Vila fantasma, na Argentina, perde seu último morador


Pablo Novak era a única prova viva dos anos de ouro da região de Epecuén, hoje, uma vila fantasma a cerca de 600 quilômetros da capital argentina, na província de Buenos Aires.

Morto no final de janeiro deste ano, vítima de um AVC, aos 93 anos, Novak foi o último habitante desse antigo balneário que ficou debaixo d’água com a trágica inundação que tragou a região, em 1985.

foto: Creative Commons

Era ele que recebia turistas, fotógrafos e cineastas curiosos naquele cenário desolador de construções abandonadas, automóveis enferrujados e caules de árvores mortas, pintados pela alta concentração de sal daquelas águas.

“Eu o vi nascer e o vi morrer. Eu tenho sorte de morrer aqui”, contou o próprio Novak, em depoimento para o documentário ‘The Last Man of Epecuén’ (‘O Último Homem de Epecuén’, em português), inédito no Brasil.

imagem: 52 DOCUMENTARY / Reprodução

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Epecuén: a vila fantasma

Tinha tudo para dar certo. E deu.

Epecuén contava com águas de poderes medicinais, recebia milhares de turistas durante o verão e era atendida por linhas férreas que despejavam visitantes, na alta temporada.

A principal atração dessa vila, a sete quilômetros de Carhué, era a Laguna Epecuén, cujas águas termais colocaram o destino na rota do turismo medicinal, a partir dos anos 20 do século passado. Com uma pequena população de pouco mais de mil pessoas, o destino chegava a receber 25 mil turistas de Buenos Aires e da vizinha Carhué, durante o verão argentino.

Mas as mesmas águas que deram fama a esse balneário tragaram o local, em novembro de 1985, com o rompimento dos muros de contenção, após um temporada de chuvas fortes.

foto: termasdecarhue.gov.ar/Reprodução

A população foi evacuada, sem nenhuma fatalidade, e a vila ficaria debaixo d’água, a quase 10 metros de profundidade, por mais de vinte anos.

Hoje, a ‘Pequena Mar del Plata’, como o destino um dia foi chamado, é uma espécie de Pompeia argentina, em referência à cidade italiana que ficou sob as cinzas do vulcão Vesúvio.

As águas da Laguna Epecuén eram conhecidas não só pelas propriedades curativas de problemas nos ossos e articulações mas também pelo alto grau de salinidade, comparadas ao Mar Morto, no Oriente Médio.

O povoado só voltaria a ser visto, em ruínas, a partir do recuo de suas águas, em 2013.

Pablo Novak, em Epecuén (foto: Creative Commons)

Até o início deste ano, quem chegava a Epecuén era recebido por seu único morador (e por seu cãozinho Chozno), quem fazia questão de mostrar, orgulhoso, o que sobrou da inundação.

Após o incidente, o solitário morador se recusou a deixar a vila e morava em uma casa simples, equipada com um fogão a lenha em que preparava a própria comida e que, até pouco tempo atrás, não tinha nem eletricidade.

Declarado Embaixador Turístico e Cultural de Epecuén, em 2020, Novak deixou 10 filhos, 25 netos, 8 bisnetos e uma vila inteira que, por fim, parece morrer.

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