“Tem coisa melhor do que pandeiro e filme de bangue-bangue?”, perguntou Jackson do Pandeiro quando Fernando Faro questionou a origem do nome artístico do músico, em 1973.
José Gomes Filho, seu nome de batismo, era tão fã de Jack Perrin, ator de filmes de faroeste, que acabou ganhando dos amigos de infância o apelido de Jack.
O complemento “do Pandeiro” era só uma questão de tempo.
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Lá na roça
Jackson e a família deixaram sua terra natal, Alagoa Grande, para começarem uma vida nova em Campina Grande, a Rainha da Borborema.
Se o próprio teto na Paraíba não prometia nenhuma expectativa de ver sair dali um dos maiores ritmistas do Brasil, o entorno seria sua maior inspiração.
Na segunda metade da década de 30, em Campina Grande, não só trabalhou em padarias e fez apresentações descompromissadas em feiras mas também se envolveu com músicos de cabarés da cidade, onde começou a ter contato com sax, pandeiro, banjo, violão, cavaquinho, pandeio e até piano.
A consagração viria no luxuoso cabaré Eldorado, inaugurado nos anos 30 e com estrutura que resistiria até 2014, quando a fachada desabou.
Ao mesmo tempo que a mãe Flora Mourão protagonizava rodas de coco com o zabumbeiro João Feitosa, de quem Jackson já tinha “decorado a pancadaria que o homem fazia”, Alagoa Grande vestia-se de cultura com as novidades que vinham sobre trilhos.
No início do século 20, a região do Brejo paraibano, a cerca de 130 km de João Pessoa, era um polo econômico nordestino, impulsionado pela chegada do trem que passava a estreitar as relações do interior com as grandes cidades, e um importante centro cultural.
“Ali tinha muitos fazendeiros e proprietários de engenho, interessados em promover cultura”, explica o economista Martinho Campos, em referência ao intercâmbio que a região fazia com o Recife, de onde chegavam livros, jornais, música e companhias artísticas.
E é nesse novo cenário que o até então Zé Jack vai se (in)formando.
Jack Son
Antes de se mandar para o Rio com a futura esposa Almira Castilho, em 1954, e já com fama entre os músicos da região, ainda na década de 40, Jackson passaria pela capital da Paraíba.
Na Rádio Tabajara conheceu Rosil Cavalcanti, com quem formou a dupla caipira cômica Café com Leite, a partir de 1947, e quem mais tarde seria o compositor que mais colaboraria com letras para Jackson.
Em julho do ano seguinte, a Rádio Jornal do Commercio, no Recife, era inaugurada com uma equipe que incluía o maestro Nôzinho, o ex-regente Severino Araújo e Jackson, como ritmista da Jazz Paraguary.
É nessa época que lhe acrescentaram um “son” ao nome e José Gomes Filho passava a ser, definitivamente, Jackson do Pandeiro. Afinal de contas, já tinha Zé demais na Paraíba.
O jovem de origem humilde não ganharia apenas dinheiro. Ganharia um nome e, em breve, fama.
Umbigada: da roça à fama
Já em Pernambuco, seu nome virou notícia na terra do frevo, não parou de ser escalado para programas da Rádio Jornal do Commercio e começou a circular entre nomes como Luís Gonzaga, o sanfoneiro Sivuca e a recém-contratada radioatriz e rumbeira Almira Castilho.
A estreia da revista carnavalesca ‘A pisada é essa’, em 1953, não só marcaria a chegada do Carnaval, mas toda a carreira de Jackson.
O coco “Sebastiana” de Rosil Cavalcanti virou febre, em pleno Carnaval das marchinhas, mesmo antes de ser gravada em disco, e a fama se consolidou com a participação da radioatriz Luiza de Oliveira, “caricata e gordinha”, nas palavras do próprio músico.
Logo após o refrão “a, e, i o, u, ipslone”, Luiza levou ao pé da letra o trecho “ela veio com uma dança diferente e pulava que só uma guariba”, engatando uma umbigada que surpreenderia o parceiro de apresentação.
O músico não deixou por menos e devolveu à altura, no melhor estilo Jackson do Pandeiro. “Deixa ela vir de volta que eu vou lascá-la na umbigada. E quando ela veio de lá, eu me preparei de cá e bati o pé no chão, castiguei a mulher na umbigada”, como descreve o próprio no programa Ensaio, da TV Cultura.
A fama foi tamanha que Luiza, exausta com as dezenas de apresentações em um único dia, foi substituída por Almira. Juntos, viram sensação e alvo do olheiro Genival Macedo, da gravadora Copacabana, pela qual sairia o primeiro álbum de Jackson do Pandeiro, no final de 1953. O segundo saiu logo na sequência, no início de 1954, com outras duas faixas que também fariam sucesso, “1×1” e “A mulher do Aníbal”.
Surgiria ali não apenas a nova parceira musical mas também a esposa por mais de uma década. Jackson e Almira se casariam em 1954.
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O rei do ritmo
A imagem de Jackson do Pandeiro associada ao carnaval se consagra com o “Vou Gargalhar”, de 1954, assinado por Edgar Ferreira. A letra era a resposta que aquele baixinho feioso tinha para dar aos que não acreditavam que ele pudesse sambar (e cada vez mais longe de casa).
Acompanhado de orquestra, o intérprete garantia a saída da escola, em uma metáfora de si mesmo no trecho “quem disse que a escola não sai / não tem cabeça pra pensar / a escola vai sair / o povo da vila vai sambar / vou gargalhar / quá qúá quá quá”.
O reinado estava concedido, em discos como “Os donos do ritmo” (1957), “Reinado de momo” (1960) e “Sua Majestade, o rei do ritmo” (1960).
Sua voz se tornava onipresente, mas sua imagem ainda era uma incógnita no Rio, sede da gravadora que pressionava pela aparição do novo ídolo nacional.
Jackson já não podia mais adiar e decidiu, por fim, ir para o “sul”, desde que não tivesse que embarcar em um avião. O Rio de Janeiro já não podia viver sem “Forró de Limoeiro”, “Sebastiana” e “Dezessete na corrente”, hits da época.
A viagem de navio durou três dias e a carreira da dupla, mais de uma década. O que deveriam ser 10 dias de visita, se tornaram três meses de estadia na capital fluminense.
A temporada carioca incluiria compra de imóveis, um contrato temporário na Rádio Nacional, programa na TV Tupi (‘Forró do Jackson’) e participação em filmes como a chanchada ‘Cala a boca, Etelvina’ (1959), com Dercy Gonçalves no papel principal.
Mas na segunda metade da década de 60, a ema gemeria triste sobre um tronco de juremá.
Da fama ao caos
“Papai se metera numa sinuca”, com uma aventura amorosa com a afilhada Cleonice, acionando o pavio do rojão que terminaria na separação de Jackson e Almira, em 1967, três anos depois do casal formalizar a união no civil. Como lembra o próprio Jackson, “a dupla durou enquanto durou o casamento: 12 anos”.
Em janeiro de 1968, já com a mulher que seria sua última esposa, Neuza Flores, Jackson sofre um acidente na avenida Brás de Pina. A colisão de sua Rural Willys contra um poste imobilizaria seus dois braços por cerca de sete meses.
“O irmão dele chegou até a levar cesta básica pra gente e eu fiz toda a fisioterapia nele. Eu pensava que ele nunca mais ia tocar pandeiro na vida”, conta a viúva, durante entrevista em seu apartamento, no bairro Bancários, na capital paraibana.
Voltaria. Aos trancos e barrancos, mas voltaria.
O relógio corria contra o tempo e a dívida com Jackson do Pandeiro deveria ser paga o quanto antes. Em breve, o rei deixaria de usar a coroa, definitivamente.
Na última década da carreira, Jackson parecia retornar à cena musical mais como apoio do que como o protagonista dos anos anteriores. É nessa época que empresta sua percussão em trabalhos de artistas como Clara Nunes, Raul Seixas, Hermeto Pascoal e Gilberto Gil, com quem se apresentou pela primeira vez, em 1976, um duelo no teatro Gláucio Gil com direito à ‘Sebastiana’ e um solo de pandeiro em ‘Aquele abraço’.
“E então ficou Jackson. Do Pandeiro, certo?”, como explicaria o próprio, quando lhe perguntaram certa vez sobre a origem do nome.
Jackson deixaria de tocar seu pandeiro, definitivamente, no dia 10 de julho de 1982, em Brasília.
Gostei do resumo da vida do José Gomes Filho, o Jackson do Pandeiro desde o seu nascimento em 31/08/1919 até o seu óbito em 10/07/1982 em Brasília/DF. Alguém saberia informo onde Jackson do Pandeiro, o José Gomes Filho foi registrado? A cidade é o Estado da Federação?