Cidade de Goiás, histórica e psicodélica, é cenário da nova série da Netflix

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140 km de Goiânia, a Cidade de Goiás já foi cenário romântico de novela, drama adolescente no cinema e inspiração para a poesia de Cora Coralina.

Mas nas últimas semanas, seu casario histórico ganhou novos tons. Coloridos e psicodélicos.

Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, o destino se transformou na fictícia Progresso da nova série brasileira ‘Boca a Boca’, produção original da Netflix e com direção de Esmir Filho e Juliana Rojas.

Ao longo de seis (frenéticos) episódios, a dupla conta a história de um município conservador do interior do Brasil que tem a rotina virada de cabeça para baixo quando uma infecção contagiosa transmitida pelo beijo atinge seus adolescentes.

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montagem com fotos de Pablo Regino/MTur e Vanessa Bumbeers/Netflix

Em ‘Boca a Boca’, a arte não imita a vida, mas a profetiza.

Gravada antes do início da pandemia de coronavírus, a série é uma espécie de metáfora do que viria pela frente. E não estamos falando apenas de um grupo assustado pela epidemia de uma doença desconhecida que se torna o único assunto de uma comunidade inteira.

Bastou um ‘beijaço geral’, dosado com algumas gotas da droga que circulou em uma rave na noite anterior, para o moralismo de Progresso ser sacudido por discussões como negação da doença, desinformação, fake news e polarização de ideias.

Chega a causar risos nervosos quando Guiomar, personagem da atriz Denise Fraga, esfrega álcool gel nas mãos antes de começar seu temido discurso com um dos alunos da escola-modelo em que é diretora.

Tudo isso, em uma produção que começou a ser desenhada dois anos antes da pandemia.

Denise Fraga em cena de ‘Boca a Boca’, nova série da Netflix (foto: Vanessa Bumbeers/Divulgação)

A trama teve a maior parte das cenas ambientadas em endereços históricos de Goiás Velho, como o destino também é conhecido. Diante das câmeras passam atrativos como a Igreja do Rosário, a Praça do Coreto e o icônico Rio Vermelho.

Primeira capital de Goiás e antiga região do ouro, no século 18, a cidade é conhecida pelo casario colonial recortado pelo calçamento de pedras.

Em entrevista para o Caderno 2 do jornal O Estado de São Paulo, o diretor Esmir Filho explica que escolheu Goiás Velho como principal cenário pois procurava “uma cidade de arquitetura colonial (…) que tivesse a história do Brasil estampada”.

Vista da fachada do Museu Casa Cora Coralina, na Cidade de Goiás (foto: Eduardo Vessoni)

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“Não quero gota, quero você todo gostoso na garrafa”

Um dos destaques é a fotografia instagramizada que pinta não só os sonhos de quem foi contaminado mas também a festa que acontece em um parque dos arredores de Progresso, cuja projeção mapeada em construções e árvores dá tons de videoclipe à série.

As direções de arte e fotografia, assinadas respectivamente por Frederico Pinto e Azul Serra, abusam também da luz negra que cria o ambiente neon das cenas nas salas de isolamento dos infectados.

É como jogar tinta nova sobre uma comunidade moralista, homofóbica e polarizada.

O ritmo da série é conduzido pela trilha sonora de Gui Amabis, que vai do hibridismo musical da Trupe Chá de Boldo, com seu pertinente ‘Na Garrafa’, ao eletrônico viajante da banda sueca Art Fact.

Assim como descreve o próprio Esmir Filho, o clima musical vai além dos sintetizadores e “é repleto de cordas, berrantes e percussão”.

Cena de ‘Boca a Boca’ (foto: Vanessa Bumbeers/Divulgação)

O synth-pop-rural da trilha, como define o diretor, é formado também por artistas como a brasileira Letrux e a polonesa Mary Komasa, cuja faixa ‘Come’ estava indicada no roteiro antes mesmo da aquisição dos direitos de uso.

‘Boca a Boca’ é uma viagem psicodélica feita de histórias construídas com música, luz e uma dose indigesta de problemas ultrapassados que a humanidade ainda não conseguiu resolver.

E para espantar tudo isso, vale até uma versão eletrônica do Boi da Cara Preta, outro achado na trilha sonora da série.

VEJA FOTOS

* crédito das imagens: Vanessa Bumbeers/Netflix – Pablo Regino/MTur – Eduardo Vessoni/Viagem em Pauta

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1 Comentário

  1. Mais do mesmo. Produto industrializado Netflix. Direto da linha de produção norte americana (aqui com “flavorizante” de frutas locais).

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