E eu vou acender agora

Não importa para onde ou o tempo de viagem. Só precisa ficar bem claro “daqui quanto tempo” vou poder fumar, depois que as portas se fecharam em automático.

O mundo aeroportuário tem paraísos esfumaçados que ando colecionando numa lista de aeroportos que compreendem esse vício catastrófico.

Em Dublin, chega-se a uma cabine para fumantes, assim que deixamos o avião. Uma dose antecipada de fumaça para encarar abordagens em guichês que carimbam passaportes de estrangeiros recém-posicionados em filas longas que terminam em atendentes mal-humorados.

Em Israel, cabines estreitas e pouco convidativas para ficar por muito tempo permitem fumar na sala de espera. Aliás, nada naquela nação convida para ficar por muito tempo, como se vê nesse relato sobre visitar aquele país.

LEIA TAMBÉM: “[CRÔNICA]: Eles não moram mais aqui”

foto: William Warby/Flickr-Creative Commons

E o terminal de embarque em Roma então? Numa sequência bem pensada, tem uma cafeteria, uma pizzaria, uma loja de vinhos em taças e, ao fundo, uma ampla sala para fumantes.

E meu acompanhante de viagem querendo visitar o Coliseu! Recusei, pedi outra pizza e acendi mais um cigarro gostoso depois da comida.

Entre uma visita apressada só para dar check e acender mais um, eu fico com a segunda opção.

Até uma viagem para a China se encurta com uma parada na África do Sul.

Na última vez que estive ali, um bar no segundo andar da sala de embarque vendia bebidas alcoólicas que podiam ser tomadas entre cinzeiros lotados de bitucas, em um ambiente que parecia boate decadente do centro de São Paulo. No lugar do gelo seco, fumaça de cigarro.

Dubai nunca esteve nos meus planos de viagem, mas o aeroporto está de parabéns, viu? Na sala de embarque, um salão patrocinado por uma marca de cigarro tinha até um aquário projetado na parede e uma escultura com águas que escorriam atrás da gente. Cheguei em Taiwan como se tivesse feito o trecho São Paulo-Diadema.

Nos aeroportos estadunidenses, nem pensar. O assunto já está resolvido há muito tempo. O Brasil seguiu no mesmo rumo.

Em Papeete, no Taiti, sugeri que companheiros de viagem entrassem primeiro na sala de embarque para que eu pudesse aproveitar, do lado de fora, para fumar o maior número possível de cigarros, antes de começar a longa viagem de retorno para casa.

Consumidos meus bastões nicotinosos, cruzei o raio-x e a checagem de documentos. Lá dentro, ao lado do portão de embarque indicado no meu bilhete, um imenso jardim, com cadeiras, mesinhas e… cinzeiros. Todos lotados até a boca.

O quiosque em frente vendia até cerveja.

Naquela noite não me importaria de ter atraso na partida. Teria até acendido mais um.

foto: @sage_solar/Flickr-Creative Commons
* Neste link, você confere todas as crônicas publicadas no site

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*