência de vento e céu sem nuvens.
“Além de ser uma foto planejada, você precisa ter sorte e muita paciência”, diz.
Especializado em fotos noturnas ou em locais com baixa luminosidade, Cabral também tem no portfólio registros potentes em locais como as cavernas de Terra Ronca, em Goiás, na lagoa interior do Abismo Anhumas, em Bonito (MS), no Salar do Uyuni, na Bolívia, e nas patagônias argentina e chilena.
O Epson International Pano Awards foi criado em 2009 pelo fotógrafo de paisagem australiano David Evans, com o objetivo de divulgar e premiar fotografias panorâmicas, “um nicho sem grandes investimentos”, segundo a organização da premiação.
Não é o 1º prêmio internacional
Mais do que prêmios, o fotógrafo Márcio Cabral gosta mesmo é dos registros de grandes proporções (e, dessa vez, não estamos nos referindo à monumentalidade da chapada goiana).
Em 2020, ele entrou para o Guinness World Records como autor da maior imagem panorâmica subaquática já feita, um registro na impactante Lagoa Misteriosa, no Mato Grosso do Sul. Originalmente, a foto abaixo tem 826.9 megapixels de resolução, o que equivale a uma imagem com 14,46 metros de largura e 7,23 metros de altura.
Na época, a pós-produção exigiu um trabalho de 30 horas diante do computador para “costurar”, digitalmente, as 28 imagens que formam a foto recordista (bem mais tempo do que os breves minutos que precisou para mergulhar nessa lagoa de profundidade desconhecida).
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“O mais difícil foi juntar tudo em um mesmo arquivo, pois os registros foram feitos exatamente no mesmo local para evitar erro de paralaxe [quando o que se vê no monitor não é o mesmo enquadramento do que o registrado pela câmera], explica Márcio, considerado também o primeiro fotógrafo a desenvolver panoramas 360º subaquáticos em cavernas de água doce.
Com o título, o fotógrafo quebrou seus próprios recordes: o de 2015, também no Guinness, pela maior imagem panorâmica subaquática do mundo, na nascente do Rio Sucuri (MS), com 220 megapixels, e outro, em 2016, com uma panorâmica de 495 megapixels.
Sua meta agora é “romper a barreira de um gigapixel, assim que novos modelos de câmeras acima de 50 megapixels forem lançados no mercado”.
Com mais de 150 prêmios no currículo, Márcio tem prêmios em concursos como o MIFA (Moscow International Photo Awards) e Memorial Maria Luisa (Espanha). Já a versão 180° da foto na Chapada dos Veadeiros rendeu também prêmios no Oasis Photo Contest (Itália), na categoria Vegetal, no Muse (EUA) e foi finalista no Sony World Photography Awards.
Lagoa sem fim
Localizada em Jardim, município vizinho a Bonito (MS), a Lagoa Misteriosa é uma das dez cavernas brasileiras mais profundas, segundo o Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil, compilado pela SBE (Sociedade Brasileira de Espeleologia).
Para chegar lá é preciso fazer uma trilha curta com acesso fácil por uma escadaria de madeira com 190 degraus que termina dentro daquelas águas, extremamente, cristalinas.
O atrativo pode ser observado em flutuações com snorkel e colete salva-vidas ou em mergulhos com cilindro que vão de oito a 60 metros, de acordo com a certificação do mergulhador.
Até onde se conseguiu chegar, o Capão Assombrado, o nome original da lagoa, tem 220 metros de profundidade que rasgam paredões verticais que se dividem em poços paralelos que vão dar no desconhecido.
Dali para frente, ninguém sabe, ninguém viu.
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