‘Tensão contínua’: David Schurmann fala sobre danos em veleiro

* Atualizado em 26 de outubro, às 12:12

Segundo informou a assessoria, a tripulação do ‘Voz do Oceano’ conseguiu completar a travessia até Whangare, na Nova Zelândia. No total, nessa última etapa, foram navegadas 640 milhas, em 178 horas monitoradas pela equipe de terra e do Rescue Coordination Centre New Zealand (RCCNZ). O veleiro Kat está será retirado da água para perícia e reparo das avarias.

Em depoimento por email para o Viagem em Pauta, na manhã desta quarta-feira, 25 de outubro, David Schurmann deu mais detalhes sobre os danos causados ao veleiro Kat.

Na madrugada do último dia 21 de outubro, a tripulação do projeto ´Voz dos Oceanos’ foi pega de surpresa por um mar revolto e ventos extremamente fortes, a dois dias da terra mais próxima da então localização do veleiro dos Schurmann, a Nova Zelândia.

Mesmo partindo a tempo de escapar do primeiro ciclone previsto na região de Fiji, no Pacífico Sul, a tripulação não pôde evitar a entrada permanente de água numa área interna próxima à quilha da embarcação, um veleiro de 24 metros de comprimento e mais de seis metros de largura.


Apesar do vazamento estar sob controle, após a instalação de bombas extras para retirada de água, os ventos fortes causaram também rasgos em uma das velas da embarcação, que está sendo monitorada 24 horas pela equipe de terra e pelo RCCNZ, centro de resgates marítimos na Nova Zelândia.

“Acionar o Rescue Coordination Centre New Zealand é uma questão delicada, pois você está considerando o pior dos cenários: a possibilidade de abandonar o barco para ser resgatado no meio do oceano”, avalia David.

Em situações extremas como essa do último sábado, David, que segue em terra dando apoio aos embarcados, explicou para a reportagem que a tripulação é dividida em turnos, “atenta 24 horas por dia às condições da embarcação e de navegação”, além de deixar em posição estratégica equipamentos como botes, coletes e até alimentação.

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David Schurmann (foto: Divulgação)

“O foco, nesse momento, é o bem-estar e a segurança de todos. Estão concentrados principalmente nas tarefas de navegação que, numa situação como essa, é naturalmente mais estressante ou delicada”, descreve.

David contou também que, apesar de terem deixado Fiji com antecedência para escapar dos ciclones, a intensificação dos ventos e, consequentemente, o mar revolto, deram origem ao Lola, ciclone de categoria 5, com ventos que podem chegar a 300 km/h.

Na tarde desta quinta-feira, a Família Schurmann informou nas redes sociais que o vazamento de água no veleiro permanece, mas continua administrável e, caso permaneça o cenário de mar mais calmo, em poucas horas a tripulação deve entrar em águas neozelandesas, onde o veleiro será retirado da água para identificação do ocorrido, em Whangarei.

“Aproveitamos para agradecer a todos pela torcida, apoio, orações e energia positiva. Estamos otimistas e na expectativa de compartilhar ótimas notícias até o fim do dia. Abraços de toda tripulação da Voz dos Oceanos”, finaliza a nota de atualização.

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Veleiro Kat (foto: Divulgação)

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Não é a primeira vez

Segundo David, embora a entrada de água no veleiro seja uma novidade para essa família que veleja há quase 40 anos, a mesma região do incidente já deu outro susto nos Schurmann, em 1991, durante a sua primeira volta ao mundo.

“Quando navegávamos da Nova Zelândia para Tonga, tivemos um dos maiores desafios da nossa história. Uma tempestade se formou com uma velocidade e força surpreendentes e nosso veleiro perdeu os dois mastros”, descreve David, um dos filhos do casal Heloísa e Vilfredo Schurmann.

Na época, o veleiro chegou a ficar à deriva até que a situação fosse administrada para um retorno seguro da tripulação, cuja travessia, que em condições normais levaria três dias, consumiu 11 dias de trabalho.

Veleiro Kat, nas Ilhas Malvinas (foto: Divulgação)

David lembra outro perrengue da tripulação, em 2019, quando Wilhelm e Erika enfrentaram sozinhos ondas acima de 10 metros, durante navegação para as ilhas Falklands/Malvinas.

“Até então, tinha sido o maior desafio superado pelo veleiro Kat que, apesar das avarias, aportou com segurança para os devidos reparos. Estamos confiantes que muito em breve teremos vencido mais esse desafio”, completa.

Em sua opinião, nenhuma decisão deve ser tomada com pânico e, antes de seguir viagem, é preciso avaliar variantes como a localização do veleiro e as condições ao redor.

“Precisa ser um momento de extrema cautela e máximo de calma com a análise de riscos. A tensão é contínua, pois a situação pode se agravar a qualquer momento”, diz David, para quem, nessas horas, “a serenidade e a calma são fundamentais”.



Mudanças de rota (e de clima)

Apesar do Kat contar com alta tecnologia e essa expedição ser a mais científica da carreira da família, as mudanças climáticas têm interferido na navegações dos Schurmann.

“Saímos da rota do ciclone, mas a temporada de tormentas está começando bem mais cedo por lá, assim como estamos vendo em outras regiões por onde passamos”, explica.

David contou também que, em pouco mais de dois anos, o capitão Wilhelm tem tido, constantemente, que repensar a rota do projeto ‘Voz dos Oceanos’, mas “até aqui, tem conseguido driblar essas antecipações que seguramente resultam das mudanças climáticas”.

A próxima etapa da Voz dos Oceanos está programada para começar no primeiro semestre de 2024.

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